Notícia
Porque é que a Alemanha arrasta os pés?
Os alemães têm fama de ser um povo ponderado e decidido. A ajuda à Grécia parece ter-lhes baralhado os atributos. Começaram por dizer "não", depois sim e agora recuaram para o "talvez". A causa próxima está a noroeste do país, na Renânia do Norte-Vestfália. Mas há mais.
Os alemães têm fama de ser um povo ponderado e decidido. A ajuda à Grécia parece ter-lhes baralhado os atributos. Começaram por dizer “não”, depois “sim” e agora recuaram para o “talvez”. A causa próxima está a noroeste do país, na Renânia do Norte-Vestfália. Mas há mais.
O Estado-federado com maior população da Alemanha, cerca de 17 milhões, e que acolhe algumas das empresas que estão na base do sucesso económico do país, como a Thyssen Krupp, vai a votos 9 de Maio – precisamente quando se comemora o “Dia da Europa”.
As sondagens antecipam há largas semanas a derrota da actual coligação entre a CDU e FDP, precisamente a mesma que governa o país. Caso este cenário se confirme, para além perderem o Governo do maior Estado federado, os democratas-cristãos de Angela Merkel (na foto) e os liderais, liderados por Guido Westerwelle, perderão também a maioria que detêm no Bundesrat, a câmara alta do país, onde têm assento os primeiros-ministros dos “Länders”. Ou seja, em tudo o que tiver de subir ao “Senado”, o Governo federal ver-se-á obrigado a negociar com a oposição, designadamente com os socialistas do SPD.
Para muitos observadores, é o calendário eleitoral alemão que está a fazer mais curto-circuito no discurso político em Berlim. Até porque a ajuda à Grécia – frequentemente apresentada como a factura que os contribuintes alemães se preparam para pagar pelos excessos dos gregos – tem sido usada e abusada como arma de arremesso em Dusseldorf, capital da Renânia do Norte.
Ainda hoje, Guido Westerwelle, ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, afirmou que "fazer promessas de apoio concreto demasiado cedo só terá por efeito retirar a pressão sobre a Grécia".
Uma lista longa de "ses"
Mas há outras razões que explicam porque a Alemanha tem arrastado os pés. Nenhum partido, da esquerda à direita, gosta da ideia de salvar um membro do euro que está como está porque reiteradamente não cumpriu as regras do clube, para além de ter “maquilhado” os números do seu endividamento, enganando-se a si e aos outros.
Mas se salvar o euro, e garantir a estabilidade do euro, significa ajudar a Grécia, a Alemanha vai fazê-lo. “Em último recurso”, como repetidamente tem avisado a chanceler Angela Merkel.
Porquê? Por que é a pressão dos mercados financeiros e as taxas de juro estratosféricas que estão a ser reclamadas para financiar o Estado helénico – muito mais do que a pressão que alguma vez pudessem ser exercida pelos Governos do euro, mesmo o alemão – que está a forçar a Grécia a fazer as reformas necessárias para por alguma ordem nas finanças públicas, não obstante os protestos que diariamente saem para as ruas.
Berlim não quer, portanto, que uma ajuda internacional prematura – e que deverá ser acompanhada de taxas de juro em torno de 5%, menos de metade dos 11% que já hoje foram exigidos para empréstimos a dois anos à Grécia – aborte os esforços de Atenas e signifique um regresso à estaca “quase-zero”.
Nada de queimar etapas
A Alemanha, que se comprometeu a garantir a “fatia-leão” de um empréstimo à Grécia – cerca de 20%, mais de 8 mil milhões de euros, na hipótese de a Zona Euro emprestar neste ano 30 mil milhões – vai também ter de aprovar no Parlamento um aumento das suas necessidades de financiamento para encaixar a “factura” grega.
E todos os partidos, incluindo os da coligação orçamental, já deram sinais de que vão querer debater o assunto sem queimar etapas – não haverá, pois, nenhum “fast-track”, até porque a decisão tem de ser bem fundamentada para não deixar pontas soltas que possam alimentar as contestações que prometem dar entrada no Tribunal Constitucional.
Tudo somado, a Alemanha só deverá dar luz verde a um empréstimo na segunda semana de Maio. Até lá, é provável que a Grécia recorra à ajuda internacional, mas terá de se virar primeiro para o Fundo Monetário Internacional (FMI), que deverá disponibilizar entre 10 e 15 mil milhões de euros neste ano.
