Notícia
FMI: Bancos europeus podem ter de assumir perdas de 200 mil milhões
FMI e instituições europeias andam de candeias às avessas por causa da contabilização das perdas associadas aos títulos de dívida soberana detida pelos bancos europeus.
A confusão saltou para as primeiras páginas da imprensa económica internacional depois de, no fim-de-semana, a directora-geral do Fundo Monetário Internacional, e antiga ministra francesa das Finanças, ter alertado para a necessidade “urgente” de recapitalizar os bancos europeus.
Christine Lagarde teme que a banca do velho continente seja em breve varrida por um furacão semelhante ao que, em 2008, deitou por terra gigantes da banca norte-americana. Em vez de subprime (crédito imobiliário de alto risco), o furação chama-se agora dívida soberana europeia. Como contabilizar as perdas potenciais é o pomo da discórdia.
Deste lado do Atlântico, os alertas de Lagarde caíram mal, com vários responsáveis a lembrarem que os testes de stress conduzidos recentemente mostraram que, salvo raras excepções, os bancos europeus estão bem capitalizados e preparados para acomodar perdas.
FEEF a financiar directamente bancos? "Nein"
Ainda assim, o “Financial Times” noticiava ontem que a Autoridade Bancária Europeia (EBA), o regulador do sector, estaria a estudar a possibilidade de ser criado um sistema de garantias para as emissões de dívida dos bancos, suportado pelo Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), o que exigiria um considerável alargamento dos poderes do "fundo de socorro" do euro que está neste momento em revisão.
Actualmente, os bancos não podem receber ajuda financeira, a não ser que o respectivo país seja enquadrado por um programa de assistência financeira internacional. É o caso de Portugal, onde o pacote de 78 mil milhões de euros inclui uma "reserva" de 12 mil milhões para eventuais recapitalizações através da entrada do Estado nos bancos.
No rescaldo das decisões da cimeira europeia de 21 de Julho, está em processo de aprovação a possibilidade de o FEEF financiar, de novo através dos Governos, recapitalizações de bancos de países que não tenham necessariamente pedido ajuda externa. Bancos alemães, franceses, espanhóis e italianos podem ser candidatos, mas, em contrapartida, terão de passar a ter o Estado como accionista.
A proposta da EBA já esbarrou na oposição declarada da Alemanha: se o fundo europeu tiver de ajudar bancos, nunca o fará directamente, mas sempre através dos Governos, repetiu ainda ontem o porta-voz do Executivo de Angela Merkel.
Mas o problema de fundo persiste: quão resistentes estão, de facto, os bancos europeus para lidar com as perdas potenciais – e as já reflectidas nos preços de mercado – das compras que fizeram de dívida dos Estados do euro.
Reestruturação grega
O problema mais imediato prende-se com a dívida grega, em processo de reestruturação. Alguns dos bancos europeus signatários da proposta do Instituto Internacional de Finanças (IFF), que envolve a troca de títulos de dívida grega por obrigações de maturidade mais extensa, estão a reflectir perdas médias de 50% (ajustando aos preços de mercado secundário – “mark to market”), mas outros apenas 21% (a perda média prevista na proposta do IIF – “mark to model”).
Os bancos que optaram por assumir perdas de 21% dizem que os dados do mercado secundário não são “fiáveis”, porque a liquidez é muito reduzida nesta altura. Mas o presidente do IASB, organismo que define as regras contabilísticas para o sector financeiro, disse na semana passado ao “FT” que é difícil acreditar que um investidor esteja disposto a comprar dívida grega com apenas 21% de desconto face ao valor nominal.
Hoje, o “Financial Times” cita hoje duas fontes do FMI segundo as quais os cálculos da instituição apontam para que os bancos europeus possam ter de acomodar perdas de ordem dos 200 mil milhões de euros relacionadas com a desvalorização dos títulos de dívida dos três países já intervencionados (Grécia, Portugal e Irlanda), bem como os de Itália, Espanha e Bélgica.
Escreve o jornal que isso significaria varrer 10% a 12% do valor dos capitais próprios dos bancos.
Os cálculos do FMI usam os CDS’s, os seguros contra incumprimento, para estimar as perdas no valor de mercado dos títulos soberanos, o que é abertamente contestado pela ministra espanhola das Finanças.
“A abordagem do FMI é enviesada: apenas capta o lado mau”, critica Elena Salgado, que acusa o FMI de não ter, simultaneamente, contabilizado a valorização dos títulos alemães, por exemplo.
