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David Bowie: O eclipse da estrela negra

David Bowie morreu esta segunda-feira. Tinha 69 anos.

11 de Janeiro de 2016 às 09:58
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Ao longo da sua vida David Bowie morreu e ressuscitou muitas vezes. Porque tinha sempre muitas coisas para dizer. Agora o seu jogo terminou de vez. Nada que não estivesse escrito e cantado: "Ashes to Ashes". Do pó viemos e ao pó voltaremos.

Na sexta-feira Bowie mostrara a sua fonte de juventude eterna com "Blackstar". A estrela negra, o lado lunar que sempre quis esconder para escolher melhor as máscaras com que nos ia surpreendendo ao longo de tantos anos. Era, não o imaginaríamos, um testamento brilhante para uma carreira que parecia nunca poder ter fim. Bowie sempre conseguiu gerir o silêncio nesta época de ruídos contínuos.

Por isso, em 2013, depois de 10 anos sem dar sinais de vida, surgira com um álbum a que chamou "The Next Day", acompanhado de uma exposição sobre a sua carreira.

"Blackstar" era diferente: era quase uma elegia do passado. Compreende-se agora melhor a presença obsessiva do saxofone, memória longínqua dos seus primeiros tempos. O clima denso e obscuro atravessava "Blackstar" e atirava-nos para as noites de um clube de jazz ou mesmo para o tempo em que renasceu junto ao Muro de Berlim, naquela que é a época mais fascinante da sua longa carreira: a dos anos 70 ("Low", "Heroes" e "Lodger", talvez os seus mais fabulosos álbuns).

Bowie desaparece aos 69 anos, poucos dias depois de sair "Blackstar", no dia em que comemorava o seu nascimento.

Nascido a 8 de Janeiro de 1947 como David Robert Jones foi uma das figuras mais incontornáveis da música popular das últimas décadas. Inovador, fez rupturas admiráveis, sobretudo nas décadas de 1970 e 1980, onde cruzou o rock com as artes e o sexo com a androginia, numa época de extremos.

Quando criou o seu alter-ego Ziggy Stardust, desafiou as regras da música rock desses tempos. A música e o teatro cruzavam-se no seu percurso que pareceu antecipar sempre as tendências e as modas. Trocou muitas vezes as voltas aos fãs, como fez quando investiu na América com "Young Americans", em 1975, derivando para o mundo da Soul. Na década de 80 percebeu os novos mundos da música de dança e atreveu-se a entrar nela com "Let’s Dance".

Com "Blackstar" voltou à densidade sombria de outros tempos, como se quisesse deixar a sua imagem final. Aquela que era impossível de sintetizar no meio de um jogo de máscaras e de personagens que sempre pareceram um baile onde todos tentavam descobrir quem eram na realidade. Talvez fosse esse o sentido da vida que Bowie procurou. Neste seu último disco há um tema central, "Lazarus", mais um personagem na sua vasta galeria.
Onde canta: "This Way or No Way/You Know, I’ll Be Free".

Uma espécie de hino à morte e à ressurreição, no meio do som de teclas e do vento. Objecto sempre em movimento, Bowie parou agora. Mesmo se o seu fantástico Major Tom continue lá no espaço a ver o que este mundo anda a fazer.



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