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2009 - O empresário que gosta de ganhar tempo a investigar

À crise económica, juntou-se a política. Sócrates perde maioria absoluta, mas ganha eleições. Temem-se eleições antecipadas. A guerra com Cavaco alimenta a ideia. O desânimo chega ao mundo dos negócios. "Ano infernal", dizem. O céu demora a chegar.

27 de Junho de 2013 às 00:01
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Figura do ano

 

Luís Portela é o rosto do primeiro medicamento com patente portuguesa. É o rosto do antiepiléptico Zebinex. O rosto da Bial. Luís Portela foi o primeiro num ano de derrotas. Foi a perseverança num ano de falta de firmeza. Foi o exemplo positivo num ano negativo. Foi o homem 2009.

 

Luís Portela não se importou de perder mais de uma década a investigar. Portela sabia que ia ganhar. O pedido de patente vem de 1996. O medicamento chegou em 2009. Não se importou de gastar cerca de 300 milhões de euros. Portela sabia que ia ganhar. No final de 2009, já tinha encaixado dois terços do investimento neste produto. Portela acertou.

 

Defensor do pensamento a longo prazo, o empresário fez da Bial a empresa portuguesa que mais investiu em I&D em 2009. No site da Bial, a cronologia não desmente a aposta. "1993: início das actividades de Investigação e Desenvolvimento". A investigação traz novos medicamentos. E a Bial esperava avançar com dois novos produtos na segunda década do século XXI. O primeiro, para a doença de Parkinson, deveria estar preparado perto de 2013. A investigação também dá autonomia, o que facilita a internacionalização.

 

São várias as actividades no estrangeiro por parte da Bial, desde o Panamá à Suíça passando por Angola ou pela Costa do Marfim. O Negócios fez uma analogia com um nome de peso internacional quando o elegeu para personalidade do ano, quando o considerou um herói. Em 2008, Barack Obama dizia "Yes, we can", ali em Washington. Em 2009, Álvaro Portela também podia dizer "Yes, we can", ali na Trofa. Porque Luís Portela sabia que ia ganhar.

 
O que veio a seguir

Depois de lançado noutros mercados, o primeiro medicamento português só chegou a Portugal em 2010. Os próximos medicamentos da Bial, um antiparkinsoniano e um anti-hipertensor, viram os seus lançamentos adiados por dois anos devido aos cortes do preço dos medicamentos em 2011. Deverão vir para os mercados ainda esta década. "As empresas que melhor desenham uma visão de longo prazo, são aquelas que de forma mais consistente têm ganho capacidade competitiva, num mundo cada vez mais concorrencial", diz Luís Portela em 2013, agora sem funções executivas na Bial. O CEO é o filho, António Portela. O nome Portela continua lá, desde a fundação, em 1927. Nesse caso, com Álvaro. Muito mudou desde aí. Mas Luís Portela continua a ser o rosto do primeiro medicamento com patente lusa.

 

Facto nacional

O Face Oculta começa a destapar a cara. Ou não

 

Corria o mês de 2009 quando a Polícia Judiciária lançou uma investigação a quadros superiores de grandes empresas nacionais, com destaque para a REN, a Galp ou a Refer. Em causa estava um alegado esquema de favorecimento de um grupo empresarial de Aveiro, liderado por Manuel Godinho. O vice-presidente do BCP e antigo ministro, Armando Vara, viu-se envolvido no caso e trouxe perplexidade para o País e uma alegada surpresa para o próprio.

 

Em discussão estiveram, também, as escutas que ligavam Vara a Sócrates. Apesar das densas nuvens, o Face Oculta foi uma face visível da Justiça em 2009.  

 
O que veio a seguir

O julgamento do Face Oculta já teve cerca de 150 sessões. Já foram ouvidas mais de 300 testemunhas. No processo que investiga o alegado favorecimento ao grupo de Manuel Godinho nos negócios com empresas públicas, há vários arguidos de renome: Vara, o antigo presidente da REN, José Penedos, e o seu filho, Paulo Penedos. Além do processo principal, o Face Oculta deu origem a outros processos, como o Taguspark. Neste caso, o tribunal já chegou a uma conclusão e absolveu os arguidos.

