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Energia verde precisa ainda de um pouco de cinzento

Por mais atractivas que sejam as renováveis, em Portugal precisam de "backup" térmico e mais portas de saída

02 de Novembro de 2010 às 15:42
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As fontes renováveis em Portugal já geraram, em alguns dias, mais de 90% da electricidade produzida no País. Isso aconteceu, por exemplo, a 3 de Abril deste ano. Mas dias como esse são excepcionais. A verdade é que hoje, porque nem sempre o sol brilha, nem o vento sopra constantemente da mesma maneira, a intermitência das energias limpas obriga o sistema eléctrico nacional a ter uma capacidade de resposta rápida.

O "backup" energético de Portugal tem assentado nas termoeléctricas a carvão e a gás natural. Combustíveis fósseis que trazem um pouco de cinzento ao quadro verde que a agenda política quer pintar ao longo dos próximos anos.

Em Portugal a meta traçada pelo Governo para 2020 prevê que as renováveis estejam a gerar 60% da electricidade e 31% da energia final (que abarca não só a electricidade que chega a nossas casas, mas também os produtos petrolíferos para os transportes, o gás para aquecimento, etc.). Para isso contribuirá um parque electroprodutor muito marcado por hídricas (9,5 gigawatts), eólicas (6,8 GW) e potência solar (1,5 GW). Mas onde também caberão várias centrais de ciclo combinado a gás, que subirão para 6,5 GW a capacidade térmica nacional em 2020.

A dez anos desse futuro mais verde, Portugal já tem em operação os ciclos combinados da Tapada do Outeiro, Ribatejo, Lares e Pego. Já licenciadas, mas sem data para arrancar, estão as centrais a gás de Sines e Figueira da Foz.

Além do reforço da potência, a abundância de recursos renováveis em alguns momentos exigirá ao País ter mais vias de escoamento dessa electricidade. O reforço das interligações com Espanha e entre Espanha e França é uma condição essencial para que Portugal possa exportar energia.

Na conferência "Electricidade Renovável", o presidente da APREN, António Sá da Costa, deixou uma interrogação ambiciosa. "E porque não 100% de renováveis?". O director geral de Energia e Geologia, José Perdigoto, sustentou que "o "mix" tem de ser equilibrado". A solução, apontou, passa por "não pôr todos os ovos no mesmo cesto".

Francisco Ferreira, da associação ambientalista Quercus, sublinhou que "temos de resolver o problema da gestão da procura", uma questão também levantada por Jorge Vasconcelos, presidente da New Energy Solutions e ex-regulador da energia. Como ter um parque eléctrico que responda bem a um consumo reduzido durante a noite e elevado durante o dia? Pôr o País a gastar menos de dia e a aproveitar melhor a energia nocturna das eólicas e hídricas pode ser um princípio de solução.



Ideias-chave

RENOVÁVEIS CRESCERÃO EM PARALELO COM AS TÉRMICAS

PROCURA VARIÁVEL PRESSIONA GESTÃO DO SISTEMA ELÉCTRICO
Um dos problemas que obrigam a uma gestão cuidadosa do sistema eléctrico é que a procura varia muito. O que Portugal consome de dia não é o mesmo que consome de noite. E a evolução económica pode fazer subir ou descer o consumo de electricidade. Daí ser necessário um leque diversificado de tecnologias de geração que tenham capacidade de resposta às flutuações.

OFERTA INTERMITENTE EXIGE SOLUÇÕES DE "BACKUP"
Do lado da oferta mora outro desafio. A energia eólica e a solar são grátis. Mas o vento não sopra sempre da mesma maneira. E o sol não está a brilhar em permanência. Essa intermitência dos recursos renováveis obriga o sistema eléctrico a ter centrais de apoio. As centrais de ciclo combinado a gás natural (CCGT) e as térmicas a carvão, sendo de elevada potência, são uma importante base de apoio.

METAS PARA 2020 PREVÊEM MAIS EÓLICA QUE TÉRMICA
Em 2020, segundo o plano traçado pelo Governo, Portugal terá 9,5 gigawatts (GW) de potência hídrica, 6,8 GW eólicos, 1,5 GW solares e 6,5 GW de capacidade térmica, onde se incluem as novas centrais de ciclo combinado mas também as termoeléctricas em carvão.





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