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Empresas e política estão em sintonia. Isso chega?
As renováveis são amigas do ambiente e dos governos. As empresas já estão nessa frequência. É um amor eterno?
02 de Novembro de 2010 às 15:13
Conferência APREN | Impactos das renováveis na economia e na investigação estiveram em debate no Museu do Oriente. |
O combate às alterações climáticas exige menos emissões de CO2. As renováveis contribuem para isso e o ambiente agradece. Os líderes políticos ficam bem na fotografia quando promovem uma economia mais verde e menos dependente de importações de combustíveis fósseis. As renováveis ajudam e os governantes agradecem. As empresas precisam de encontrar oportunidades de negócio. As renováveis estão lá e os investidores agradecem.
A aparente sintonia que as esferas política e económica manifestam em torno das renováveis permite levantar a questão: essa sincronização de agendas chega para resolver os problemas do mundo?
O presidente da APREN, António Sá da Costa, pede "transparência" quando se compara os custos das renováveis para o sistema eléctrico nacional com os custos das centrais térmicas. "A actual legislação não está correcta, não reflecte a subsidiação cruzada das fontes fósseis", apontou Sá da Costa.
O ministro da Economia, José Vieira da Silva, destacou a "muito elevada dependência externa do País em termos de energia", já que a balança de produtos energéticos apresenta de forma recorrente um défice equivalente a 2,5% a 5% do Produto Interno Bruto (PIB). Vieira da Silva garante que "as políticas públicas continuarão a ser orientadas para o reforço da componente renovável".
Solução na oferta ou na procura?
Do debate gerado na conferência promovida pela APREN, em parceria com o Negócios, saíram algumas ideias comuns. Não será a instalação sucessiva de mais potência renovável por si só que resolverá os problemas do País. Portugal precisará de mais eólicas, hídricas e centrais solares, mas também de centrais térmicas que suportem a intermitência que as fontes renováveis ainda têm. Mas será essencial o País resolver as suas ineficiências energéticas. "A procura não pode apenas ser uma declaração de intenções. Tem de ser uma coisa que entre no mercado, que ajude à gestão técnica do sistema", referiu Jorge Vasconcelos, ex-presidente da Entidade Reguladora de Serviços Energéticos. "Na iluminação pública há desperdício", apontou Francisco Ferreira, da Quercus.
No sector dos transportes a substituição de parte dos produtos petrolíferos por biocombustíveis e pelos veículos eléctricos ajudará a reduzir as emissões poluentes e a trazer mais sustentabilidade. É esse o intuito da estratégia que o Governo liderado por José Sócrates tem promovido.
Ganhos para todos?
Se hoje o consumidor de electricidade paga mais na sua factura porque as fontes renováveis têm tarifas acima dos preços de mercado, dentro de algum tempo a situação mudará. João Manso Neto, administrador da EDP, acredita que "o sobrecusto é de curto prazo", já que "as energias renováveis tendem a ficar cada vez mais competitivas".
E se isso poderá, em última análise, beneficiar o consumidor final, também dá milhões a ganhar a um leque diversificado de empresas, desde os promotores das centrais até aos bancos e seguradoras.