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Fidel Castro renuncia à Presidência do Conselho de Estado de Cuba

Raul Castro, irmão de Fidel e actual Presidente interino, deverá ser o escolhido para presidir ao Conselho de Estado, segundo os observadores.

19 de Fevereiro de 2008 às 08:55
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Fidel Castro renunciou à Presidência do Conselho de Estado de Cuba, anunciou hoje o diário oficial Granma na sua edição online.

"Não aspiro, nem aceitarei - repito - não aspiro, nem aceitarei o cargo de Presidente do Conselho de Estado e de comandante-em-chefe", escreveu Castro, afastado oficialmente do poder há cerca de 19 meses, devido a doença, no Raul Castro, irmão de Fidel e actual Presidente interino, deverá ser o escolhido para presidir ao Conselho de Estado, segundo os observadores.

Figura incontornável da segunda metade do século XX, Fidel Castro abordou o século XXI sem interromper as suas diatribes contra "a sociedade de consumo" ou o "imperialismo norte-americano", apresentando-se como defensor do "terceiro mundo" contra o "Norte" e dando a impressão de que, para ele, a guerra fria nunca terminou.

No passado dia 20 de Janeiro, o presidente interino e irmão do líder histórico cubano, Raúl Castro, obteve mais votos que Fidel Castro nas eleições gerais, ao ser eleito deputado com 99,4% dos votos. Fidel Castro, 81 anos, foi igualmente reeleito, mas não conseguiu superar os valores atingidos pelo irmão, conquistando 98,3% dos votos, segundo o diário cubano Granma que divulgou os resultados finais da eleição dos deputados à Assembleia Nacional e vereadores provinciais.

Depois das eleições, a nova Assembleia cubana reúne-se a 24 de Fevereiro para designar os 31 membros do Conselho de Estado (governo) e o seu presidente, cargo exercido por Fidel Castro desde 1976.

O líder histórico cubano está afastado do poder há mais de um ano devido a doença prolongada, situação que o obrigou a delegar funções no irmão Raúl, 76 anos, em Julho de 2006.

Submetido a uma operação cirúrgica, nesse mesmo ano, este mestre do discurso fluente não deixou contudo de garantir que velava por todas as decisões importantes do país pois, para ele, "os verdadeiros revolucionários nunca se reformam".

Ditador inflexível para os seus opositores, humanista revolucionário para os admiradores, é primeiro que tudo "Fidel" para os cubanos, quer os que o apoiam, quer os que o combatem, numa quase clandestinidade na ilha ou abertamente no exílio.

Ao fim de 50 anos de exercício absoluto do poder, quando em 2006 foi operado - detinha o recorde mundial na matéria -, sete em cada dez cubanos nunca conheceram outro chefe de Estado. Atípico, com a sua barba de antigo guerrilheiro, o seu uniforme, a sua boina e os célebres charutos (até 1985), este filho de um emigrante espanhol que se tornou grande proprietário agrícola foi educado nos melhores colégios de maristas e jesuítas do país.

Só na Universidade aderiu à rebelião, e depois à guerra total, até à sua tomada do poder em 1959, de armas na mão, contra a ditadura de Fulgencio Batista.

Guerreiro inveterado, os seus "mais belos anos" foram, diz ele, os 25 meses de guerrilha na Sierra Maestra (1957-1959), forjando a sua personagem de chefe militar, levado ao pico da lenda anti-imperialista com a sua retumbante vitória na Baía dos Porcos, em 1961.

Animado de uma rara convicção da sua missão histórica, Fidel Castro, que pretende inscrever o seu nome ao lado dos "grandes" da América Latina, como Simon Bolívar ou José Marti, nunca limitou a revolução cubana às costas da sua ilha, tudo fazendo, pelo contrário, para a exportar para todos os continentes.

Primeiro em armas, os seus "missionários" internacionalistas são hoje, desde a queda do comunismo europeu, cubanos de bata branca ou frente a um quadro negro: rodeado de médicos e professores revolucionários desde os primeiros tempos, Fidel Castro fez de Cuba uma excepção regional, frequentemente citada como exemplo, ao edificar um sistema de saúde e de educação que atrai milhares de jovens da América Latina e de África.

Apaixonadamente anti-norte-americano, nunca cessou de desafiar "o império" e, de facto, nenhuma das 13 Administrações que se sucederam na Casa Branca conseguiu obter dele concessões de monta em 47 anos.

Simultaneamente calculista e exaltado, capaz de cóleras homéricas, permitiu que centenas de milhares dos seus compatriotas tomassem o caminho do exílio, na sua maioria para as costas dos Estados Unidos.

Os opositores não passam, aos seus olhos, de "mercenários" de Washington, passíveis de pesadas penas na prisão. Em meio século, os seus presos políticos passaram de vários milhares para algumas centenas.

Ideologicamente arreigado - "Nunca me senti mais próximo de Marx e Engels", disse o ano passado -, Fidel Castro devota ao dinheiro um desprezo feroz e sempre lhe preferiu um igualitarismo duvidoso, a tal ponto que uma abertura "à chinesa" era tida como improvável sob a sua batuta. Praticamente só com Deus Fidel Castro procurou o compromisso.

Entre o marxismo e o cristianismo, o antigo aluno dos jesuítas fez-se advogado de um sincretismo que alimenta ainda hoje as reflexões dos teólogos da libertação, activos na América Latina.

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