Notícia
Uma superfície para a mente humana
Um novo resistente, a Mishmash, vem juntar-se aos criadores portugueses de cadernos e blocos de notas, um território por onde passa muito do conceito de objecto único e limitado.
A segunda forma de resistência é contra a "moleskinização", isto é, contra o "moleskin template", que hoje parece determinar uma percentagem gigantesca dos designers e empresas que se lançam neste tema. Não que o caderno Moleskin e algumas das suas réplicas dignas sejam objectos menores. Pelo contrário, o caderno tem uma sábia mistura de resistência, funcionalidade e poder estético, mas o problema é que o seu fabrico em série lhe retirou uma parte gigantesca do seu encanto.
Contra o império resiste um bom número de criadores, e alguns dos de vanguarda são portugueses. O mais recente é o Mishmash, www.mishmash.pt, o duo dos designers portuenses Beatriz Barros e Ricardo Barbosa, que entrou neste território com enormes ambições. A Mishmash fez o seu trabalho de casa e sabe que, para triunfar, tem de partilhar o que partilha. Antes do mais, materiais nobres e funcionalidade, adaptada às várias hipóteses de utilização de um caderno de notas. Mas a inovação está, claro, na forma do objecto e na sua estética, que são realmente originais.
No mesmo campeonato da Mishmash, mas há mais tempo por cá, continuam, em sectores diferentes, a Namban, www.nambanproducts.com, e a Um Barra Um, www.umbarraum.com. A Namban mantém os seus materiais de topo e a encadernação japonesa. A Um Barra Um continua a explorar a explosão gráfica das capas, em papel cosido individualmente. O que estes três resistentes mostram são produtos únicos, em séries limitadas, que é o que precisamos.
Repositório gráfico
Uma outra louvável forma de resistência, a da preservação da memória gráfica, tem vindo a ser praticada pela designer gráfica Cristiana Couceiro, em www.tipographia.pt. O lugar virtual é um arquivo visual que procura albergar e partilhar materiais impressos em Portugal nas últimas décadas. Temos os livros, claro, e recordamos no lugar algumas belas capas, mas também cartazes artísticos e publicitários. Há ainda outras secções menos comuns, como as dedicadas às embalagens e à publicidade em geral. O que Couceiro consegue reunir num só espaço é uma enorme montra tipográfica e imagética portuguesa.
*Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.