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"Ameaça à economia está no aperto adicional da concessão de crédito"

Dizem que economia está robusta, que os fundamentais estão sólidos, o crédito está a crescer e os agregados monetários também. Por outro lado a inflação quase duplicou de Agosto até agora...

18 de Março de 2008 às 18:08
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Dizem que economia está robusta, que os fundamentais estão sólidos, o crédito está a crescer e os agregados monetários também. Por outro lado a inflação quase duplicou de Agosto até agora e o ponto médio das projecções do "staff" do BCE apontam para uma inflação de 2,9% em 2008 e acima de 2% em 2009. Porque é que o BCE não está agir?

A análise económica mostra que a taxa de inflação ficará claramente acima dos 2% em 2008. Esperamos, embora não seja claro, que mais para o final do ano se aproxime dos 2%. A nossa análise monetária dá indicações claras de que há riscos ascendentes para a estabilidade de preços no médio prazo. O facto da inflação estar elevada e de se esperar que assim permaneça por uns meses é a nossa maior preocupação. Nos não estamos satisfeitos com esta situação. Ao mesmo tempo acreditamos que a actual orientação da política monetária irá contribuir para conseguirmos a estabilidade de preços no médio prazo e garante que as expectativas de inflação se mantenham bem ancoradas. No entanto, dadas as incertezas actuais vamos avaliar nos próximos meses de forma continua se a orientação das politica ainda contribuiu para conseguir a estabilidade de preços.

Em Agosto, face aos mesmos riscos as taxas iam subir. Está o BCE a evitar ser demasiado agressivo e a vir a ser responsabilizado por uma eventual recessão nos próximos meses?

As projecções do staff apontam para um crescimento mais moderado mas continuado. A taxa de crescimento em 2008 será um pouco mais baixa que em 2006 e 2007 quando tivemos taxas de crescimento acima do potencial. No entanto, temos um mandato claro que diz que o nosso objectivo principal é manter a estabilidade de preços no médio prazo. A actual orientação de política tem de ser avaliada no contexto de taxas de crescimento ainda elevadas nos agregados monetários e no crédito concedido ao sector provado. Em relação aos últimos ainda só vimos efeitos limitados do aperto das condições de concessão de crédito em certos segmentos. Temos também de considerar que apertamos as condições monetárias ao aumentarmos a taxa de curto prazo de 2% para 4% desde Dezembro de 2005.

Em Outubro disse que os impactos na zona euro viram das condições financeiras e da procura interna. A procura interna caiu no último trimestre do ano passado. O maior risco é um possível aperto das condições financeiras que afecte famílias e empresas?

Há vários factores a observar. Temos criação contínua de trabalho e os mercados esperam que isto continue, levando a uma redução adicional da taxa de desemprego. Este é um sinal positivo que contribuirá para um maior consumo privado. No entanto, ao mesmo tempo, a inflação elevada vai pesar no poder de compra dos consumidores e pode ser um entrave ao consumo privado em algumas regiões da zona euro. No entanto, também o investimento deverá continuar a crescer. Estes factores vão contribuir para o crescimento do PIB em 2008, apesar do facto que as exportações liquidas virão provavelmente a dar um menor contributo que o de 2006 e 2007, o que se deve essencialmente ao facto de alguns dos nossos principais parceiros comerciais estarem a abrandar. Sobre os movimentos das taxas de câmbio, é importante notar que a diversificação dos nossos destinos de exportação aumentou.

O principal risco para o crescimento económico é mesmo o que vai acontecer ao crescimento do crédito às famílias e empresas?

O principal risco para o crescimento económico vem do potencial impacto da turbulência nos mercados financeiros, em particular via um aperto adicional das condições de concessão de crédito. Temos no entanto de levar em linha de conta outros riscos, incluindo o aumento acentuado dos preços das matérias primas que poderá ter um efeito negativo no crescimento económico.

O que pode explicar que nos inquéritos trimestrais os bancos respondam que estão a apertar as condições de concessão de crédito, mas o crédito continue a crescer vigorosamente?

O credito continua a crescer. No que conseguimos ver, não foi afectado pela turbulência. Até agora o aperto das condições não assim tão significativo, mesmo quando comparamos com a situação que tivemos em 2001. É surpreendente ver que o crescimento do crédito os sector empresarial não financeiro está a crescer a 14% em termos anualisados. No fundo, isto pode reflectir um sentimento optimista e a confiança dos investidores

O BCE diz que a principal contribuição que pode dar ao crescimento no médio prazo é manter a inflação baixa. No entanto, quando comparamos as taxas de crescimento dos dois lados Atlântico, as taxas de crescimento têm sido mais elevadas nos EUA, apesar de terem uma postura mais flexível face à inflação. Alguns dizem há no BCE um "medo alemão" exagerado face à inflação. Como comenta?

Não foi pelas condições monetárias que as taxas de crescimento na zona euro foram mais baixas nos últimos dez anos do que as dos Estados Unidos, mas foi antes por desenvolvimentos de produtividades dispares. Os EUA tiveram mais sucesso até há pouco tempo. No passado recente a produtividade diminui nos EUA e ainda é baixa na zona euro. Temos de trabalhar muito para melhorar. A contribuição do BCE para o crescimento sustentável é garantir a estabilidade de preços. No médio a longo prazo a taxa de inflação deve estar em linha com o que definimos como estabilidade de preços, ou seja, abaixo mas perto de 2%. A inflação nunca é um instrumento para permitir mais crescimento. E sabemos da teoria monetária que, no fim, a inflação elevada não permite mais crescimento ou criação de trabalho.

Mas na Europa há uma abordagem mais rígida à estabilidade de preços. De outra forma: não há evidência de que uma inflação mais elevada tenha pesado sobre o crescimento norte-americano nos EUA. Faria assim tanta diferença se, em vez dos 2%, o objectivo fosse 2,5% ou 3%?

Duvido muito que possa explorar um "trade-off" positive entre o crescimento económico e a inflação no curto prazo. A longo prazo há evidência que inflação elevada até pode ter efeitos negativos no crescimento real. Actualmente temos uma inflação de 3% e acredito que muitas pessoas não estão satisfeitas com este desenvolvimento. Na Europa, a preferência pela estabilidade de preços pode ser explicada pelas elevadas taxas de inflação na primeira metade do século XX. Nos EUA tiveram a sua experiência durante a grande depressão. Temos diferenças culturais e portanto não devemos comparar directamente o que estamos a fazer aqui com o que outros bancos centrais estão a fazer.

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