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No Vintage, manda a natureza

A enologia é uma ciência fina, mas, em matéria de Vintage Clássico, quem manda é natureza. O Homem limita-se a explorar as boas graças climáticas três vezes por década.

06 de Maio de 2017 às 13:00
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O sector do vinho do Porto - e, em concreto, aquele que é gerido por famílias inglesas - não costuma conviver com os jornalistas de forma tão informal quanto, por exemplo, outras empresas vitícolas geridas por portugueses. Quer dizer, se um jornalista estiver a fazer uma reportagem sobre a performance dos vinhos nacionais na Escandinávia, pode ligar para o telemóvel de João Portugal Ramos. Caso ele não esteja a medir o tiro em direcção a uma pobre perdiz, atenderá na hora, responderá às questões e ainda contará duas ou três boas anedotas. No caso do vinho do Porto, ligar directamente a Adrian Bridge (Fladgate Partnership) ou a Paul Symington (grupo Symington). Não se faz assim do pé para a mão. É um exercício que requer ponderação e intermediação de outros quadros da empresa.

Se esta é mais ou menos a regra, Adrian Bridge está apostado em ser a inevitável excepção. Aproveitando o facto da Taylor's assinalar os 325 anos, os responsáveis ingleses criaram um novo Tawny que, neste momento, vai de barco a caminho de Londres, anunciaram três "single vintage" de 2015 e ainda organizaram uma "masterclass" sobre vinho do Porto. Face aos hábitos, é muita informação para um pobre jornalista assimilar e descrever. Mas uma coisa é certa: se todas as empresas adoptassem o modelo da "masterclass" à moda da Fladgate, os jornalistas saberiam mais. E sabendo mais escreveriam melhor. E, com mais informação, os consumidores teriam outros critérios na decisão de compra.


A Taylor's enviou esta semana para Londres, a bordo do veleiro do navegador Ricardo Diniz, um barril de 30 litros de um Taylor's 325º Aniversário, Edição Limitada, vinho que será provado num evento em Inglaterra. Estará à venda em Portugal nos próximos dias.


Para esta "masterclass", os responsáveis da Fladgate elegeram a categoria Vintage, que teve como palestrantes o próprio Adrian Bridge (administrador do grupo Fladgate), Nicolas Heat (o director de marketing), David Guimaraens (director de enologia) e António Magalhães, o homem que cuida da saúde de quintas emblemáticas do Douro, considerado por meio mundo como um técnico notável e grande historiador do Douro.

Como estamos perante uma cultura organizacional inglesa, as comunicações de cada um dos responsáveis da Fladgate foram estudadas ao detalhe para suportar teses bem planeadas. Assim sendo, são excelente material de estudo para toda a gente que trabalha no sector, jornalistas e consumidores incluídos.


Se Nicolas Heat apresentou a evolução dos Vintage ao longo do tempo (começando em 1760), Adrian Bridge defendeu que os alicerces para a construção da notoriedade de uma marca passam pela sua associação a uma ou mais quintas emblemáticas; pelo histórico da cotação da marca no estrangeiro; pela gestão familiar continuada; pelo estilo consistente e único e pela liderança nos mercados dos preços altos. Coisa simples, portanto.

Agora, a pergunta fatal é esta: para um vinho com centenas de anos e que hoje tem as melhores tecnologias à sua disposição, podemos elencar com detalhe quais são as condições perfeitas para se fazer um Vintage? A resposta é: não.

António Magalhães estudou e a comparou os registos climáticos de 45 anos em face da produção de Vintage Clássico (crème de la crème), Vintage de Quinta (o segundo escalão de Vintage) e de anos Não Vintage. Vejam lá trabalheira.

Lá que o tempo é determinante para um Vintage, ninguém duvida. Agora, não é possível afirmar-se que se o mês de Janeiro for muito chuvoso e o de Junho completamente seco, por exemplo, isso traduzir-se-á necessariamente num Vintage. Ainda assim, o técnico de viticultura entende que quando as temperaturas médias de Julho são amenas e quando a precipitação em Setembro é inferior a 20 milímetros, há probabilidade do ano ser Vintage. Só isso.


Por seu turno, David Guimaraens, defensor acérrimo da pisa a pé para a qualidade máxima do Vintage e amante de vinhas velhas com muitas castas à mistura, corrobora a ideia de que "um Vintage é a consequência da qualidade do ano", mas não deixa de assinalar que "a credibilidade de uma marca está na sua capacidade de tirar proveito do ano e na escolha do vinho que é engarrafado". Ou seja, no ano climático ninguém manda, mas a realidade é que não há grandes Vintages sem a inteligência dos enólogos.

Ai, caramba, hoje não nos sobra espaço para falar em concreto dos novos vinhos da Taylor's. Terá de ficar para as próximas semanas. O leitor que me perdoe, mas acredite em mim. Para se avaliar correctamente um vinho, é preciso digerir muita informação. Bom, bom seria que os responsáveis da Taylor's colocassem na sua página de internet os documentos da "masterclass". É que, como sabemos, consumidores esclarecidos são melhores consumidores.


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