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Eanes afirma que Angola "muito fica a dever" ao seu ex-presidente

"Na 'contabilidade política' geral de uma Angola, de nascente independência, assoberbada por muitos anos de guerra e destruição, José Eduardo dos Santos teve um papel de relevante importância", defende antigo Chefe de Estado português.

Duarte Roriz
10 de Julho de 2022 às 14:47
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O antigo chefe de Estado português Ramalho Eanes afirmou este domingo que Angola muito fica a dever ao ex-presidente José Eduardo dos Santos, falecido na sexta-feira, pelo seu papel de "relevante importância" num país recém-independente, "assoberbado" por anos de "guerra e destruição".

Numa nota enviada à agência Lusa, o general António Ramalho Eanes recordou que conheceu o falecido chefe de Estado angolano aquando das exéquias do presidente Agostinho Neto, em 1979, e voltou a encontrar-se com ele em Luanda, em 1982, aquando da sua visita, como Presidente da República, na sequência de um convite que Agostinho Neto tinha feito em 1978, "com o propósito político de encontrar vias de normalização das relações de Portugal com Angola".

"No encontro, que, então, tivemos, impressionaram-me a sua naturalidade e o seu propósito de, com realismo, pacificar e desenvolver Angola. Mantive, com ele, uma relação relativamente cordial, que se prolongou para além do exercício da minha função presidencial. Pondo de parte tudo isso, entendo que, perante o seu falecimento, devo dizer que Angola muito lhe fica a dever", considerou o primeiro presidente português eleito democraticamente em sufrágio universal após o 25 de Abril de 1974.

"Creio bem que, na 'contabilidade política' geral de uma Angola, de nascente independência, assoberbada por muitos anos de guerra e destruição, José Eduardo dos Santos teve um papel de relevante importância, que é justo reconhecer", acrescentou.

Segundo Eanes, José Eduardo dos Santos conseguiu resolver, "com prudência e sucesso, os problemas que o chamado 'golpe Nito Alves' terá provocado no seio da elite angolana" e respondeu "com acerto político e sucesso final à guerra civil, tendo tido o mérito de defender a manutenção das Forças Armadas angolanas" com quadros provenientes do seu partido, o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), e UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola).

Eanes sublinha também que José Eduardo dos Santos "conseguiu, ainda, libertar Angola da tutela militar" de Cuba, "'desmaterializou', sem 'sobressaltos' -- o que é notável -- a sociedade angolana", liderou, "sem convulsões", a passagem de Angola do monopartidarismo para o pluripartidarismo e conseguiu ainda "responder às exigências financeiras da guerra, e gerir, com sucesso, relativo também, a difícil situação financeira do país".

O ex-presidente de Angola José Eduardo dos Santos morreu em 08 de julho, aos 79 anos, numa clínica em Barcelona, Espanha, após semanas de internamento.

O governo angolano decretou sete dias de luto nacional e declarou que pretende fazer um funeral de Estado em Luanda, decisão a que se opõe uma das filhas, Tchizé dos Santos, afirmando que essa não era a vontade do pai, e que José Eduardo dos Santos não queria ser sepultado em Angola enquanto João Lourenço estiver no poder.

Eduardo dos Santos sucedeu a Agostinho Neto como presidente de Angola, em 1979, e deixou o cargo em 2017, cumprindo uma das mais longas presidências no mundo, pontuada por acusações de corrupção e nepotismo.

Em 2017, renunciou a recandidatar-se e o atual presidente, João Lourenço, sucedeu-lhe no cargo, tendo sido eleito também pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no governo desde que o país se tornou independente de Portugal em 1975.
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