Notícia
Vashti Bunyan: Círculo fechado
Esquecida quando surgiu, renascida nos nossos dias: Vashti Bunyan, mítica figura da folk, actua hoje em Lisboa e amanhã no Porto.
31 de Outubro de 2015 às 09:00
Algures nos anos 1990, Vashti Bunyan pesquisou pelo seu nome na Internet e ficou surpreendida: "Just Another Diamond Day", o disco a que quase ninguém tinha prestado atenção em 1970, era uma peça de coleccionador, um objecto de culto para gerações e gerações.
A surpresa foi total. Afinal de contas, Vashti, que se apresenta hoje no Teatro Maria Matos, em Lisboa, e amanhã na Culturgest do Porto, exilara-se no campo, desiludida com a indústria musical e apostada em viver de forma simples. "Just Another Diamond Day" vendeu poucas centenas de cópias. Uma injustiça: é uma colecção de canções folk perfeitas, mínimas nos meios (uma guitarra, aqui e ali um violino), máximas na força emocional, o retrato perfeito de uma era em que a vida rural surgia como utopia escapista.
Nos anos 60, em Londres, Vashti foi descoberta por Andrew Loog Oldham, agente dos Rolling Stones, que lhe deu uma canção escrita por Mick Jagger e Keith Richards, "Some Things Just Stick in Your Mind (pop orquestral perfeita que revelava uma voz frágil, cristalina, quase de criança).
Mas Vashti não queria ser uma cantora pop. Antes de fazer "Just Another Diamond Day", levou às últimas consequências o desejo de evasão que marcou a década. Enquanto Londres se entregava ao revivalismo folk, ela e o namorado percorreram o país numa carruagem movida a cavalo. Nessa viagem de ano e meio, Vashti fez as canções que gravaria em três dias, sob a batuta de Joe Boyd, célebre produtor folk. O disco, porém, não teve sucesso e Vashti voltou ao campo.
Durante três décadas não cantou, nem pegou numa guitarra para não se lembrar da carreira falhada. Mas o mundo exterior intrometer-se-ia. Em 2000, "Just Another Diamond Day" foi reeditado em CD (Vashti nem uma cópia do original tinha). Três anos depois, recebeu uma carta e um desenho de Devendra Banhart, então um cantautor desconhecido de São Francisco. Devendra adorava "Just Another Diamond Day" e perguntou a Vashti se devia continuar a fazer canções. Ela respondeu que sim e acabaria a contribuir com vozes para "Rejoicing in the Hands", o espantoso disco que mostrou Devendra ao mundo.
Depois de outras colaborações, Vashti regressou em definitivo em 2005, com "Lookaftering". Levaria nove anos a lançar novo disco. "Heartleap" (2014) foi anunciado como o seu último disco. Tem a candura folk dos anos 60, tem, nas suas canções em que pouco parece acontecer, quietude desajustada destes tempos de correria.
"O objectivo do disco era finalmente aprender uma forma que me permitisse gravar a música que está na minha cabeça, por minha conta", escreveu num comunicado de imprensa. "Não sei ler ou escrever música, nem sei tocar piano com mais do que uma mão ao mesmo tempo, mas adorei poder trabalhar sozinha e fazer o som que queria." Se a carreira de Vashti acabar agora, acaba bem.
A surpresa foi total. Afinal de contas, Vashti, que se apresenta hoje no Teatro Maria Matos, em Lisboa, e amanhã na Culturgest do Porto, exilara-se no campo, desiludida com a indústria musical e apostada em viver de forma simples. "Just Another Diamond Day" vendeu poucas centenas de cópias. Uma injustiça: é uma colecção de canções folk perfeitas, mínimas nos meios (uma guitarra, aqui e ali um violino), máximas na força emocional, o retrato perfeito de uma era em que a vida rural surgia como utopia escapista.
Mas Vashti não queria ser uma cantora pop. Antes de fazer "Just Another Diamond Day", levou às últimas consequências o desejo de evasão que marcou a década. Enquanto Londres se entregava ao revivalismo folk, ela e o namorado percorreram o país numa carruagem movida a cavalo. Nessa viagem de ano e meio, Vashti fez as canções que gravaria em três dias, sob a batuta de Joe Boyd, célebre produtor folk. O disco, porém, não teve sucesso e Vashti voltou ao campo.
Durante três décadas não cantou, nem pegou numa guitarra para não se lembrar da carreira falhada. Mas o mundo exterior intrometer-se-ia. Em 2000, "Just Another Diamond Day" foi reeditado em CD (Vashti nem uma cópia do original tinha). Três anos depois, recebeu uma carta e um desenho de Devendra Banhart, então um cantautor desconhecido de São Francisco. Devendra adorava "Just Another Diamond Day" e perguntou a Vashti se devia continuar a fazer canções. Ela respondeu que sim e acabaria a contribuir com vozes para "Rejoicing in the Hands", o espantoso disco que mostrou Devendra ao mundo.
Depois de outras colaborações, Vashti regressou em definitivo em 2005, com "Lookaftering". Levaria nove anos a lançar novo disco. "Heartleap" (2014) foi anunciado como o seu último disco. Tem a candura folk dos anos 60, tem, nas suas canções em que pouco parece acontecer, quietude desajustada destes tempos de correria.
"O objectivo do disco era finalmente aprender uma forma que me permitisse gravar a música que está na minha cabeça, por minha conta", escreveu num comunicado de imprensa. "Não sei ler ou escrever música, nem sei tocar piano com mais do que uma mão ao mesmo tempo, mas adorei poder trabalhar sozinha e fazer o som que queria." Se a carreira de Vashti acabar agora, acaba bem.