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Teatro: Público "tecnológico" e "exigente" é um desafio para as artes

Carlos Pimenta, que leva ao Porto a peça “Quarteto”, acredita no futuro do teatro em Portugal e diz que as tecnologias “não roubam” espaço às “artes convencionais”, mas que as complementam.

'Quarteto'
João Tuna
23 de Janeiro de 2016 às 10:30
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O "Quarteto" que Carlos Pimenta leva ao teatro Carlos Alberto, no Porto, é um espectáculo "rigoroso", "que procura ser intransigente em termos qualitativos", garantiu ao Negócios o encenador da peça, que estreou no dia 21 de Janeiro e está em cena até 7 de Fevereiro.

Com uma vida dedicada às artes, o encenador conhece bem as expectativas do público, "cada vez mais cosmopolita e exigente. Exige mais daquilo que lhe é apresentado, porque tem a possibilidade de assistir a eventos internacionais de grande qualidade", salientou Carlos Pimenta.

Mas isso, associado à expansão das tecnologias, não é necessariamente mau. "É certo que o panorama artístico e cultural mudou bastante nos últimos anos por via da cada vez maior presença das tecnologias no nosso quotidiano", realçou.

Esta vaga tecnológica deve ser aproveitada pelas artes, que "parecem roubar espaço a algumas 'artes convencionais', mas isso não se verifica", salientou. "Posso garantir que as tecnologias contribuem decisivamente para o desenvolvimento das artes performativas (menos adaptáveis aos processos de reprodutibilidade)".

Carlos Pimenta, que também é professor e investigador, tem trabalho feito precisamente nesta área, no âmbito de um doutoramento. "Há que encarar de frente que o público mudou. O público, que hoje em dia se senta na plateia com os seus smartphones, habituado a publicar conteúdos e a interagir, com a atenção cada vez mais fragmentada e capaz de, por si só, recolher online a mais variada informação sobre qualquer acontecimento, já não é o público de há 15 ou 20 anos". E é também a estas pessoas que é direccionado o "Quarteto".

cotacao Quando há escassez, só vale a pena fazer aquilo que é bom.
CARLOS PIMENTA ENCENADOR

A peça, que já está em cena no Porto, trata de um duelo entre dois amantes, a lembrar as "Ligações Perigosas". Carlos Pimenta salienta "o jogo de manipulação entre dois seres humanos levado ao limite. O erotismo como forma de libertação. O desejo pelo outro como alimento do corpo e do espírito. O prazer da dominação. A inevitabilidade do tempo", como pontos altos da peça, que é protagonizada por Albano Jerónimo e Lígia Roque.


O encenador não tem dúvidas:este é um dos grandes textos da dramaturgia mundial. "Quando há escassez, só vale a pena fazer aquilo que é bom. É verdade que o teatro é cada vez menos literatura e que existem espectáculos extraordinários que não são assentes num texto pré-existente", referiu Carlos Pimenta.

O trabalho é, também ele, "rigoroso". "Quarteto é uma obra de extrema exigência para os actores: tanto a nível técnico e físico, como a nível psicológico. Quem passa por este texto não sai dele na mesma condição em que entrou", explicou Carlos Pimenta.

E deixou um pedido para o mundo do teatro no futuro: mais comunicação e uso de meios inovadores. "Podemos estar sentados num teatro do século XIX, mas somos definitivamente público do século XXI". 

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