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Três em cada quatro equipamentos elétricos usados desviados para o mercado paralelo
Fenómeno de desvio de materiais dos equipamentos eléctricos entregues para recolha pode estar a ser agravado pela crise internacional das matérias-primas, assinala o Electrão.
Essa foi a conclusão a que chegou o Electrão depois de, ao longo dos últimos dois anos, ter seguido o rasto de 104 eletrodomésticos usados. Em cada um dos aparelhos, distribuídos por 33 concelhos e 10 distritos, foi colocado um GPS, o que permitiu monitorizar o seu percurso em tempo real.
"A esmagadora maioria destes equipamentos usados foi detectada, via GPS, em locais onde não existem operadores de gestão de resíduos licenciados para os descontaminar e reciclar. Há ainda equipamentos encaminhados para operadores licenciados depois de terem seguido um percurso alternativo com passagem por casas particulares e outros locais que não estão associados à gestão de resíduos", explica a entidade, num comunicado enviado às redações.
Tal significa, portanto, que "apenas cerca de 25% dos aparelhos integraram o circuito formal e foram encaminhados para unidades licenciadas para a reciclagem destes equipamentos", enfatiza a entidade gestora, com responsabilidade acrescida na gestão de equipamentos elétricos em fim de vida, já que detém uma quota de mercado superior a 60%.
O Electrão monitorizou as tipologias de artigos mais procuradas pelo mercado paralelo, dado o valor dos seus componentes, como é o caso dos frigoríficos, torres de computadores, máquinas de lavar e fogões.
A lista dos equipamentos desviados e respectivos destinos foi comunicada à Inspeção-Geral da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território (IGAMAOT), a entidade responsável pelas acções de fiscalização, de forma a possibilitar a identificação dos agentes e circuitos do mercado paralelo, adianta a Electrão.
A monitorização de artigos elétricos usados através de GPS é uma iniciativa do Electrão que arrancou, em 2020, com o projeto "Weee-Follow".
Na primeira fase, que decorreu entre 2020 e 2021, foram distribuídos 73 GPS em 12 dos concelhos mais populosos das áreas de Lisboa e Porto. A análise dos percursos permitiu concluir que três em cada quatro equipamentos usados foram desviados para o mercado paralelo.
A iniciativa do Electrão inspirou depois um projecto de âmbito nacional que serviu de base à campanha nacional de fiscalização, dinamizada com o envolvimento das autoridades ambientais e das restantes entidades gestoras, indica.
E, nesta segunda fase do projeto, que teve lugar entre dezembro de 2021 e março deste ano, a Electrão distribuiu 31 GPS por um total de 27 concelhos, maioritariamente fora dos grandes centros urbanos, com os resultados recolhidos a confirmarem então a mesma tendência.
"O flagelo do mercado paralelo também se regista em zonas mais interiores do país. Em 31 equipamentos apenas 11 terão seguido o circuito formal. Há, no entanto, zonas cinzentas já que em alguns casos os electrodomésticos foram encaminhados para espaços municipais, de onde poderiam ter seguido para reciclagem, mas perderam o sinal de GPS no local apesar de terem bateria. Pelo menos 20 electrodomésticos (65%) foram desviados", detalha o Electrão na mesma nota.
"O problema do mercado paralelo é um fenómeno que não é novo, o Electrão já o sinalizou na Agenda Nacional dos Eléctricos. O crescimento desta realidade vem dificultar o cumprimento da missão do Electrão e também os resultados de reciclagem a nível nacional", alerta o CEO do Electrão, Pedro Nazareth, citado na mesma nota.
Para o mesmo responsável, "para que Portugal possa atingir as metas nacionais, muito ambiciosas, é necessário apostar em acções concertadas que visem o reforço da fiscalização de forma a minimizar o impacto do mercado paralelo na reciclagem de equipamentos eléctricos usados".
Do lado do Electrão, indica a sociedade, tem sido feito um esforço para minimizar o problema, através da recolha de equipamentos eléctricos usados porta-a-porta, em alguns pontos da Área Metropolitana de Lisboa, em complemento com a recolha municipal na via pública.
Crise das matérias-primas propicia desvio
A entidade gestora deste fluxo de resíduos dá o exemplo do alumínio ou do cobre, materiais "valiosos" e "cada vez mais procurados nos circuitos informais".
O desvio levanta também outros problemas, designadamente de saúde ou ambientais, já que estes equipamentos usados têm também componentes perigosos. "Ao serem desviados das unidades de reciclagem, que garantem a sua descontaminação, estes equipamentos eléctricos são transformados em sucata metálica, em processos que não acautelam a protecção da saúde humana e do ambiente", alerta.