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Em busca da lealdade

James Comey foi director do FBI, tendo sido despedido por Donald Trump. Mas o seu nome esteve em foco por causa da investigação aos e-mails de Hillary Clinton antes das eleições. Memórias pessoais.

08 de Setembro de 2018 às 17:00
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James Comey
Lealdade a toda a prova
Editorial Presença, 300 páginas, 2018

James Comey era, há muito, um homem marcado. O director do FBI foi determinante para, pouco antes das eleições, colocar em causa a campanha de Hillary Clinton. Mas Donald Trump, quando tomou posse, não lhe agradeceu. Viu nele uma ameaça ao seu poder. Muitos reconhecem-lhe um carácter de lealdade à lei americana, que o impediriam de utilizar o poder do FBI no seu próprio interesse ou no de uma facção política. Mas foi talvez por isso que, nos sinuosos corredores do poder em Washington, acabou por tropeçar em si próprio e cair.

O livro retrata-o como um homem íntegro e capaz de rir de si mesmo. Sendo um republicano convicto, os democratas, no entanto, encararam a sua acção anterior às eleições como uma forma de ajudar Trump e o seu partido. Mas, mesmo esses, viram na sua forma de responder perante uma suposta "alta lealdade", a lei, a razão por que combate as pressões de Trump sabendo que isso lhe iria custar o emprego. No livro, parece evidente que acredita que deveria tomar decisões que estavam acima dos seus poderes como director do FBI, em nome da lei. Foi por isso que tomou a decisão de investigar os e-mails de Hillary Clinton, com consequências devastadoras em vésperas eleitorais. Comey foi nomeado por Obama em 2013 como director do FBI, algo que parecia ideal porque era um republicano com credibilidade junto dos democratas.

Nas entrelinhas do livro de Comey, parece ser evidente que ele também acredita que, se não fosse a sua actuação, Clinton poderia ter vencido, apesar das suas evidentes fragilidades políticas. Não o diz claramente, mas as suas explicações parecem por vezes contraditórias. A conferência de 5 de Julho, onde apareceu como investigador e juiz de Hillary Clinton, ao mesmo tempo, foi o seu pecado original. Fez um discurso invulgar para um director do FBI. Tenta justificar-se, porque queria persuadir os americanos que a investigação tinha sido feita de forma "honesta" e não política". Poucos acreditam nisso.

A carta de 28 de Outubro ao Capitólio foi a machadada final em Clinton. A suspeita liquidou-a. Mas fica-se com a dúvida: Comey estava a pensar na investigação ou nos resultados eleitorais? O autor escreve: "Partindo do princípio, como quase toda a gente partiu, de que Hillary Clinton seria eleita Presidente dos EUA em menos de duas semanas, o que aconteceria ao FBI, ao Departamento de Justiça e à própria presidência de Clinton se viesse mais tarde a saber-se, depois do facto consumado, que ela ainda era objecto de investigação por parte do FBI? E se, depois da eleição, viéssemos efectivamente a descobrir informação que demonstrava actividade criminosa passível de dedução de acusação?" Na dúvida, desfez-se Hillary.

Comey defende-se sempre com "uma liderança ética". Escreve Comey: "Mas esses valores - valores como a verdade, a integridade e o respeito pelos outros, para mencionar apenas alguns - funcionam como pontos de referência externos de que os líderes éticos se servem para tomar decisões, principalmente quando estão em causa decisões difíceis nas quais não há uma opinião boa ou fácil." Mais: "Os líderes éticos escolhem uma lealdade a toda a prova a esses valores essenciais, que colocam acima do seu proveito pessoal."

O alvo é, claramente, Donald Trump. Sobre ele, Comey diz: "A presidência de Donald Trump ameaça muito do que esta nação tem de bom. (…) A sua liderança é transaccional, impulsionada pelo seu ego e assente na lealdade pessoal." Tudo o que é o contrário da "liderança ética" que Comey defende. Mas, por trás da "ética", este livro mostra o pântano em que vive hoje os Estados Unidos.



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