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Uma superfície para a mente humana

Um novo resistente, a Mishmash, vem juntar-se aos criadores portugueses de cadernos e blocos de notas, um território por onde passa muito do conceito de objecto único e limitado.

24 de Dezembro de 2016 às 10:15
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São desencadeadas três formas de resistência quando se cria um caderno de apontamentos nobre e original. A primeira forma é obviamente a da resistência contra a estandardização, já que o papel e a sua formatação em caderno ou bloco se transformaram num dos produtos mais vulgares do mundo. Poderá ser sempre defendido que foi a procura, e o seu desejo supremo de funcionalidade, que assim o determinaram, mas é difícil ignorar o quão feios e sem alma são os blocos e cadernos de hoje.

A segunda forma de resistência é contra a "moleskinização", isto é, contra o "moleskin template", que hoje parece determinar uma percentagem gigantesca dos designers e empresas que se lançam neste tema. Não que o caderno Moleskin e algumas das suas réplicas dignas sejam objectos menores. Pelo contrário, o caderno tem uma sábia mistura de resistência, funcionalidade e poder estético, mas o problema é que o seu fabrico em série lhe retirou uma parte gigantesca do seu encanto.

A terceira forma de resistência, no entanto, é a do combate pela melhor superfície de anotação de ideias, pensamentos, observações e tudo aquilo que a todo o momento povoa a mente humana. Na verdade, a corrente dominante contemporânea diz que a melhor superfície para tal é digital, seja um telemóvel, seja um computador, sejam todos os outros híbridos. É uma tese difícil de manter, dada a falta de funcionalidade e encanto dos objectos referidos, mas impôs-se imperialmente.

Contra o império resiste um bom número de criadores, e alguns dos de vanguarda são portugueses. O mais recente é o Mishmash, www.mishmash.pt, o duo dos designers portuenses Beatriz Barros e Ricardo Barbosa, que entrou neste território com enormes ambições. A Mishmash fez o seu trabalho de casa e sabe que, para triunfar, tem de partilhar o que partilha. Antes do mais, materiais nobres e funcionalidade, adaptada às várias hipóteses de utilização de um caderno de notas. Mas a inovação está, claro, na forma do objecto e na sua estética, que são realmente originais.

No mesmo campeonato da Mishmash, mas há mais tempo por cá, continuam, em sectores diferentes, a Namban, www.nambanproducts.com, e a Um Barra Um, www.umbarraum.com. A Namban mantém os seus materiais de topo e a encadernação japonesa. A Um Barra Um continua a explorar a explosão gráfica das capas, em papel cosido individualmente. O que estes três resistentes mostram são produtos únicos, em séries limitadas, que é o que precisamos.

Repositório gráfico

Uma outra louvável forma de resistência, a da preservação da memória gráfica, tem vindo a ser praticada pela designer gráfica Cristiana Couceiro, em www.tipographia.pt. O lugar virtual é um arquivo visual que procura albergar e partilhar materiais impressos em Portugal nas últimas décadas. Temos os livros, claro, e recordamos no lugar algumas belas capas, mas também cartazes artísticos e publicitários. Há ainda outras secções menos comuns, como as dedicadas às embalagens e à publicidade em geral. O que Couceiro consegue reunir num só espaço é uma enorme montra tipográfica e imagética portuguesa.


*Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa. 

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