Em contrapartida, porém, o Fundo está a exigir que a Grécia se comprometa, preto no branco, com o que tenciona fazer nos próximos três anos, no âmbito de um memorando de entendimento que enquadrará os termos e as condições de um empréstimo a médio prazo.
Entre outros, o FMI estará a exigir que o Governo prolongue até 2013 o corte previsto para este ano do equivalente a um salário mensal para os mais de 700 mil funcionários públicos gregos. Atenas resiste e também arrasta os pés. É que mais convulsão social pode significar abrir uma crise política e um enredo ainda mais dramático para o povo grego.
O Estado-federado com maior população da Alemanha, cerca de 17 milhões, e que acolhe algumas das empresas que estão na base do sucesso económico do país, como a Thyssen Krupp, vai a votos 9 de Maio – precisamente quando se comemora o “Dia da Europa”.
Para muitos observadores, é o calendário eleitoral alemão que está a fazer mais curto-circuito no discurso político em Berlim. Até porque a ajuda à Grécia – frequentemente apresentada como a factura que os contribuintes alemães se preparam para pagar pelos excessos dos gregos – tem sido usada e abusada como arma de arremesso em Dusseldorf, capital da Renânia do Norte.
Ainda hoje, Guido Westerwelle, ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, afirmou que "fazer promessas de apoio concreto demasiado cedo só terá por efeito retirar a pressão sobre a Grécia".
Uma lista longa de "ses"
Mas há outras razões que explicam porque a Alemanha tem arrastado os pés. Nenhum partido, da esquerda à direita, gosta da ideia de salvar um membro do euro que está como está porque reiteradamente não cumpriu as regras do clube, para além de ter “maquilhado” os números do seu endividamento, enganando-se a si e aos outros.
Mas se salvar o euro, e garantir a estabilidade do euro, significa ajudar a Grécia, a Alemanha vai fazê-lo. “Em último recurso”, como repetidamente tem avisado a chanceler Angela Merkel.
Porquê? Por que é a pressão dos mercados financeiros e as taxas de juro estratosféricas que estão a ser reclamadas para financiar o Estado helénico – muito mais do que a pressão que alguma vez pudessem ser exercida pelos Governos do euro, mesmo o alemão – que está a forçar a Grécia a fazer as reformas necessárias para por alguma ordem nas finanças públicas, não obstante os protestos que diariamente saem para as ruas.
Berlim não quer, portanto, que uma ajuda internacional prematura – e que deverá ser acompanhada de taxas de juro em torno de 5%, menos de metade dos 11% que já hoje foram exigidos para empréstimos a dois anos à Grécia – aborte os esforços de Atenas e signifique um regresso à estaca “quase-zero”.
Nada de queimar etapas
A Alemanha, que se comprometeu a garantir a “fatia-leão” de um empréstimo à Grécia – cerca de 20%, mais de 8 mil milhões de euros, na hipótese de a Zona Euro emprestar neste ano 30 mil milhões – vai também ter de aprovar no Parlamento um aumento das suas necessidades de financiamento para encaixar a “factura” grega.
E todos os partidos, incluindo os da coligação orçamental, já deram sinais de que vão querer debater o assunto sem queimar etapas – não haverá, pois, nenhum “fast-track”, até porque a decisão tem de ser bem fundamentada para não deixar pontas soltas que possam alimentar as contestações que prometem dar entrada no Tribunal Constitucional.
Tudo somado, a Alemanha só deverá dar luz verde a um empréstimo na segunda semana de Maio. Até lá, é provável que a Grécia recorra à ajuda internacional, mas terá de se virar primeiro para o Fundo Monetário Internacional (FMI), que deverá disponibilizar entre 10 e 15 mil milhões de euros neste ano.
Em contrapartida, porém, o Fundo está a exigir que a Grécia se comprometa, preto no branco, com o que tenciona fazer nos próximos três anos, no âmbito de um memorando de entendimento que enquadrará os termos e as condições de um empréstimo a médio prazo.
Entre outros, o FMI estará a exigir que o Governo prolongue até 2013 o corte previsto para este ano do equivalente a um salário mensal para os mais de 700 mil funcionários públicos gregos. Atenas resiste e também arrasta os pés. É que mais convulsão social pode significar abrir uma crise política e um enredo ainda mais dramático para o povo grego.