A máquina do Partido Comunista da China (PCC), que conta com cerca de 96 milhões de militantes, está a dirigir-se para Pequim, onde decorrerá, a partir de domingo, o XX congresso do partido. Vão reunir-se mais de dois mil delegados naquele que é considerado o evento político mais importante do país e que acontece de cinco em cinco anos.
Neste encontro, Xi Jinping deverá ser nomeado para um terceiro mandato como secretário-geral do partido e presidente da Comissão Militar Central do PCC. Assim, tornar-se-á no dirigente comunista chinês há mais tempo no poder, desde o fim do maoismo, há quase meio século.
"Xi Jinping é considerado o mais forte líder chinês desde a morte do arquiteto e fundador da República Popular da China - Mao Tsé-Tung - em 1976. Nunca houve um líder que tivesse acumulado tanto poder como o atual Presidente", afirma António Caeiro, que foi correspondente da agência Lusa durante 19 anos em Pequim. Essa emergência de um líder forte, explica, corresponde a "uma ideologia do PCC que considera que vivemos num mundo caótico que exige um Estado mais forte que, evidentemente, necessita de um líder forte."
A avaliar pelo que a propaganda chinesa tem veiculado através dos jornais nacionais, o discurso de abertura de Xi Jinping no Congresso será no sentido de mostrar que "a China é um oásis de estabilidade" no panorama internacional. Mas será mesmo assim?
Putin, o amigo rebelde
O Presidente chinês entrará no terceiro mandato num contexto interno e externo que lhe é adverso. Desde logo, o jogo do tabuleiro político internacional sofreu um volte-face com a guerra na Ucrânia. A China, tendo na Rússia um parceiro estratégico, tem assumido uma posição ambígua neste conflito.
Esta semana, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Mao Ning, afirmou numa conferência de imprensa que a China está "preocupada" com os últimos desenvolvimentos da guerra na Ucrânia. O gigante asiático apelou ao diálogo entre as partes beligerantes e mostrou-se disponível para "trabalhar com a comunidade internacional" no sentido de ter um "papel construtivo na redução das tensões".
O próprio Vladimir Putin referiu em setembro, depois de um encontro com Xi Jinping no Uzbequistão, que a China tinha levantado "questões e preocupações" sobre a guerra na Ucrânia, depois de este ter ameaçado usar armas nucleares. Todavia, o Presidente russo elogiou a "posição equilibrada" de Pequim. O líder chinês saiu calado do encontro e assim se tem mantido.