Ainda ao “FT”, Salgado diz que “esta é a segunda vez” que o FMI erra grosseiramente nos cálculos, referindo o relatório de Outubro de 2009, no qual o Fundo estimara que a banca europeia apenas havia abatido 347 mil milhões de dólares de um universo de 814 mil milhões de perdas potenciais.
Christine Lagarde teme que a banca do velho continente seja em breve varrida por um furacão semelhante ao que, em 2008, deitou por terra gigantes da banca norte-americana. Em vez de subprime (crédito imobiliário de alto risco), o furação chama-se agora dívida soberana europeia. Como contabilizar as perdas potenciais é o pomo da discórdia.
FEEF a financiar directamente bancos? "Nein"
Ainda assim, o “Financial Times” noticiava ontem que a Autoridade Bancária Europeia (EBA), o regulador do sector, estaria a estudar a possibilidade de ser criado um sistema de garantias para as emissões de dívida dos bancos, suportado pelo Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), o que exigiria um considerável alargamento dos poderes do "fundo de socorro" do euro que está neste momento em revisão.
Actualmente, os bancos não podem receber ajuda financeira, a não ser que o respectivo país seja enquadrado por um programa de assistência financeira internacional. É o caso de Portugal, onde o pacote de 78 mil milhões de euros inclui uma "reserva" de 12 mil milhões para eventuais recapitalizações através da entrada do Estado nos bancos.
No rescaldo das decisões da cimeira europeia de 21 de Julho, está em processo de aprovação a possibilidade de o FEEF financiar, de novo através dos Governos, recapitalizações de bancos de países que não tenham necessariamente pedido ajuda externa. Bancos alemães, franceses, espanhóis e italianos podem ser candidatos, mas, em contrapartida, terão de passar a ter o Estado como accionista.
A proposta da EBA já esbarrou na oposição declarada da Alemanha: se o fundo europeu tiver de ajudar bancos, nunca o fará directamente, mas sempre através dos Governos, repetiu ainda ontem o porta-voz do Executivo de Angela Merkel.
Mas o problema de fundo persiste: quão resistentes estão, de facto, os bancos europeus para lidar com as perdas potenciais – e as já reflectidas nos preços de mercado – das compras que fizeram de dívida dos Estados do euro.
Reestruturação grega
O problema mais imediato prende-se com a dívida grega, em processo de reestruturação. Alguns dos bancos europeus signatários da proposta do Instituto Internacional de Finanças (IFF), que envolve a troca de títulos de dívida grega por obrigações de maturidade mais extensa, estão a reflectir perdas médias de 50% (ajustando aos preços de mercado secundário – “mark to market”), mas outros apenas 21% (a perda média prevista na proposta do IIF – “mark to model”).
Os bancos que optaram por assumir perdas de 21% dizem que os dados do mercado secundário não são “fiáveis”, porque a liquidez é muito reduzida nesta altura. Mas o presidente do IASB, organismo que define as regras contabilísticas para o sector financeiro, disse na semana passado ao “FT” que é difícil acreditar que um investidor esteja disposto a comprar dívida grega com apenas 21% de desconto face ao valor nominal.
Hoje, o “Financial Times” cita hoje duas fontes do FMI segundo as quais os cálculos da instituição apontam para que os bancos europeus possam ter de acomodar perdas de ordem dos 200 mil milhões de euros relacionadas com a desvalorização dos títulos de dívida dos três países já intervencionados (Grécia, Portugal e Irlanda), bem como os de Itália, Espanha e Bélgica.
Escreve o jornal que isso significaria varrer 10% a 12% do valor dos capitais próprios dos bancos.
Os cálculos do FMI usam os CDS’s, os seguros contra incumprimento, para estimar as perdas no valor de mercado dos títulos soberanos, o que é abertamente contestado pela ministra espanhola das Finanças.
“A abordagem do FMI é enviesada: apenas capta o lado mau”, critica Elena Salgado, que acusa o FMI de não ter, simultaneamente, contabilizado a valorização dos títulos alemães, por exemplo.
Ainda ao “FT”, Salgado diz que “esta é a segunda vez” que o FMI erra grosseiramente nos cálculos, referindo o relatório de Outubro de 2009, no qual o Fundo estimara que a banca europeia apenas havia abatido 347 mil milhões de dólares de um universo de 814 mil milhões de perdas potenciais.