 

Facto internacional

A popularidade olímpica de Lula

 

O Brasil conseguiu. Vai ser o palco dos Jogos Olímpicos de 2016.  A vitória serviu para mostrar a popularidade "invulgarmente elevada" de Lula da Silva. O presidente era bem visto entre os brasileiros e entre os líderes mundiais. Apesar dos salpicos que o continuavam a molhar, vindos do caso Mensalão. Foi com Lula que o Brasil ganhou força nos mercados. A agência de "rating" Moody's seguiu-se às suas congéneres e considerou a sua dívida um investimento de qualidade. Tanto investimento que estão marcados vários eventos desportivos à escala global. 

 
O que veio a seguir

Os grandes eventos programados já se começaram a realizar. Decorre, em 2013, a Taça das Confederações. Ao mesmo tempo, acontecem protestos da sociedade civil nas ruas. Contra aumentos nos transportes, mas também contra a corrupção e contra os gastos excessivos com os eventos desportivos. Dilma Rousseff, a sucessora de Lula, está a perder popularidade. Para o ano, há o Mundial. Em 2016, vêm os Jogos Olímpicos. O Brasil vai conseguir?

 

Imagem do ano

De costas voltadas mas de olhos bem abertos

 

Não estavam de costas voltadas, porque assim não se conseguiam observar. E o olhar é essencial quando se vive num ambiente de "cortar à faca". Em 2009, vivia-se um ambiente de acusações, nomeadamente de que um pudesse espetar a faca nas costas do outro. Belém e São Bento estavam distantes mas, mais que isso, Cavaco e Sócrates estavam em lados opostos.

 

O caso das alegadas escutas do primeiro-ministro ao Presidente foi o tiro de partida para o duelo que começou silencioso. A crise política institucionalizou-se e acabou por pesar nas eleições legislativas que ocorreram em 2009. Sócrates foi a eleições e perdeu a primeira maioria absoluta do PS. Para Sócrates, foi o ano de derrotas eleitorais e de dúvidas judiciais.

 

Foi um ano negativo para o chefe de Governo. E isso foi um ponto em comum com o chefe de Estado. Para Cavaco, foi o ano das dúvidas pelo caso BPN e das acções que vendeu com um grande lucro, e o ano em que os índices de popularidade caíram para níveis nunca antes vistos. "Cavaco tem eleições em 2011, Sócrates também poderá vir a ter, caso acene a bandeira da ingovernabilidade", antecipava o Negócios.

 
O que veio a seguir

Sócrates foi mesmo a eleições em 2011. E perdeu. O antigo primeiro-ministro ainda atribui culpas a Cavaco Silva. O ainda Presidente da República é um dos principais alvos das críticas de José Sócrates no programa de opinião na RTP1. Agora que São Bento tem novo ocupante, Passos Coelho, as relações com Belém são menos tensas. As costas não estão voltadas. Há até quem fale numa proximidade excessiva.

 

Negócio do ano

Emparque atreve-se a comprar gigante espanhola

 

A Iberia fundiu-se com a British Airways, a Ongoing tentou comprar a TVI, a EDP beneficiou com as ajudas de Obama às eólicas, a Quimonda entrou em processo de insolvência. Houve vários negócios, mas nenhum teve o simbolismo como a compra da Cintra Aparcamientos pela portuguesa Emparque. A empresa adquiriu uma congénere três vezes maior do que ela. Foi um passo de Golias num ano em que o dinheiro era do tamanho de David. Foi necessário juntar-se a parceiros e a bancos para o conseguir. Mas conseguiu.

 

O presidente, Pedro Mendes Leal, dizia que a compra tinha como um dos objectivos a melhoria da qualidade dos parques de estacionamento subterrâneos em Espanha. "São bastante inferiores aos parques portugueses". Criou-se o quarto maior gestor europeu de parques de estacionamento. Num País habituado a que sejam os espanhóis a comprar, a surpresa foi a entrada de uma portuguesa em Espanha.

 
O que veio a seguir

A conquista pelo mercado espanhol continua. Em Espanha, a Cintra passou a Empark. Perdeu um "que" mas ganhou um "k". Cerca de 80% dos resultados (EBITDA) da Empark vêm de Espanha. Os dados são do presidente do grupo, que,  actualmente, concorre a um outro negócio de 102 milhões de euros, em parques de aeroportos espanhóis. A empresa também olha para a aquisição de parques em estações ferroviárias. "Este contrato não será de vida ou de morte para nós. Não vamos crescer muito por causa deste caso concreto", disse o presidente ao Negócios em 2013. Além de Espanha e Portugal, a Empark está em Andorra, Turquia e Reino Unido. Em 2011, quis crescer mais ao fazer parte de um dos consórcios na luta pela ANA. Saiu derrotado. Nem sempre se ganha. 

 

 

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