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Teatro: Público "tecnológico" e "exigente" é um desafio para as artes
Carlos Pimenta, que leva ao Porto a peça “Quarteto”, acredita no futuro do teatro em Portugal e diz que as tecnologias “não roubam” espaço às “artes convencionais”, mas que as complementam.
O "Quarteto" que Carlos Pimenta leva ao teatro Carlos Alberto, no Porto, é um espectáculo "rigoroso", "que procura ser intransigente em termos qualitativos", garantiu ao Negócios o encenador da peça, que estreou no dia 21 de Janeiro e está em cena até 7 de Fevereiro.
Com uma vida dedicada às artes, o encenador conhece bem as expectativas do público, "cada vez mais cosmopolita e exigente. Exige mais daquilo que lhe é apresentado, porque tem a possibilidade de assistir a eventos internacionais de grande qualidade", salientou Carlos Pimenta.
Esta vaga tecnológica deve ser aproveitada pelas artes, que "parecem roubar espaço a algumas 'artes convencionais', mas isso não se verifica", salientou. "Posso garantir que as tecnologias contribuem decisivamente para o desenvolvimento das artes performativas (menos adaptáveis aos processos de reprodutibilidade)".
Carlos Pimenta, que também é professor e investigador, tem trabalho feito precisamente nesta área, no âmbito de um doutoramento. "Há que encarar de frente que o público mudou. O público, que hoje em dia se senta na plateia com os seus smartphones, habituado a publicar conteúdos e a interagir, com a atenção cada vez mais fragmentada e capaz de, por si só, recolher online a mais variada informação sobre qualquer acontecimento, já não é o público de há 15 ou 20 anos". E é também a estas pessoas que é direccionado o "Quarteto".
CARLOS PIMENTA ENCENADOR
A peça, que já está em cena no Porto, trata de um duelo entre dois amantes, a lembrar as "Ligações Perigosas". Carlos Pimenta salienta "o jogo de manipulação entre dois seres humanos levado ao limite. O erotismo como forma de libertação. O desejo pelo outro como alimento do corpo e do espírito. O prazer da dominação. A inevitabilidade do tempo", como pontos altos da peça, que é protagonizada por Albano Jerónimo e Lígia Roque.
O encenador não tem dúvidas:este é um dos grandes textos da dramaturgia mundial. "Quando há escassez, só vale a pena fazer aquilo que é bom. É verdade que o teatro é cada vez menos literatura e que existem espectáculos extraordinários que não são assentes num texto pré-existente", referiu Carlos Pimenta.
O trabalho é, também ele, "rigoroso". "Quarteto é uma obra de extrema exigência para os actores: tanto a nível técnico e físico, como a nível psicológico. Quem passa por este texto não sai dele na mesma condição em que entrou", explicou Carlos Pimenta.
E deixou um pedido para o mundo do teatro no futuro: mais comunicação e uso de meios inovadores. "Podemos estar sentados num teatro do século XIX, mas somos definitivamente público do século XXI".