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Embaixador dos EUA que apoiou a selecção parte com Portugal "no coração"

Robert Sherman foge do estereótipo do típico embaixador. Fez vários vídeos a apoiar a selecção rumo à vitória no Euro. Andou de Harley Davidson no Alentejo. E mostrou o seu lado humano ao contar o seu envolvimento no "Caso Spotlight". Deixa o cargo com a entrada de Trump.

06 de Janeiro de 2017 às 13:13
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Robert Sherman desembarcou em Lisboa no dia 5 de Abril de 2014 para desempenhar as funções de embaixador dos Estados Unidos da América em Portugal. Com o fim do mandato de Barack Obama, e a chegada de Donald Trump à Casa Branca, o embaixador vai deixar o cargo no dia 20 de Janeiro.

A sua partida poderia passar despercebida, tal como acontece com inúmeros representantes diplomáticos, mas Robert Sherman ganhou notoriedade a nível nacional por altura do Euro 2016.

Por esta altura, o diplomata fez vários vídeos onde expressou o seu apoio à selecção das quinas rumo à vitória no campeonato europeu de futebol. Entretanto, também foi apanhado a conduzir uma Harley-Davidson no Alentejo, a moto rebelde por excelência. 

Agora, na hora da despedida após mais de dois anos em Lisboa, o embaixador diz que leva os portugueses "no seu coração".

"Estamos gratos pelos muitos e grandes amigos que fizemos por cá. Partimos sabendo que Portugal ficará para sempre impresso nas nossas almas, e os Portugueses ficarão bem guardados nos nossos corações", disse o diplomata num comunicado divulgado esta sexta-feira, 6 de Janeiro.

"Tem sido uma enorme honra e um grande prazer servir como embaixador dos EUA neste grande país. Eu e a Kim [a embaixatriz Kim Sawyer] estamos tristes por ver chegar o momento da partida, mas também profundamente satisfeitos com o trabalho que fizemos para fortalecer os laços entre Portugal e os EUA", escreveu Robert Sherman.

A saída do diplomata é um procedimento habitual para todos os embaixadores norte-americanos que são nomeados directamente por um determinado presidente, pois Robert Sherman é um embaixador político e não um diplomata de carreira, tal como todos os diplomatas dos Estados Unidos em Lisboa nos últimos 20 anos.

O seu convite para o cargo surgiu depois de Sherman ter apoiado a candidatura de Obama à Casa Branca, tendo angariado fundos para a campanha presidencial.

A embaixada norte-americana diz que a representação diplomática em Portugal vai ser feita pela ministra conselheira Herro Mustafa até que um novo Embaixador seja nomeado e chegue a Lisboa.

Caso spotlight

Durante a sua passagem o embaixador também mostrou o seu lado mais humano. Advogado de profissão na sua cidade natal de Boston, Robert Sherman foi um dos advogados que esteve envolvido na litigação do caso de pedofilia "Spotlight", que deu origem ao filme.

Foi o diplomata que negociou pessoalmente as indemnizações de 90 das vítimas de abusos sexuais por membros do clero.

"Quando negociamos as indemnizações para as vítimas, em 2003, eu fiz a arbitragem de 90 casos, dois por dia. E chorei todos os dias. Não é exagero. Foi todos os dias", contou ao jornal Expresso.

Mais tarde, quando o processo terminou, o embaixador confessou que sofreu um impacto "emocional". "Comecei a chorar histericamente. Percebi nessa altura o fardo emocional que aquela tragédia humana representava para mim, com tantas histórias de pessoas e de famílias desfeitas".

Empenhado na promoção do TTIP

Durante a sua estadia em Portugal, um dos pontos principais da sua agenda foi a promoção do acordo de comércio Tratado Transatlântico (TTIP) entre os Estados Unidos e a União Europeia, que tem estado a ser negociado por Washington e Bruxelas nos últimos anos.

Actualmente, persistem muitas dúvidas sobre a continuação das negociações, depois de Donald Trump ter rasgado outro acordo de comércio que envolvia os Estados Unidos e a região da Ásia-Pacífico.

Recorde-se que os dois partidos que apoiam o Governo no parlamento, o Bloco de Esquerda e o PCP, opõem-se à assinatura deste acordo. Por parte do Governo, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, disse que Portugal só assina se o acordo for "robusto e produtivo".

"O TTIP não pode implicar nenhuma redução dos padrões europeus de saúde pública, segurança alimentar, salarial ou de proteção ambiental. O acordo só vale a pena se der origem a acordo robusto e produtivo e se for benéfico para a economia orientada para a sustentabilidade e desenvolvimento", disse o ministro no Parlamento em Setembro, citado pelo Observador.

Na sua agenda também esteve o futuro da base norte-americana das Lajes, nos Açores, onde Washington tem vindo a desinvestir. "As Lajes continuam a ser um centro estratégico para os EUA e não queremos deixar a nossa presença lá", disse Robert Sherman em Novembro.

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