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Um nortenho, elitista e liberal na cama que fez

"Bem-vindo, Rui. Obrigado, Rui". Poderá ser este o início de diálogo, na tomada de posse, entre Rio e Moreira, que se tratam pelo primeiro nome e se aliaram nas entrelinhas para manter o rumo da gestão autárquica do Porto.

01 de Outubro de 2013 às 10:03
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"Bem-vindo, Rui. Obrigado, Rui". Poderá ser este o início de diálogo, na tomada de posse, entre Rio e Moreira, que se tratam pelo primeiro nome e se aliaram nas entrelinhas para manter o rumo da gestão autárquica do Porto. Lá para trás, recuando a 2005, ficou a previsão do portista de que a Invicta não aguentaria mais quatro anos o boavisteiro, que completaria três mandatos. O sucessor não se envergonha de mudar de opinião e teve de se haver na campanha com a memória escrita de um artigo mais recente em que ainda apontava Menezes como o líder ideal de toda a região.


Foi neste último mês, enquanto combatia nas ruas e bairros para que o autarca de Gaia não atravessasse o Douro, que Moreira emprestou a sua casa, na exclusiva Avenida da Boavista, para Victor Hugo fotografar uma campanha da Dielmar. "Ele andava exausto e aquilo alterou-lhe o dia de descanso", relata o amigo "de classe média", que fez as fotos para os cartazes ainda espalhados pela cidade. Dos jantares lá em casa lembra-se de ele cozinhar bifes para todos porque o fotógrafo "só come bifes". Para a sobremesa ficam as "grandes discussões saudáveis" com este benfiquista. A capacidade de entendimento será testada no acordo que terá de fazer em breve com a oposição, se não quiser governar a Câmara em minoria.


Com ascendência alemã e judia, o mais velho de sete irmãos de uma família burguesa não resiste a uma lampreia à bordalesa e aos encantos de Bárbara Taborda, a relações públicas com quem namora. Menino da Foz, foi campeão nacional de vela pela primeira vez aos 11 anos. Nasceu e cresceu a cem metros do mar no palacete 236 da Avenida Montevideu. O quarto de infância serve hoje de escritório da Morimor, consultora na área dos portos e transportes marítimos, um dos seus projectos empresariais. O mais recente concretizou-se com a entrada no capital da conserveira "A Poveira". Sérgio Real, com quem partilha assento na administração, frisa que "ele faz questão de descer à fábrica", embora seja no escritório que mais o impressiona. "É uma pessoa um bocadinho fora do normal. Está à escuta e, de repente, sai-lhe uma solução para o problema. Não fica à espera que os outros façam", detalha.


Já a primeira experiência foi na E. A. Moreira, empresa de navegação fundada pelo avô. Com pouco mais de 20 anos, já com o "canudo" de gestão trazido de Londres, comprou por cem contos uma participação que, aos 35, vendeu por dois milhões de contos. Nesse intervalo de tempo apanhou o maior susto. Sofria de insuficiência renal e sobreviveu com o rim doado pelo irmão Sebastião. "Foi isso que me levou a projectar que, se me safasse, o mais depressa possível ia libertar-me de algumas coisas", contou numa entrevista ao Negócios em 2009.


Do que nunca se conseguiu libertar na infância foi da detestada alcunha "Molinhas". O pai, de quem herdou o nome e nenhuma riqueza material, era dono das indústrias de colchões Molaflex, em São João da Madeira, e fê-lo aparecer de pijama, aos pulos numa cama, num anúncio televisivo nos anos 1960. No pós--25 de Abril, prenderam o pai e ocuparam a empresa, recuperada anos depois. Que acabou por ser vendida em 1988 ao grupo Faurecia. O director-geral, Victor Marinheiro, confidencia que "a família Moreira continua a dormir em colchões da marca", que compra nas lojas Noctalia.


Pelo menos quando os cinco cafés diários não tiram o sono à figura das autárquicas, um independente que escalou ao cume da política mas ainda sonha ir aos Himalaias. Que passa fins-de-semana na casa alentejana de Miguel Sousa Tavares e se emociona de cada vez que atravessa a ponte da Arrábida e vê à esquerda o rio salgar-se. Que só teve "verdadeiramente a noção de ser um homem do Porto depois de ter vivido fora". É de "uma geração que acredita que o Porto é liberal" e partilhou com a jornalista Anabela Mota Ribeiro a dúvida sobre se essa já não será uma "cidade imaginária".


O domingo em que ganhou amplo mandato para a primeira experiência política foi uma excepção à tradição de sétimo dia de não se barbear. Em 2002, disse à "Sábado", foi convidado para o governo de Durão Barroso, declinando ao ouvir do outro lado o "não" à sua única questão: "Essa secretaria de Estado da Economia pode ser no Porto?". A vitória que contrariou (quase) todas as lógicas partidárias fá-lo subir do Palácio da Bolsa aos Paços do Concelho, pelo menos até 2017. A sua frase preferida? Disse-a Winston Churchill durante a 2.ª Guerra Mundial: "We shall never surrender".

 

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