O próximo ano deverá manter a trajetória de recuperação do rendimento real das famílias, à semelhança do que acontece de forma progressiva desde o segundo trimestre do ano. As últimas previsões do Banco de Portugal apontam para uma aceleração do rendimento disponível real dos agregados em 2024 para 3,4%, após um aumento de 0,9% este ano.
"Esta evolução reflete aumentos do emprego e dos salários nominais - progressivamente menores - e o crescimento mais contido dos preços", indica o supervisor no boletim económico de dezembro, acrescentando que as medidas previstas no Orçamento do Estado vão também contribuir para o aumento do rendimento disponível. Já a taxa de poupança deverá aumentar no próximo ano, com um consumo mais moderado a que se junta uma elevada carga de incerteza.
E uma das variáveis que mais incerteza levanta é o emprego que, nas palavras do próprio governador, Mário Centeno, poderá ser o "dique" a segurar a economia ou a "primeira peça do dominó" a cair. Esta foi a mensagem do início de outubro, mas mantém-se atual.
A realidade é que os últimos dados publicados pelo INE mostram que o rendimento das famílias persiste desde o segundo trimestre em trajetória de alguma recuperação do choque de preços.
Depois de ter voltado a subir em termos reais 0,6%, nos meses da primavera, o rendimento disponível bruto per capita - ajustado para contabilizar efeitos de bens e serviços fornecidos pelo Estado ou por instituições particulares, como a comparticipação de medicamentos - voltou no terceiro trimestre a crescer acima da inflação. A subida foi desta vez de 0,7% em termos reais.
A variação real do rendimento disponível bruto ajustado per capita é vista como a mais adequada em contexto de inflação elevada.
Sem este ajustamento, o rendimento disponível bruto per capita cresceu 1,8% no terceiro trimestre. A evolução espelha sobretudo o efeito dos salários e dos rendimentos de propriedade.
A escalada inicial da inflação sem ajustamento equivalente nas remunerações e nos restantes rendimentos resultou numa quebra de rendimentos reais sentida desde abril do ano passado, apenas interrompida no final de 2022 com a ajuda das medidas extraordinárias de apoio que incluíram a chamada "meia pensão" e o "cheque" de 125 euros para quem recebia então até 2.700 euros mensais brutos. As medidas contribuíram para elevar então os rendimentos em 0,8% em termos reais. No primeiro trimestre deste ano, porém, os efeitos não persistiram, e o rendimento voltou a quebrar em 0,5% em termos reais.
Preços sobem, mas menos
O ritmo de aceleração dos preços parece, em definitivo, ter ficado para trás, mas ainda não teremos uma queda generalizada, como aconteceu com os produtos energéticos. O ano de 2024 trará um crescimento mais contido dos preços, apesar de ainda se poderem verificar valores mais elevados do que este ano.
Será um efeito temporário, sobretudo devido a efeitos base ao longo do ano. A inflação - medida pelo índice harmonizado de preços no consumidor (IHPC) - deverá chegar ao final do ano na casa dos 3%, sendo que o índice de preços no consumidor (exclui as despesas dos turistas) será mais baixo.
Apesar disso, a variação dos preços continuará a acelerar, nem que seja pelo fim do IVA zero. Mas, por exemplo, as operadoras de telecomunicações já anunciaram subida de preços em linha com a inflação, tal como as fornecedoras de eletricidade.