Notícia
Um Poças com sotaque francês
Para comemorar 100 anos, a mais antiga empresa portuguesa de vinho do Porto que nunca saiu da esfera familiar junta um chefe português e outro francês (ambos com estrela Michelin) num jantar que servirá vinhos do Douro e de Bordéus.
13 de Janeiro de 2018 às 13:00
O Símbolo 2014 é o primeiro tinto de uma parceria da Poças Júnior com o francês Hubert de Boüard. Custa €38. Quem quiser participar no jantar de harmonização de vinhos portugueses e franceses no Pedro Lemos, no Porto, a 17 de janeiro, terá de pagar 110€.
A história do vinho do Porto é tão rica e desconhecida - raio de contradição - que nos obriga a medir o peso de certas afirmações, mas creio que não será errado escrever que a Poças Júnior é a mais antiga empresa ligada ao vinho fino e ao vinho Douro que, criada por portugueses, sempre manteve a estrutura accionista no controlo da mesma família. Face a outras empresas de Gaia com mais de 350 anos e que foram sendo transaccionadas ao longo dos tempo, a Poças, com 100 anos, é, neste aspecto, única. É um detalhe romântico? Talvez, mas dá-se o caso de eu gostar de certo tipo de detalhes.
Aliás, desde que me viciei em provas de Porto no Bar do Binho, em Sintra, fico sempre boquiaberto com a descoberta de vinhos extraordinários provenientes de pequeníssimas, pequenas e médias empresas familiares do Douro que desconhecia. A última, já agora, foi essa coisa esquisita chamada Noble & Murat. Carregado de ignorância, lá fui a São Google tentar deslindar a coisa. E imaginem para onde a net me mandou? Para um calhamaço de 600 páginas, que anda sempre por perto da minha secretária e coberto por outros livros e revistas e que se chama Dicionário Ilustrado do Vinho do Porto (Porto Editora), que tem como autores Carlos Cabral e Manuel Pintão, descendente de Manoel Domingos Poças Júnior, o fundador da empresa que hoje destacamos.
Ora, se o mundo do Porto dá muitas voltas, interessa-me hoje realçar que a Poças Júnior vai, durante 2018, desenvolver um conjunto de iniciativas arrojadas a propósito dos seus 100 anos, sendo que a primeira mete franceses e portugueses num restaurante de prestígio no Porto (o Pedro Lemos), com a possibilidade de qualquer cidadão interessado reservar mesa no jantar do dia 17 de Janeiro.
Como se sabe, a Poças Júnior estabeleceu em 2014 uma parceria com o francês Hubert de Boüard, proprietário do Chateaux Angêlus e La Fleur de Boüard. Este reputado enólogo francês é agora responsável, com o enólogo residente Jorge Poças Pintão, pelos vinhos DOC Douro da Poças, numa estratégia que pretende captar a atenção do mercado nacional e internacional para o potencial vínico da Poças. Apesar do histórico da empresa e da boa memória de alguns consumidores para marcas como Coroa d' Ouro, Poças Reserva ou Porto Colheita, poucos chegariam hoje a um restaurante para pedir um destes vinhos. A participação de um enólogo francês foi a estratégia para inverter essa situação e criar bom ruído à volta da marca.
Tudo começou com serenidade nas marcas-âncora da empresa e, recentemente, foi revelado ao mercado um vinho que é o padrão dessa mesma parceria: o Símbolo 2014. Perante um ano climaticamente difícil, o novo vinho segue a tendência de retirar peso, estrutura e álcool aos vinhos DOC Douro. Está cá a habitual fruta do Douro, sim senhor, mas sem exageros. Aliás, a meu ver, está num registo subtil, à mistura com especiarias e madeira nada impositiva. Na boca, há equilíbrio entre estrutura, álcool e acidez, sendo que, por agora, parece algo curto. Parece. Mas eu já vi vinhos com este perfil que, com o tempo, acabaram por dar coisas encantadoras. De maneira que estamos perante um tinto de perfil mais delicado, que será interessante acompanhar ao longo dos anos para se lhe tirar as medidas todas.
Se o Símbolo é, neste momento, a estrela da companhia, o jantar da próxima semana será um "tête-à-tête" interessante, visto que, de França, do Château Angélus, virá o chefe Alexandre Baumard, que no ano passado conseguiu uma estrela Michelin para o restaurante Logis de La Cadène. Assim, Pedro Lemos vai harmonizar as suas criações com vinhos de Bordéus feitos por Hubert de Boüard e Alexandre Baumard vai trabalhar com os vinhos da Poças.
