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Será falso o quadro de 450 milhões de dólares?
Mesmo antes de o “Salvator Mundi” de Leonardo Da Vinci ir a leilão na noite de quarta-feira na Christie’s, em Nova Iorque, muitos no mundo da arte refutavam a autenticidade da obra.
Vários conhecedores levantavam dúvidas, tanto na internet como na galeria, e um dia antes da venda Jerry Saltz, da New York Magazine, escreveu que embora não fosse "historiador de arte nem nenhum tipo de especialista nos grandes mestres", apenas "um breve olhar para a pintura diz-se que não é um Leonardo".
E isto foi antes de a pintura arrasar todos os recordes anteriores de leilões ao arrebatar, com prémio, 450 milhões de dólares.
Pouco depois de o martelo bater na noite de quarta-feira, 15 de Novembro, o New York Times publicou um artigo do crítico Jason Farago no qual, depois de observar que não tinha autoridade "para confirmar nem refutar a sua atribuição", ele declarou que a pintura era "proficiente, mas não é uma imagem religiosa especialmente distinta da Lombardia do virar do século XVI, submetida a várias restaurações".
Será que o comprador do quadro mais caro do mundo acaba de comprar um lixo?
"Todas as pessoas mais relevantes acreditam que é um Da Vinci, então as críticas do tipo ‘eu não sei nada sobre os grandes mestres, mas acho que não é um Da Vinci’ nem deveriam ter sido publicadas", diz o britânico Charles Beddington. "Sim, este quadro precisou de ser amplamente restaurado. Mas o facto de ser aceite por unanimidade como um Da Vinci mostra que tem condições suficientes para que não existam dúvidas sobre a sua autenticidade."
Depois de conversar com vários negociadores importantes de grandes mestres - um grupo famoso cujos membros não são conhecidos por ficarem calados -, o verdadeiro problema em relação à autenticidade do Da Vinci parece ser uma questão de conhecimento do assunto: "Todas as obras dos grandes mestres foram retocadas", diz o "marchant" Rafael Valls, cuja galeria de Londres fica mesmo em frente à Christie’s. "Todos eles foram esfregados e limpos, mas quando se pensa num quadro em particular e diz: ‘Ah, é um Ticiano, mas um quarto foi recriado por outros restauradores’, mesmo assim ele não deixa de ser autêntico."
As pessoas do mundo da arte que descartam a autenticidade do quadro, segundo os negociadores de arte, estão simplesmente a julgar os grandes mestres com os critérios usados para julgar a arte contemporânea - seria como comparar as especificações de um novo Honda com as de uma Ferrari de 1965. Ambos são carros, mas as semelhanças terminam aí.
"Até certo ponto, tem de se deixar a condição de lado", diz o galerista Johnny van Haeften. "Claro que não é perfeito e claro que não é a versão original. Mas é possível conseguir outro?"