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Coliseu do Porto “alugado” pela Câmara recebe patrocínio de 1,8 milhões da Ageas
O trespasse do equipamento para a autarquia e o patrocínio da seguradora, que inclui o “naming”, vão ser votadas a 9 de Abril em assembleia-geral. A sala de espectáculos precisa de obras urgentes e corre o risco de fechar.
Cerca de 23 anos depois de os portuenses se terem algemado ao Coliseu para impedir a venda à IURD, a principal sala de espectáculos da cidade enfrenta uma nova "emergência, tão urgente como a de 1995", nas palavras de Rui Moreira, precisando de obras de reabilitação avaliadas em mais de seis milhões de euros.
Garantindo ter já o acordo do Governo para avançar com esta solução, o presidente da Câmara do Porto anunciou esta quarta-feira, 28 de Março, que "quer e pode fazer" esse investimento e que já está a ser "ultimada a solução jurídica" que permita ao município intervir na gestão e investir neste equipamento, o que neste momento não pode fazer por "razões estritamente legais".
Em causa está um trespasse à Câmara do Porto, através da sua empresa de Cultura, para que a autarquia tenha a titularidade do edifício e possa efectuar a intervenção e ainda "assegurar as equipas" durante o fecho temporário do Coliseu. Obras na torre, substituição da cobertura e recuperação dos revestimentos interiores são alguns dos trabalhos necessários.
Numa "conciliação de vontades", também a Ageas Portugal, herdeira da Axa - "em tempos imaginou vender o edifício e agora corrige a história", assinalou Moreira - anunciou um contrato de patrocínio de 900 mil euros válido por três anos, renovável por igual período e pelo mesmo valor. Isto é, a maior associada privada da associação gestora "Amigos do Coliseu do Porto", criada em 1996 para evitar a venda do edifício a uma "seita religiosa", avançará com 1,8 milhões de euros até 2024 para viabilizar também a actividade cultural naquele espaço.
Em troca, o edifício da Rua Passos Manuel, inaugurado em 1941 e conhecido pela grande sala de três mil lugares sentados ou mais de quatro mil em pé, passará a chamar-se "Coliseu Porto Ageas" durante a vigência do contrato. O presidente do grupo segurador, Steven Braekeveldt, falou esta manhã numa "união perfeita", disse estar "muito satisfeito" com este acordo e querer "que o Coliseu continue a ser uma referência na Cultura e um símbolo para a população do Porto".
Futuro vota-se a 9 de Abril
Para que estas propostas avancem, o trespasse do edifício para a Câmara e o contrato de investimento com a Ageas ainda têm de ser votados numa assembleia-geral já agendada para 9 de Abril pela direcção da associação, que foi inclusive uma das impulsionadoras e apoiantes desta solução. É uma decisão por maioria qualificada e deve mesmo ser aprovada, já que tem o apoio das quatro maiores associadas: a autarquia, a Ageas, a Área Metropolitana do Porto e a secretaria de Estado da Cultura.
Eduardo Paz Barroso, eleito presidente da associação em Setembro de 2014, sucedendo a José António Barros ao fim de 18 anos, aludiu nesta conferência de imprensa a um "modelo de gestão esgotado" e à urgência das obras neste edifício classificado como Monumento de Interesse Público pela tutela em 2012. "Não corre o risco de ser vendido, mas de fechar. Vou-me bater para que o Porto e a região Norte não fiquem sem o seu Coliseu", garantiu o programador e ex-director do Teatro Nacional de São João.
Construído pela companhia de seguros Garantia, o Coliseu Porto Ageas, como agora se passará a chamar, recebeu ao longo do ano de 2017 um total de 83 espetáculos e 240 sessões, num acumulado de 240 mil espectadores, segundo números oficiais divulgados pela associação sem fins lucrativos e com estatuto de utilidade pública que é proprietária do equipamento.