Notícia
Reflexões sobre a dor portuguesa
Manuel Laranjeira e Miguel de Unamuno discorreram, cada um à sua maneira, sobre a singular forma portuguesa de enfrentar a dor e o destino. Este livro reúne as suas reflexões.
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O pessimismo nacional instalou-se. E compreende-se porquê: lendo-se o que escrevia Eça, Fialho de Almeida ou Antero de Quental há mais de um século e olhando para o país de hoje, que se vê? As mesmas inépcias, as mesmas dúvidas, as mesmas cumplicidades, a mesma falta de futuro credível. Nestes dias de sombras, ler os dois textos que se conjugam nesta excelente edição pode servir para percebermos melhor o que corrói Portugal. Manuel Laranjeira e Miguel de Unamuno, separados por uma fronteira, estavam juntos pela amizade. Iberista, Unamuno tinha outras ligações fortes a nomes grandes da cultura portuguesa, de Guerra Junqueiro a António Ferro, de Vitorino Nemésio a António Sérgio. Conhecia bem os labirintos nebulosos onde a alma portuguesa se costumava perder.
Unamuno percebeu, até no universo de um dos grandes autores portugueses, Teixeira de Pascoaes, esse mundo doloroso: "E esta dor é a que une o passado ao futuro." Num outro escrito dedicado a Portugal, Unamuno chegou a escrever: "O povo português tem, como o galego, fama de ser um povo sofrido e resignado, que tudo suporta sem protestar, a não ser passivamente. E, no entanto, há que ter cuidado com povos como esses. A ira mais terrível é a dos mansos." Daí chegamos, claro, a "Um povo suicida". É um texto contundente que nos faz olhar ao espelho: "Portugal é um povo triste, e é-o até quando sorri. A sua literatura, incluindo a sua literatura cómica e jocosa, é uma literatura triste. Portugal é um povo de suicidas, talvez um povo suicida. A vida não tem para ele sentido transcendente. Desejam talvez viver, sim, mas para quê? Mais vale não viver."
Olhando à volta, vendo o fim dos seus amigos portugueses, percebe-se Unamuno. No livro, claro, recupera uma carta de Manuel Laranjeira, que lhe escreve: "Em Portugal, a única crença ainda digna de respeito é a crença - na morte libertadora." Unamuno percorre a alma portuguesa e se cruzarmos as suas palavras às de Manuel Laranjeira temos um quadro que lembra quase "O Grito" de Munch. É um som lancinante sobre uma dor sem presente, passado ou futuro. É uma dor que acompanha os portugueses. E esse, talvez, seja o seu destino.
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