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Oceanário: "Agora sabemos para que estamos a ganhar dinheiro"

Nos primeiros 12 meses completos de concessão do Oceanário de Lisboa, o Estado vai receber 2,02 milhões de euros de renda, entre fixa e variável. A missão do equipamento é integrada agora na Fundação Oceano Azul.

Bruno Simão
06 de Março de 2017 às 22:00
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O Oceanário de Lisboa, equipamento que é do Estado e foi concessionado por 30 anos à sociedade Oceanário de Lisboa SA, privatizada à Sociedade Francisco Manuel dos Santos em 2015, mantém a função de serviço público que lhe foi atribuída há dois anos. Mas ao integrar a Fundação Oceano Azul, organismo que será formalmente lançado dentro de dias, a missão (no aquário, literacia azul e conservação do mar) ganha novo fôlego, explica João Falcato, CEO do Oceanário de Lisboa.

Ter um novo dono, na sociedade anónima que ficou com a concessão do equipamento durante 30 anos, o que é que mudou na gestão da empresa?
Ao nível do dia-a-dia não mudou muita coisa. Esta empresa – e eu estou cá há 20 anos – sempre foi gerida como se fosse uma empresa privada. Sempre fomos rentáveis. A grande diferença é o que se faz com dinheiro, e não o dinheiro que se ganha. E enquanto éramos públicos, o que acontecia é que no final do ano fazíamos a distribuição de dividendos [ao accionista único Estado] e saia daqui o dinheiro. A realidade agora é que todo o dinheiro que fazemos é reeinvestido, mantém-se aqui e é aplicado na conservação dos oceanos e na literacia azul. A nossa missão, a nossa razão de existência, é mesmo essa: a conservação dos oceanos. Por três vias principais: o aquário (...), toda a componente da literacia azul, com as escolas, e ainda a actividade fora daqui, com a conservação dos oceanos ‘en sitio’. A componente de actuação sem retorno financeiro cresceu imenso e vai crescer muito mais – é essa a principal alteração de fundo, enorme.

Diria que mais do que o financiamento ou o investimento, é a capacidade da sociedade absorver o retorno que obteve durante o exercício?
A mudança mais radical é essa. É sabermos para que estamos a trabalhar e para que é que estamos a ganhar dinheiro. É para o bem comum, é para uma missão nobre, é para o bem do planeta – nós sabemos que vamos salvar o mundo (risos). É diferente do que trabalharmos e chegar ao final do ano e todo o dinheiro desaparecer.

Mas essa ideia de conservação dos oceanos também estava implícita naquilo que era uma infra-estrutura do Estado, ou não?
Sim, mas as ferramentas e a capacidade de actuação eram muito inferiores às actuais. Realmente, não tem nada a ver. É outro mundo. Depois tem várias vertentes. Em relação ao próprio Oceanário de Lisboa, teve um impacto enorme, a todos os níveis.


Em 2014, o Oceanário gerou um lucro de 1,49 milhões de euros...
Mas não pode fazer essa comparação hoje em dia, não pode. Faz sentido é falarmos do número de pessoas que nos visitam.

Mas porque não pode fazer a comparação?
Porque se começo a aplicar cada vez mais dinheiro, que aplico – passei a aplicar, por exemplo, 200 mil euros em projectos de conservação que não dá retorno financeiro...

A mudança mais radical é essa. É sabermos para que estamos a trabalhar e para que é que estamos a ganhar dinheiro. João falcato CEO do Oceanário de Lisboa

Sim, mas é comparável porque é a mesma estrutura societária, não é?
Mas a actividade mudou. Eu não fazia nada que não tivesse retorno financeiro. Aliás, fazia, mas na literacia azul, para se ter uma noção, gastava, à volta de 60 mil euros em projectos que não tinham retorno financeiro. Em 2016 gastei quase 200 mil euros. Reduz-me os resultados, obviamente. Na conservação dos oceanos, estava previsto gastar 45 mil euros em 2016 – e gastei 270 mil euros. A tendência é para estes números aumentarem. A tendência é para o resultado financeiro do Oceanário de Lisboa, se tudo correr bem, seja zero.


Se tudo correr bem?
Se tudo correr bem – gastar dinheiro não é fácil. Lá porque não temos um objectivo de ter um resultado financeiro muito volumoso, não quer dizer que não queiramos ser hiper-eficientes no gastar desse dinheiro. Não é para esbanjar. Ao nível de serviço público e de resultados, olho muito mais para o número de visitantes. Quantas pessoas é que consigo que acedam à minha exposição, que a visitem e tenham acesso à informação que eu quero passar à população.

Não vai revelar os resultados de 2016, pois não?
Não posso. A assembleia-geral ainda não os aprovou.

E é possível saber a ordem de grandeza das receitas?
Facturámos à volta de 14 milhões de euros.

Está em linha com aquilo que era enquanto estava no Estado?
Não, crescemos. Entre o ano passado e este (2016) crescemos à volta de 15%.

Quanto é que o Estado vai obter de renda do primeiro ano completo, de uma concessão de 30 anos, da infra-estrutura Oceanário?
Esse valor é muito acima do que estava expectável. A renda fixa é 1,3 milhões, sendo a variável de 5% [sobre a receita]. A renda fixa é de 1.304 milhares de euros, e a variável de 719 mil euros. Isso é o que vamos pagar em relação a 2016.

Quanto é que foi investido no equipamento Oceanário desde Setembro de 2015?
Em 2016, foram 1.405 milhares de euros – o que estava previsto eram 400 mil euros. Fizemos tudo o que estava planeado para os próximos 5-6 anos – 3,5 vezes mais investimento – não é fácil. Dá muito trabalho e as pessoas sentem a ambição de o fazer. Mas cansa.


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Meta: "salvar o planeta"

"Em 2016 tivemos 1.265 milhares de visitantes, o que é algo único (em 2014 tivemos 980 mil e, em 2015, 1.148 mil). Não há memória, nem havia expectativa que isto acontecesse". João Falcato sabe do que fala: 20 dos seus 45 anos foram passados, profissionalmente, no Oceanário. Quando entrou, em 1997, "não era gestor na altura", sublinha. "Era biólogo marinho – tratava dos peixinhos", brinca. A Sociedade Francisco Manuel dos Santos, que comprou a Oceanário SA e que terá a concessão por 30 anos do aquário, subiu de 48 para 55 os colaboradores e manteve o CEO – que é, também, administrador da Fundação Oceano Azul. E aqui, na conservação, a ambição é outra: "Sim, nós queremos salvar o planeta".

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