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Como o Douro comunica o seu vinho

A Quinta do Vallado tem um vinho de topo para vender, o Adelaide, e apostou numa comunicação diferente, contando uma história sedutora. É uma raridade que vai ficar em memória.

José Vegar 01 de Setembro de 2018 às 09:00
Na paisagem contemporânea da comunicação de bens de luxo, saturada por mensagens que invocam sempre os mesmos valores e tentam despertar os mesmos desejos, é um acontecimento quando se cria e se partilha uma história - ou um conteúdo, como agora se diz - que tem bem marcada o cunho da diferença. O acontecimento torna-se ainda mais grandioso quando o que está em comunicação é um vinho e quando os autores são portugueses, dado o conservadorismo que impera no meio.

Os geradores do acontecimento são os proprietários e os enólogos da Quinta do Vallado, um dos grandes produtores do Douro, especialmente João Ferreira A. Ribeiro, Francisco Ferreira e Francisco Olazabal. A história criada pela Quinta do Vallado e publicada na imprensa internacional em forma de narrativa, em página inteira, é muito engraçada. Comecemos pelo objectivo. A ideia era comunicar um dos vinhos de topo da empresa, o Adelaide, cujo nome é uma homenagem à grande dama do Douro, Antónia Adelaide Ferreira, antepassada da geração que agora comanda a empresa. Mas a ideia era também comunicar que a colheita de 2014 do Adelaide vai ficar ainda em guarda, convidando os potenciais investidores e consumidores a inscreverem-se numa lista de espera, que lhes dá preferência na aquisição de três garrafas, quando o vinho for comercializado.

A Vallado podia ter-se ficado pela comunicação institucional, rotineira, mas decidiu criar uma história. Primeiro, encontrou um fio narrativo, que gira à volta do "Killjoy", isto é, do desmancha-prazeres. Com este fio narrativo a dominar toda a história, que se desenvolve em pouco mais de uma dezena de parágrafos encorpados, os autores partilham como um dos três enólogos se recusa a comercializar já o vinho, daí ser o desmancha-prazeres, como esta teimosia vem de como o Douro molda culturas e mentalidades. E de como a região e os seus homens pertencem a um contexto grandioso e indomável.

Toda esta narrativa permite igualmente, claro, invocar D. Adelaide Ferreira e o carácter dos vinhos do Douro. É uma narrativa muito bem escrita e arrebatadora. É também uma prova de que é sempre possível comunicar de outra maneira, seduzindo em vez de aborrecer. No Douro, trabalha-se a sério para o mercado global. A história pode ser lida em www.adelaide-vallado.com.


Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.


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