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Commerzbank: Recuperação sem fim à vista, mas problemas portugueses não desapareceram

O banco alemão sublinha que a recuperação da economia portuguesa continua a apresentar sinais positivos, mas deixa alguns alertas: alguns dos problemas mais profundos mantêm-se e os ganhos de competitividade podem estar a desaparecer.

21 de Setembro de 2017 às 09:51
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O Commerzbank está optimista sobre os recentes desenvolvimentos da economia portuguesa. Num relatório publicado esta quinta-feira, 21 de Setembro, os economistas do banco notam que a trajectória de recuperação "não tem fim à vista". No entanto, teme que alguns dos ganhos de competitividade dos últimos anos desapareçam com as subidas do salário mínimo e avisa que problemas mais estruturais – como o elevado endividamento – continuam a pesar sobre Portugal.

 

"A economia portuguesa registou um crescimento rápido na primeira metade [de 2017] e a recuperação não tem fim à vista. Em breve, as outras duas agências de rating deverão provavelmente seguir a decisão da S&P de voltar a colocar Portugal com notação de investimento", pode ler-se no documento.

 

O banco refere que, depois de ter sido durante vários anos "uma das crianças problemáticas da Zona Euro", Portugal parece agora ter voltado a recuperar a saúde. A aceleração do crescimento económico permitiu descer o défice com mais facilidade, o que levou à subida do rating anunciado há dias pela Standard & Poor’s. "Para já, não há nada que pare esta tendência, uma vez que os factores por trás da recuperação continuarão por enquanto a existir."

 

Que factores são esses? O Commerzbank refere as políticas expansionistas do Banco Central Europeu (BCE), o alívio das políticas de austeridade e os frutos das reformas feitas pelo Governo anterior. Em baixo, à esquerda está o gráfico com o saldo orçamental e o saldo estrutural primário (sem juros). À direita, a variação homóloga do investimento em maquinaria e equipamento e em construção.

 

O banco vê a economia portuguesa a crescer 2,5% este ano e cerca de 2% em 2018, o que permitirá acomodar mais despesa e ajustar a dívida pública. "Mesmo que o Governo provavelmente não consiga atingir os seus objectivos ambiciosos nestas áreas [das contas públicas], a tendência positiva deverá convencer as outras agências de rating a colocar a notação em nível de investimento." Ainda assim, os economistas avisam que os juros não deverão descer muito mais, uma vez que o mercado já parece ter incorporado esse cenário e as 'yields' já estão próximas de Itália.

Riscos não desapareceram do horizonte

 

Apesar do tom optimista, os riscos para a economia portuguesa não desapareceram e "seria um erro fingir que o país encontrou uma solução de longo prazo para os seus problemas". Entre eles, está o elevado endividamento do Estado e do sector privado. Um factor que só não é mais preocupante porque as políticas do BCE tornam os custos relacionados com as dívidas mais sustentáveis. Mas quando os juros voltarem a subir, Portugal deverá estar entre aqueles que mais sofrerão.

 

Além disso, o Commerzbank avisa que as melhorias de competitividade alcançadas nos últimos anos podem estar em risco, devido às sucessivas subidas do salário mínimo já efectuadas e planeadas até 2019. Portugal, que já tinha um dos salários mínimos mais próximos da mediana de rendimentos da economia, viu esse valor aumentar ainda mais. O banco receia que essas subidas podem penalizar o emprego dos trabalhadores menos qualificados e comprimir a totalidade da estrutura salarial do país. "Portugal está a regressar a uma tendência pouco saudável que foi apenas brevemente interrompida pela crise da dívida soberana", escreve. "O resultado é que os custos laborais em Portugal têm estado a aumentar a um ritmo mais rápido do que a generalidade da Zona Euro."

 

No entanto, para já, os dados não mostram que estes riscos se estejam a materializar. Como o Negócios escreveu há alguns dias, os patrões não parecem inclinados para comprar uma guerra em torno deste tema e até a Comissão Europeia parece ter suavizado a sua posição e já não acha que o aumento do salário mínimo prejudica a competitividade. 

Nos gráficos em baixo: à esquerda, as subidas anuais do salário mínimo (barras) e relação com o salário mediano. À direita, os custos laborais de Portugal face à Zona Euro.

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