Os portugueses estão a cumprir de forma "muito ligeira" a orientação do Governo que determina a permanência em casa. Num relatório divulgado esta terça-feira, quatro dias depois da entrada em vigor do novo confinamento, a consultora PSE, que mede o índice de mobilidade dos portugueses, conclui que a redução das deslocações verificada nos últimos dias "nada se compara com o primeiro "lockdown" que sofremos", em março e abril do ano passado.
Esta segunda-feira, a primeira do confinamento, a mobilidade caiu 10% face a um dia "normal", ressalva a PSE. Cerca de 41% dos portugueses ficaram, efetivamente, em casa. Um valor que compara com os 65% registados no primeiro confinamento do ano passado. O índice de mobilidade foi de 80, ou seja, "apenas 20 pontos menos do que a mobilidade normal (100) que existia antes desta pandemia". Na prática, "o dia 18 janeiro teve uma mobilidade apenas um pouco menor, comparativamente a um dia útil normal pré-covid".
"Não é expectável que o crescimento pandemia seja travado sem conseguirmos um índice de mobilidade igual ou inferior a 60% da mobilidade 'normal', anterior ao covid. E, consequentemente, cerca de 50% da população em confinamento em casa", aponta o relatório da PSE.
Os dados do relatório são "claros ao indicar que os portugueses cumpriram de forma muito ligeira a orientação para 'ficar em casa' deste o início do novo estado de emergência".
A 11 de janeiro, por exemplo, havia 30,5% da população em casa, "um nível apenas 5 pontos percentuais acima dos valores pré-pandemia". Já na passada sexta-feira, o primeiro dia do confinamento, 39,5% dos portugueses ficaram fechados no domicílio. "Tanto na sexta-feira como na segunda-feira, a quantidade de pessoas em circulação foi de 60%. Isto significa que as medidas retiraram apenas 10 pontos percentuais. da população em circulação até ao momento. E aumentaram o Confinamento em Casa de 31% no dia 11 de janeiro para 41% no dia 18 de janeiro".
Antes do anúncio das novas medidas, a quantidade de população em circulação na via pública era, em média, de 70% nos dias úteis e 40% aos fins-de-semana. Mesmo depois de António Costa ter anunciado o encerramento do comércio, entre outras restrições, "a quantidade de população em circulação não se alterou em comparação com os fins-de-semana anteriores".
As medidas "tiveram impacto apenas na redução da mobilidade em dias úteis, mas de forma ténue".
De acordo com os especialistas da PSE, "controlar a mobilidade tem impacto, quer na incidência, mas também na mortalidade", de acordo com vários estudos científicos. Para que o indice de mobilidade seja mais reduzido, "o fecho das escolas é a medida imprescindível", defende a consultora.
Para controlar a mobilidade e, desta forma, o agravamento da pandemia, "seria necessário controlar o stock de pessoas que se movimenta diariamente de forma persistente, pelo menos durante um a dois meses, com um confinamento mínimo de 50% da população, ou um índice de mobilidade de 60% (que agora está nos 80%)", ressalva o estudo.
A PSE antecipa ainda que o agravamento das medidas anunciado esta segunda-feira pelo primeiro-ministro terá "pouco impacto na mobilidade". Entre as novas restrições está a proibição de vender bens ao postigo, a interdição de permanecer em espaços públicos, como jardins e o impedimento de circular entre concelhos ao fim de semana. "Durante o fim de semana a população já está naturalmente mais confinada", ressalva a análise da PSE. O que significa que as novas medidas "deverão reduzir as distâncias percorridas pelos portugueses (pela inibição de circulação entre concelhos), mas poderão manter a mesma quantidade de pessoas em circulação num menor período de tempo e ainda promover a concentração de pessoas até às 13h00, durante os fins de semana", conclui-se.