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A Maçonaria e o destino de Portugal

José Adelino Maltez, ao abrir as janelas para o universo menos conhecido da Maçonaria, fala de Portugal, dos seus habitantes e das suas elites. Uma obra muito estimulante.

28 de Janeiro de 2017 às 12:15
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José Adelino Maltez,
Liberdade, Pátria, Honra
Chiado Editora,
589 páginas, 2017


A Maçonaria está cheia de luz e de sombras. Nos últimos anos, deixou de ser a sociedade secreta de que pouco se sabia, mas ainda assim continua a manter um grau de opacidade típica onde nem todos conseguem vislumbrar o que desejam. Muito se tem escrito sobre ela mas continua a ser vista em muitos estratos da sociedade como uma organização de contornos quase tenebrosos.

Nesse aspecto, este livro de José Adelino Maltez é tentador: abre janelas para o seu âmago e actividade como raramente se tem visto até hoje. É mais do que um livro sobre a Maçonaria: é uma obra sobre Portugal, os seus sonhos e receios, as suas virtudes e os seus inumeráveis males. O autor é claro: "O principal papel da Maçonaria é fazer ascender à regeneração uma sociedade secreta iniciática, fundada em 1140, e sucessivamente redundada, a república dos portugueses, que durante séculos foi 'gubernanda per regem'. Porque temos de a libertar do presente protectorado, com mais liberdade, mais sociedade e mais coisa pública. Isto é, contribuir para nova refundação de Portugal".

José Adelino Maltez utiliza um esquema muito atraente para falar de inúmeras coisas que evoluem à volta de Portugal e da Maçonaria. Cada capítulo está dividido em pequenas "entradas", que nos atiram para acontecimentos e temas que merecem reflexão durante estes séculos de existência do país. Há pois aqui uma reflexão profunda à volta da portugalidade e do nosso destino colectivo. O autor defende a transparência: "Do que imperfeitamente sei, a Maçonaria, em todos os tempos e em todos os sítios, nunca abdicará de ser uma sociedade iniciática, sob pena de perder a respectiva natureza.

De acordo com as regras que a regem, não pode ser uma sociedade secreta política, em regimes de liberdade que não imponham o dever de resistência, definido pela própria escolástica católico. Assim, seria inconstitucional e antimaçónico qualquer anacronismo de clandestinidade política de maçons, em modelos políticos como o nosso, onde todas as normas fundacionais do Estado de Direito corresponderam aos ideais expressos pelos maçons históricos, nomeadamente na Constituição". E acrescenta: "A Maçonaria é tão secreta quanto os conclaves e as conferências episcopais das várias igrejas. No caso concreto da Igreja Católica, talvez seja importante recordar que só a partir de 1891 os católicos abandonaram a classificação de heresia para os demoliberais e a doutrina social católica obrigou a uma mudança profunda".

Mostrando a profunda ligação da Maçonaria às ideias democráticas em Portugal e no mundo, o autor não deixa de ser contundente sobre alguns maçons. Quando fala do 28 de Maio, por exemplo, recorda: "Por isso é que não gostamos de ler que a maioria dos golpistas do 28 de Maio é de republicanos e o comité revolucionário de Lisboa, praticamente do Grande Oriente Lusitano Unido. (…) Como não queremos compreender que o pior símbolo do Estado Novo, a polícia política, com a tortura e a bufaria, tem, como fundador e conformador, o capitão Agostinho Lourenço, republicano e maçon". Este é um livro culto e inteligente e que nos faz reflectir sobre o nosso país. No meio de uma análise muito estimulante sobre a Maçonaria.

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