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Peritos querem manter matriz de risco: “Incidência e Rt devem continuar a ser os indicadores principais”
Peritos contrariam Marcelo e querem manter critérios para matriz de risco. Em nome de um conjunto de peritos, Andreia Leite explicou que só a monitorização da incidência e do ritmo de transmissão permite por exemplo avaliar o impacto do levantamento de medidas ou cumprir os critérios internacionais.
"É a incidência que constituiu o indicador mais precoce que nos permite atuar atempadamente e adequadamente e é também utilizado por vários outros países e reconhecido a nível europeu. É a incidência que nos dá o risco de alguém se infetar quando se desloca a determinado território, nomeadamente nacional", disse Andreia Leite, da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, na reunião do Infarmed, em nome do conjunto de peritos.
"Continuar a olhar para a incidência vai garantir que a resposta às vacinas se mantém ao longo do tempo até atingirmos uma situação endémica ou de supressão do vírus, vai-nos permitir cumprir critérios internacionalmente, permite-nos ainda perceber se ao levantar as medidas em vigor temos um recrudescimento da transmissão e também nos permite identificar se existe alguma alteração das característica do vírus ou da resposta das vacinas a novas variantes", defendeu.
Embora a vacinação ajude a garantir "que a incidência é baixa" é necessário "continuar a olhar para ela [para a incidência] porque é o indicador centralizador de todos os efeitos, de tudo o que está a acontecer, e ela própria que vai determinar as hospitalizações e os eventos mais graves".
"Por isso mesmo propomos que continuemos a utilizar este conjunto de indicadores sendo que a incidência e o Rt devem continuar a ser os indicadores principais. A este conjunto de indicadores deverá ser adicionada a monitorização da efetividade das vacinas", mantendo a matriz de risco. "Não se justifica a alteração dos critérios", concluiu.
Os critérios têm essencialmente em conta o número de casos por cada cem mil habitantes nos últimos 14 dias - obrigando os concelhos a recuar caso haja duas avaliações negativas, acima dos 240 - e a velocidade de transmissão, que acelera quando o R(t) está acima de 1, como acontece atualmente.
A especialista destacou a "importância de mantermos uma comunicação estável e clara". Esta posição foi depois secundada por Raquel Duarte, ex-secretária de Estado da Saúde, que ao propor que seja "mantida a metodologia vigente" defendeu ser "preciso garantir estabilidade e previsibilidade para a população".
A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, defendeu precisamente esta perspetiva em declarações feitas na quinta-feira. Na terça-feira, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu a revisão da matriz de risco, uma ideia que não gerou consenso.
Outras "recomendações gerais" feitas consistem numa "gestão da pandemia feita a partir do modelo de redução de risco e na minimização dos danos".
Tendo em conta a crescente confiança na vacinação e a fadiga pandémica, a perita avisou que as pessoas vão querer "recuperar os meses de privação e vão querer interagir e ter outros comportamentos sociais de interação". Como tal, "aquilo que é preciso é recuar o carácter impositivo e restritivo das medidas e investir mais numa estratégia de comunicação de crise eficaz e na criação de condições ambientais propiciadores de tomadas de decisão conscientes e saudáveis", sustentou.
Assim, outra recomendação vai no sentido de que "haja uma organização concertada, organizada [e] controlada de pequenos e médios eventos recreativos em cadência, diversos, com intensidade suficiente de forma a dispersar os diferentes públicos". "É importante abranger todos os públicos-alvo, garantindo sempre que há um cumprimento das medidas gerais: distância [e] utilização de máscara".
"Deve ser promovida e incentivada a ocorrência de eventos culturais, desportivos, de lazer, em total respeito pelas melhores práticas organizativas, nomeadamente privilegiando espaços ao ar livre, o recurso à sinalética, circuitos bem definidos, logísticas bem adequadas", prosseguiu, insistindo ainda na importância de "restringir a circulação de e para os países que tenham variantes perigosas", o que exige "vigiar as fronteiras terrestres, marítimas e aéreas".
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