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Passos Coelho ao FT: "Não quero um novo programa" de resgate
O primeiro-ministro rejeita a necessidade de pedir mais tempo para cumprir as metas acordadas. Pedir mais tempo, é, muitas vezes, pedir “mais dinheiro”, o que “significa um novo programa e eu não quero”. Passos Coelho diz que a situação está mais difícil “em termos sociais”, mas que os portugueses “não querem uma crise política”.
“Ninguém diz que não há riscos. Claro que enfrentamos riscos. O que estou a dizer é que não estamos numa recessão profunda. Não estamos numa espiral recessiva”, afirmou Pedro Passos Coelho em entrevista ao “Financial Times”, publicada no site da publicação.
Questionado sobre se Portugal corre o risco de entrar numa situação semelhante à da Grécia, Passos Coelho afirmou: “Teoricamente, é possível. Mas acreditamos que estamos a adoptar as medidas necessárias para evitar tal cenário… Não estou a adoptar mais medidas de austeridade do que as necessárias para alcançar os nossos objectivos”.
Passos Coelho considera que os economistas e políticos portugueses que têm defendido que Portugal devia pedir mais tempo para atingir as suas metas de défice estão “simplesmente errados”, salientando que os credores já concederam a Portugal mais tempo para que o país atinja um défice de 3% em 2014, em vez de 2013.
“Se começarmos a dizer que queremos negociar o memorando [de entendimento], estarei numa posição pior, claro. Olhem para a Grécia. Quando se começa a pedir mais tempo, está-se a dizer que se quer mais dinheiro. Isso significa um novo programa [de resgate] e eu não quero um novo programa”, salientou.
“Para quê pôr em risco todo o processo dizendo: ‘não somos capazes de cumprir os objectivos’? Não é uma alternativa real”, reiterou.
“Tornámos as coisas simplesmente insustentáveis”
O primeiro-ministro considera também que o aumento da concessão de apoios sociais nos últimos anos dificultou a situação e que é preciso cortar alguns apoios.
Em relação aos cortes que estão a ser discutidos nas funções do Estado, Passos Coelho diz que o importante é explicar às pessoas o que está em causa. “O que devemos explicar às pessoas é que o Estado social está em risco se não resolvermos o nosso endividamento insustentável”, sublinhou.
“Se queremos preservar a coesão e as políticas sociais, devemos reduzir o défice e a dívida, reformar a administração do Estado e reduzir alguns benefícios que as pessoas recebem. Os apoios sociais aumentaram bruscamente nos últimos nove anos. Tornámos as coisas simplesmente insustentáveis”, acrescentou.
“Depois de um ano e meio, os resultados em termos sociais são muito duros. Ninguém gosta de estar em recessão. Mas as pessoas vêem o que está a acontecer noutros países. Não querem uma crise política e não querem que o programa falhe”, adiantou o primeiro-ministro.