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Variante britânica já provocou 150 mil casos de covid em Portugal
Travão nas transmissões secundárias limita a 48% os casos provocados pela variante britânica. Investigador alerta para “novo crescimento exponencial” com desconfinamento, a equilibrar com a "tão desejada" imunidade de grupo.
Desde 1 de dezembro de 2020 já foram detados mais de 10 mil casos da variante britânica em Portugal, num total de 53 mil, o que leva o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) a estimar que desde essa altura já terão ocorrido cerca de 150 mil casos de covid-19 no país provocados pela variante do Reino Unido.
Durante a sessão com especialistas que decorre esta tarde no Infarmed, o investigador João Paulo Gomes reconheceu que a projeção feita em meados de janeiro, que apontava para que a proporção de casos desta variante atingisse mais de 60% na segunda semana de fevereiro, acabou por não se verificar devido ao "confinamento rígido" implementado.
Até este domingo, 21 de fevereiro, o número de casos de covid-19 provocados por esta variante estava limitado a 48% e não se verifica nesta fase uma tendência crescente. A taxa de crescimento da prevalência, que nas primeiras semanas era da ordem dos 80%, isto é, quase duplicava, foi baixando e na última semana "varia entre os 4% e os 10%".
Apesar da adoção das medidas de confinamento, era expectável que esta variável britânica, sendo mais transmissível, aumentasse a sua proporção no número de novos casos. No entanto, o que se verifica é um planalto, uma manutenção do nível das semanas anteriores, sublinhou o responsável pelo Núcleo de Bioinformática do Departamento de Doenças Infeciosas do INSA.
"O que pode ter acontecido é que tenhamos consigo travar todas as transmissões, além da primária. E bloqueando todos os processos da transmissão secundária, além da inicial, neste caso uma variante mais transmissível terá perdido essa vantagem face a outras, o que só é possivel num confinamento como os que estamos a atravessar no país", justificou.
Imunidade de grupo contra a variante
Com o tema do desconfinamento já a começar a dominar o discurso político, João Paulo Gomes advertiu que "esta variante não vai desaparecer nem perde as suas características" e, por isso, "é normal que possamos observar um novo crescimento exponencial". O que fazer? Tentar equilibrar com a "imunidade de grupo tão desejada", alcançada através da "vacinação massiva" e também dos "anticorpos robustos" de milhares de portugueses já infetados pelo novo coronavírus.
Numa análise à idade dos infetados com esta variante britânica, o investigador evidenciou que "não podemos concluir que haja uma preferência pelas faixas populacionais mais baixas", ao contrário do que chegou a ser admitido por alguns estudos iniciais.
Relativamente à variante originária da África do Sul, o INSA apenas identificou quatro casos em Portugal, tendo este domingo, 21 de fevereiro, confirmado os primeiros sete casos de covid-19 associados à variante do Brasil, referentes a uma única cadeia de transmissão.