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O coronavírus é menos mortal na Alemanha por causa dos pacientes jovens

O número de mortes provocadas pela pandemia de coronavírus dispara em grande parte da Europa, mas há um país que continua a ser exceção.

25 de Março de 2020 às 14:11
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(Nota: este artigo foi elabarado com base nos dados estatísticos conhecidos na terça-feira, 24 de março)

Apesar de registar mais de 25 mil contágios, o quinto maior número de casos no mundo, a taxa de mortalidade da Alemanha é de apenas 0,4%, segundo dados compilados pela Bloomberg de autoridades de saúde. Em Itália, por comparação, cerca de 9,5% das pessoas diagnosticadas com a doença morreram.

Pode haver muitas razões para a disparidade, mas todas se resumem a um ponto: o covid-19 ainda não infetou pessoas idosas e mais vulneráveis da população da Alemanha com a mesma força. As autoridades testam e monitorizam casos leves de forma agressiva, e mais de 80% dos testes confirmados são de pessoas com menos de 60 anos. Em Itália, apesar dos dados demográficos semelhantes, o quadro é muito diferente, já que o vírus atinge desproporcionalmente pessoas mais velhas.

Em conjunto, os dois países constituem uma lição objetiva do motivo por que as autoridades de saúde pública de todo o mundo têm fechado lares de idosos e pedido às famílias que não visitem os pais ou avós. Quando o vírus se espalha entre a população idosa, como mostra Itália, isso pode sobrecarregar os sistemas de saúde e aumentar a mortalidade geral.



Em Itália, 74% das pessoas com teste positivo para o vírus têm mais de 50 anos. Na Alemanha, 82% dos casos são de pessoas com menos de 60 anos. A perspetiva de que o foco do surto mude para pessoas idosas também preocupa as autoridades de saúde da Alemanha.

"Estamos apenas no início da epidemia", disse Lothar Wieler, presidente do Instituto Robert Koch, autoridade de saúde pública da Alemanha.

Hospitais saturados

O vírus infetou mais de 350 mil pessoas e matou mais de 16 mil em todo o mundo, desde que surgiu na China no fim do ano passado. Cerca de 30% dessas mortes ocorreram em Itália, onde alguns hospitais estão saturados. Há relatos de médicos obrigados a selecionar pacientes e racionar equipamentos para salvar os que têm maior probabilidade de sobreviver.

As autoridades de saúde ainda não sabem exatamente como o vírus entrou em Itália, mas, quando entrou, propagou-se facilmente entre a geração de alto risco. Ao contrário do que acontece em muitos países da Europa, os adultos italianos estão em contato frequente com os pais. A "nonna" e o "nonno" cuidam dos filhos e almoçam com a família ao domingo, e costumam morar na mesma cidade ou até mais perto.

Mais de 20% dos italianos entre os 30 e os 49 anos moram com os pais, segundo Christian Bayer e Moritz Kuhn, economistas da Universidade de Bonn. A percentagem é mais do dobro daAlemanha. Bayer e Moritz encontraram uma correlação entre gerações que vivem sob o mesmo teto e a mortalidade dos casos de coronavírus.

‘Rede social’

"Porque é que tantos idosos em alguns países se contagiam enquanto noutros países não?", questiona Bayer. "A rede social é uma explicação natural."

Embora haja outros fatores que estão a influenciar as taxas de mortalidade, Bayer diz que a sua análise parece aplicar-se até agora na maior parte da Europa e nos Estados Unidos. Países onde a vida multigeracional é comum, como na Grécia, Bulgária, Polónia e Sérvia, devem agir rapidamente para proteger os idosos, sublinha o responsável.

Na Alemanha, muitos dos primeiros casos ocorreram em pessoas jovens e saudáveis que haviam acabado de visitar estâncias de esqui onde o vírus circulava, no norte de Itália ou na vizinha Áustria. A maioria dos casos ocorreu em pessoas entre 35 e 59 anos de idade. A idade média dos mortos pela doença era de 82 anos, disse na segunda-feira Wieler, do Instituto Robert Koch.

Graças a um "processo de testes muito agressivo" na Alemanha, têm sido incluídos mais casos leves no número total, disse Michael Ryan, diretor do programa de emergência de saúde da OMS. Ryan estima que as taxas de mortalidade evoluirão nas próximas semanas, pois os pacientes morrem no hospital três a quatro semanas após o diagnóstico.

As autoridades italianas recusam a ideia de que a taxa de mortalidade do país se deve aos hospitais sobrecarregados com novos pacientes, especialmente em regiões mais afetadas, como a Lombardia. Áreas como Veneto, nos arredores de Veneza, fizeram mais testes e têm menores taxas de mortalidade.

Mortes em Itália

O chefe de emergência Angelo Borrelli disse na sexta-feira que o número de mortos em Itália pode refletir a definição abrangente de mortes por coronavírus, já que qualquer pessoa que tenha um resultado positivo é incluída, independentemente das outras patologias que tenha. Mas o Instituto Koch da Alemanha diz que segue um procedimento semelhante.

"O risco real é a idade geriátrica e também doenças concorrentes, como pressão alta e diabetes", disse Roberto Bernabei, professor de geriatria da Universidade Católica de Roma. "Isso leva a uma maior agressividade do vírus".

Apenas 2,7% dos contágios confirmados na Alemanha ocorrem em pessoas com mais de 80 anos, o que compara com 18% dos casos em Itália.

Por enquanto, as crianças devem manter contacto com os avós online, em vez de pessoalmente, disse a chanceler alemã Angela Merkel na semana passada. Sugeriu Skype, telefonemas e e-mails ou "talvez voltar a escrever cartas".

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