Notícia
Covid-19: Quais os custos da doença e do remédio? Empresários suecos pedem resposta alternativa
Três empresários, representantes de grandes empresas da indústria, banca e telecomunicações na Suécia, o país que até agora se destaca na Europa pela leveza das medidas de contenção do vírus, sublinham as consequências económicas que as restrições podem ter e sugerem um debate acerca de novas soluções.
A Suécia contrasta com os pares europeus na resposta que deu até agora ao vírus: as escolas não fecharam, as fronteiras também não. Mas três dos grandes empresários deste país, em declarações ao Financial Times, não se poupam no apelo a que se pensem em respostas alternativas a uma crise global que, alertam, pode trazer consequências económicas e sociais de grande gravidade.
"Há um risco: quais serão os efeitos secundários deste remédio contra os custos da doença em si. Não é um contra o outro; é tentar otimizar o impacto social", defende Johan Torgeby, CEO do banco sueco SEB.
Para o empresário sueco Jacob Wallenberg, cujo veículo de investimento da família tem ações maioritárias em subsidiárias da Ericsson e no SEB, "temos de pesar os riscos de o remédio também afetar o paciente" e "temos de nos preparar" para o amanhã: proteger os vulneráveis mas não perder de vista o impacto das medidas nos negócios, desde restaurantes de bairro às multinacionais.
A sugestão de Wallenberg é que os idosos se mantenham em quarentena obrigatória e que, paralelamente, exista uma discussão sobre como retornar a uma sociedade vibrante em termos económicos.
"As autoridades estão a trabalhar muito afincadamente para ajudar a sociedade. Não estão a olhar assim tanto mais para a frente. Não estão a ter a perspetiva de longo prazo. Isto é algo muito importante para a sociedade e para a União Europeia", afirma Wallenberg.
Henrik Henriksson, o CEO da fabricante automóvel sueca Scania, sublinha outra estratégia que lhe parece essencial: as restrições à indústria devem ser levantadas de forma coordenada, mesmo que o vírus esteja em fases diferentes na sua propagação em cada país, tendo em conta a elevada integração das cadeias de fornecimento europeias. O empresário apela, neste sentido, a uma alívio das restrições de movimento e de passagem entre fronteiras.
Henriksson e Torgerby unem-se na visão de que uma resposta coordenada deve ser aplicada de forma a que as indústrias possam voltar à atividade regular logo que seja seguro fazê-lo.
O reverso da moeda
No que toca às consequências das medidas de contenção, Wallenberg é o mais agreste nas palavras: "Não vai haver recuperação. Vai haver inquietação social. Vai haver violência. Vão haver consequências socioeconómicas: desemprego dramático. Os cidadãos vão sofrer dramaticamente: alguns morrerão, outros sentir-se-ão pessimamente". Se a crise se prolongar, o desemprego pode atingir entre 20 a 30%, e as economias podem contrair na mesma medida, acrescentou.
Henriksson projeta que, na retoma da indústria, "uma falha na coordenação (entre países) pode levar a perdas maiores em termos de emprego, com a Scania e os seus clientes a enfrentarem problemas de liquidez". As unidades da Scania, na Europa e na América Latina, pararam a produção dadas as dificuldades em obter componentes de 60 a 70 fornecedores que se espalham por Espanha, Itália e França.
No caso da banca, Torgerby diz estar preocupado que se crie uma crise na banca que acumule com a crise económica e do vírus. O regulador financeiro da Suécia recomendou aos bancos que não paguem dividendos, à semelhança do apelo que foi feito pelo homólogo norueguês ao respetivo Governo. No caso do SEB, a distribuição de dividendos fica para já adiada, de forma a poder avaliar a quantia mais adequada mais tarde. Na visão do CEO, é importante "cuidar das pessoas que estão a fornecer o dinheiro que nós concedemos", nomeadamente os investidores.