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Incêndio de Monchique renova o sexto pior registo para a floresta portuguesa

O fogo que deflagrou a 3 de Agosto já terá queimado uma área próxima de 20 mil hectares, substituindo o registo de há 15 anos naquele concelho algarvio. No topo da lista surgem os incêndios da Lousã e Pedrógão em 2017.

Pedro Noel da Luz
António Larguesa alarguesa@negocios.pt 07 de Agosto de 2018 às 16:00

O incêndio que lavra há cinco dias na serra de Monchique ainda não está controlado, mas já figura na lista dos maiores de sempre em Portugal, encabeçada pelo fogo iniciado a 15 de Outubro de 2017 na Lousã e que queimou mais de 55 mil hectares de floresta.

 

As autoridades públicas e os especialistas em fogos florestais, como Paulo Fernandes, professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, calculam que este fogo no Algarve, que até ao momento provocou 30 feridos e obrigou a retirar mais de 250 pessoas das zonas afectadas, já tenha queimado uma área próxima dos 20 mil hectares.

 

A confirmar-se nos números finais, este registo ultrapassa o de Setembro de 2003 na mesma localidade algarvia, que afectou mais de 16 mil hectares e que era até agora o sexto maior de sempre, de acordo com os dados compilados pelo Negócios a partir do estudo "Climatologia Sinóptica dos Grandes Incêndios Florestais em Portugal Continental" (e que não somam com fogos simultâneos em territórios vizinhos).

 

Aproxima-se dos valores negros para a floresta verificados na Chamusca nesse mesmo ano de má memória (21.897 hectares), em Agosto do ano passado em Arouca (quase 22 mil hectares) e do iniciado em Julho de 2012 em Cachopo, no concelho de Tavira (24.843 hectares). Mais distantes ficam os registos cimeiros de quase 30 mil hectares na tragédia de Pedrógão Grande, em Junho de 2017, e o de quatro meses depois na Lousã, no distrito de Coimbra.

 

A Procuradoria-Geral da República informou esta terça-feira, 7 de Agosto, que o Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Faro vai "investigar os incêndios de Monchique, para determinar as suas causas e o seu eventual enquadramento legal". Fonte oficial da Polícia Judiciária confirmou também à agência Lusa que a polícia "está a investigar" o incêndio, no âmbito desta investigação titulada pelo DIAP desta capital de distrito.

 

Ao jornal Público, o engenheiro florestal Paulo Fernandes (UTAD) sublinhou que "este incêndio estava escrito que ia acontecer". Num estudo elaborado por vários especialistas da Universidade de Lisboa, devido à acumulação de combustível naquele grande área rural, Monchique surgiu precisamente como o local com maior probabilidade de voltar a ser afectado por um mega incêndio (mais de dez mil hectares queimados) no Verão de 2018.

 

Grandes incêndios devastam floresta portuguesa

 

Apesar de não ultrapassarem, por regra, 0,5% do total das ocorrências, os estudos mostram que, consistentemente ao longo dos últimos 20 anos, os grandes incêndios florestais, como são catalogados os fogos que registam uma área ardida igual ou superior a 100 hectares, foram responsáveis por mais de 75% da área ardida no país, como demonstrou o artigo "GIF em Portugal: da história recente à actualidade", publicado por António Bento-Gonçalves e Flora Ferreira-Leite, ambos da Universidade do Minho, e por Luciano Lourenço, da Universidade de Coimbra.

 

No ano passado, que os dados do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) mostram ter sido o pior de sempre para a floresta nacional – foram consumidos pelas chamas 442.418 hectares, metade dos quais durante o mês de Outubro – houve 214 fogos que entraram nessa categoria de grandes incêndios e vitimaram 412.781 hectares de espaços florestais, subindo a percentagem para 93% do total da área ardida.

 

Até à década de 1970 os incêndios "não eram um problema-chave para a floresta" e só em 1986, em Vila de Rei, há registo de uma ocorrência com mais de dez mil hectares. O que mudou? O abandono rural transformou estas terras em "paisagens propensas à ocorrência de incêndios de grande intensidade, devido aos elevados níveis de biomassa, acumulados ao longo dos anos e prontos para alimentar fogos catastróficos durante o Verão", lê-se num outro estudo, de 2013, sobre "os GIF como resultado das perturbações nos regimes de fogo no mundo mediterrâneo".

Cadastro "piloto" a ritmo lento


Na sequência dos mortíferos incêndios no distrito de Leiria, o Governo avançou em Agosto de 2017 com o projecto-piloto do cadastro simplificado em dez concelhos fustigados pelas chamas. Entre os objectivos fixados estava o de ajudar a gerir melhor o ordenamento do território e as florestas, permitindo igualmente responsabilizar os proprietários pelo mau uso ou pelo abandono e falta de limpeza das terras.

 

Porém, a três meses de terminar o prazo de conclusão deste projecto, que está a decorrer até 30 de Outubro, só pouco mais de um terço (37,7%) dos terrenos se encontram registados nos municípios abrangidos: Pedrógão Grande, Castanheira de Pêra, Figueiró dos Vinhos, Góis, Pampilhosa da Serra, Penela, Sertã, Caminha, Alfândega da Fé e Proença-a-Nova.

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