Estamos a conversar precisamente um ano depois do ataque do Hamas a Israel, a 7 de outubro de 2023. Desde então, temos assistido a uma escalada da violência no Médio Oriente. De que forma estes acontecimentos vão contribuir para uma mudança na ordem mundial?
A mudança de uma arquitetura do sistema internacional começou a ser definida no início dos anos 1990, com o desmembramento da União Soviética. Isso resultou numa enorme liberdade de ação por parte dos Estados Unidos que ficaram, subitamente, depois de 40 anos de Guerra Fria, sem um adversário "à altura". Toda a disciplina de contenção, a capacidade de avaliar relações de forças, a prudência - que foram cultivadas entre 1948 e 1991 –, começaram a deslaçar. Fomos entrando, ao longo da década de 1990, numa conceção que, do ponto de vista da teoria do sistema internacional, é muito rara, que é a ideia de uma unipolaridade. A ideia de que só existia um país capaz de ditar as regras para o funcionamento do mundo – os EUA. Essa situação durou anos e aconteceu por adesão dos povos e dos países, mas também através da força.
Mas hoje essa unipolaridade está a ser posta em causa.
Isso aconteceu porque, sobretudo no início deste milénio, os Estados Unidos entraram numa certa desmesura. Estabeleceu-se em Washington a ideia de que "podemos fazer tudo aquilo que quisermos". Isso foi acompanhado por uma grande dificuldade dos americanos em definirem uma agenda estratégica de longo prazo, até mesmo do ponto de vista da defesa dos seus interesses, como potência hegemónica, capaz de preservar as alianças necessárias. Esqueceram-se de uma das coisas fundamentais nas relações internacionais. É que no mundo vivem outros interlocutores que podem ter uma situação de fragilidade hoje, mas amanhã, com as mudanças que a vida comporta, podem tornar-se nossos aliados ou nossos adversários. Qual é hoje o grande adversário dos EUA?