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Distanciamento social é luxo a que muitos não têm acesso na Índia
O dilema da força de trabalho informal da Índia, de 450 milhões de pessoas, é um dos principais exemplos de como a desigualdade social ameaça minar os esforços de contenção do vírus em todo o mundo. A população urbana de baixo rendimento geralmente tem acesso limitado a cuidados de saúde, sem seguro médico e sem rede de segurança financeira.
A indiana Baby Devi já perdeu 80% do seu rendimento mensal por causa da propagação do coronavírus. E o pior na Índia ainda está por vir.
Com 38 anos e quatro filhos, a empregada de limpeza foi dispensada por dois dos seus três patrões. Como muitos indianos relativamente abastados, eles evitam o contacto com outras pessoas para não se contagiarem.
Para Devi, que agora ganha cerca de 0,67 dólares por dia, a queda do rendimento é tão preocupante quanto as suas condições de vida. Enquanto a Índia corre para romper a cadeia de transmissão do Covid-19, a sua família, que vive num quarto apertado e compartilha uma casa de banho com duas outras famílias, está entre os grupos de maior risco.
"A situação agora é muito difícil", disse Devi via telefone, na capital, Deli. "Sair é um problema e ficar em casa é um problema".
O dilema da força de trabalho informal da Índia, de 450 milhões de pessoas, é um dos principais exemplos de como a desigualdade social ameaça minar os esforços de contenção do vírus em todo o mundo. A população urbana de baixo rendimento geralmente tem acesso limitado a cuidados de saúde, sem seguro médico e sem rede de segurança financeira.
O primeiro-ministro Narendra Modi instou os 1,3 mil milhões de indianos a seguirem uma quarentena de um dia no passado domingo, quando o governo estabeleceu amplos "lockdowns" e restrições de transporte nas áreas urbanas. Todos os comboios foram suspensos até pelo menos 31 de março.
Na segunda-feira, 23 de março, o país registava 390 casos, com sete mortes. Muitos estados começaram a implementar restrições semelhantes ao toque de recolher, impedindo que mais de cinco pessoas se reunissem em público.
Mesmo antes de as restrições entrarem em vigor, o pânico e o medo eram palpáveis entre os assalariados da Índia. Na sexta e no sábado da semana passada, dezenas de milhares de pessoas lotaram os comboios – correndo o risco de contágio – apenas para poderem voltar à relativa segurança das suas cidades.
As restrições causarão "um enorme impacto nos seus meios de subsistência", sublinhou Rajmohan Panda, professor da Fundação de Saúde Pública da Índia, que assessorou o governo indiano e organizações internacionais como UNICEF e a Fundação Gates.
"Sem o luxo da previdência e segurança social, a perda de rendimentos, mesmo que temporariamente, também afetará a higiene e a nutrição, tornando-os mais suscetíveis ao vírus", rematou.
(Artigo original: Social Distancing a Luxury That Workers on $2 a Day Can’t Afford)