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Receio de mais austeridade pode travar consumo

Antecipando um ano mais duro em 2014, os portugueses podem preferir poupar em vez de gastar, assumem economistas. Também Passos Coelho já o admitiu, ao falar de um possível "choque de expectativas".

Bloomberg
28 de Novembro de 2013 às 08:00
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Em dois trimestres consecutivos de crescimento positivo, o consumo privado desempenhou um papel importante na dinamização da economia. No entanto, os economistas antecipam um regresso a variações negativas no último trimestre do ano, justificado com o receio dos portugueses da aplicação das medidas austeridade inscritas no Orçamento do Estado para 2014.

"Apontamos para que a economia regresse aos crescimentos consistentes (mas moderados) sobretudo a partir da Primavera de 2014, já que até lá a procura interna será condicionada, quer pelo referido anúncio, quer pela entrada em vigor, no início de 2014, das novas medidas de consolidação orçamental constantes do OE 2014", apontava a 14 de Novembro, Rui Bernardes Serra, do Departamento de Estudos do Montepio.

O racional é simples. Antecipando um ano mais duro em 2014, os portugueses preferem poupar em vez de gastar. Mesmo o primeiro-ministro assume o risco relacionado com as expectativas. "Sabemos a influência que as expectativas desempenharam na composição recessiva que enfrentámos em 2012", afirmou Pedro Passos Coelho, em Outubro. "Numa altura em que estamos nas vésperas de apresentar o OE para 2014, que traduz os compromissos que assumimos com os nossos credores internacionais [...], a execução das medidas previstas pode gerar novo choque de expectativas", disse na altura.

Esse efeito de que falava o primeiro-ministro não é novo. No final de 2012, o anúncio de agravamento da Taxa Social Única (TSU) dos trabalhadores – e consequente redução da TSU paga pelas empresas – lançou uma onda de choque sobre a confiança de consumidores e empresários. Em Junho de 2012, os empresários esperavam uma quebra de 16,7% do investimento nesse ano. Meses mais tarde, já depois do anúncio da TSU, protestos nas ruas, tensão na coligação e anúncio de um "enorme" aumento de impostos, os empregadores já esperavam uma quebra de 26,4%.

Dinheiro para gastar, mas que não foi gasto

Em Setembro do ano passado, Passos Coelho já tinha reconhecido que a poupança tinha crescido em 2012 a uma dimensão que o Governo não esperava, prejudicando as receitas fiscais. "O que se passou é que muita gente tinha dinheiro para gastar e não gastou."

Paula Carvalho, economista-chefe do BPI, considera "pouco provável" uma repetição do cenário vivido no final de 2012, "pois o rendimento disponível deverá aumentar por comparação com o ano passado". Contudo, "não parecem existir condições para aumentos expressivos da despesa das famílias, dada a perspectiva de redução continuada dos rendimentos para uma franja significativa da população (funcionários públicos e pensionistas) inerente à execução do OE2014", diz. Ou seja, as famílias deverão continuar a "privilegiar a poupança e adiar consumos".

Há duas semanas, Filipe Garcia admitia que a aplicação de nova austeridade era um obstáculo importante à retoma. "Assumindo que o contexto internacional seja favorável, os riscos estão relacionados com 2014, nomeadamente com a aplicação do Orçamento 2014, com ou sem alterações que decorram do Tribunal Constitucional, que pode influenciar negativamente a procura interna", escreveu no Massa Monetária. "Em Junho terminará o programa de ajustamento e a forma como o País se financiará a partir daí, seja com outro "resgate", com um plano cautelar, ou algo diferente, também influenciará de forma importante o comportamento do PIB.

A concretizar-se essa retracção do consumo, difícil de quantificar, poderão ficar em causa as novas estimativas do Governo para a evolução do PIB e até mesmo do défice orçamental. Por outro lado, o final de ano muito negativo em 2012 poderá resultar num melhor comportamento da economia no mesmo trimestre de 2013 devido ao impacto do efeito base.

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