No marasmo em que caem alguns jantares de apresentação de vinhos, com harmonizações mais ou menos previsíveis, será desafiante provar vinhos de topo com perfis bastante diferentes, assim como sentir a criatividade de cada cozinheiro (ambos com uma estrela Michelin) na ligação dos vinhos com a comida. É uma forma inédita de se iniciar um período de celebrações que decorrerá ao longo do ano, com mais provas especiais e programação cultural variada.
Quando umas poucas empresas do Douro anunciaram parcerias com enólogos franceses, houve gente que achou que tudo isso não passaria de marketing e comunicação. E, em parte, é verdade. Mas, atendendo a que já temos produções regulares de, pelo menos, três produtores, qualquer dia seria interessante fazer-se uma prova focada nesses vinhos com sotaque francês. Não para criar "rankings", que isso já chateia, mas tão somente para dar uma boa conversa. Às vezes, dá jeito.
A história do vinho do Porto é tão rica e desconhecida - raio de contradição - que nos obriga a medir o peso de certas afirmações, mas creio que não será errado escrever que a Poças Júnior é a mais antiga empresa ligada ao vinho fino e ao vinho Douro que, criada por portugueses, sempre manteve a estrutura accionista no controlo da mesma família. Face a outras empresas de Gaia com mais de 350 anos e que foram sendo transaccionadas ao longo dos tempo, a Poças, com 100 anos, é, neste aspecto, única. É um detalhe romântico? Talvez, mas dá-se o caso de eu gostar de certo tipo de detalhes.
Ora, se o mundo do Porto dá muitas voltas, interessa-me hoje realçar que a Poças Júnior vai, durante 2018, desenvolver um conjunto de iniciativas arrojadas a propósito dos seus 100 anos, sendo que a primeira mete franceses e portugueses num restaurante de prestígio no Porto (o Pedro Lemos), com a possibilidade de qualquer cidadão interessado reservar mesa no jantar do dia 17 de Janeiro.
Como se sabe, a Poças Júnior estabeleceu em 2014 uma parceria com o francês Hubert de Boüard, proprietário do Chateaux Angêlus e La Fleur de Boüard. Este reputado enólogo francês é agora responsável, com o enólogo residente Jorge Poças Pintão, pelos vinhos DOC Douro da Poças, numa estratégia que pretende captar a atenção do mercado nacional e internacional para o potencial vínico da Poças. Apesar do histórico da empresa e da boa memória de alguns consumidores para marcas como Coroa d' Ouro, Poças Reserva ou Porto Colheita, poucos chegariam hoje a um restaurante para pedir um destes vinhos. A participação de um enólogo francês foi a estratégia para inverter essa situação e criar bom ruído à volta da marca.
Tudo começou com serenidade nas marcas-âncora da empresa e, recentemente, foi revelado ao mercado um vinho que é o padrão dessa mesma parceria: o Símbolo 2014. Perante um ano climaticamente difícil, o novo vinho segue a tendência de retirar peso, estrutura e álcool aos vinhos DOC Douro. Está cá a habitual fruta do Douro, sim senhor, mas sem exageros. Aliás, a meu ver, está num registo subtil, à mistura com especiarias e madeira nada impositiva. Na boca, há equilíbrio entre estrutura, álcool e acidez, sendo que, por agora, parece algo curto. Parece. Mas eu já vi vinhos com este perfil que, com o tempo, acabaram por dar coisas encantadoras. De maneira que estamos perante um tinto de perfil mais delicado, que será interessante acompanhar ao longo dos anos para se lhe tirar as medidas todas.
Se o Símbolo é, neste momento, a estrela da companhia, o jantar da próxima semana será um "tête-à-tête" interessante, visto que, de França, do Château Angélus, virá o chefe Alexandre Baumard, que no ano passado conseguiu uma estrela Michelin para o restaurante Logis de La Cadène. Assim, Pedro Lemos vai harmonizar as suas criações com vinhos de Bordéus feitos por Hubert de Boüard e Alexandre Baumard vai trabalhar com os vinhos da Poças.
No marasmo em que caem alguns jantares de apresentação de vinhos, com harmonizações mais ou menos previsíveis, será desafiante provar vinhos de topo com perfis bastante diferentes, assim como sentir a criatividade de cada cozinheiro (ambos com uma estrela Michelin) na ligação dos vinhos com a comida. É uma forma inédita de se iniciar um período de celebrações que decorrerá ao longo do ano, com mais provas especiais e programação cultural variada.
Quando umas poucas empresas do Douro anunciaram parcerias com enólogos franceses, houve gente que achou que tudo isso não passaria de marketing e comunicação. E, em parte, é verdade. Mas, atendendo a que já temos produções regulares de, pelo menos, três produtores, qualquer dia seria interessante fazer-se uma prova focada nesses vinhos com sotaque francês. Não para criar "rankings", que isso já chateia, mas tão somente para dar uma boa conversa. Às vezes, dá jeito.