"É quase como ir para outro lado do mundo" e aterrar num país "com outra língua", descreve Ana Cravo, engenheira do ambiente da associação Aldeias de Montanha. "Uma aventura" que "tem de ser ponderada", porque "o interior não é para toda a gente". Exige "capacidade de adaptação". Ana fala com a experiência de quase três anos a residir em Seia, no distrito da Guarda. Ela e o marido, Dan, beneficiaram de um apoio do Estado e instalaram-se em setembro de 2020. Têm 37 e 35 anos, respetivamente. Chegaram de Lisboa "muito entusiasmados". Hoje são "mais realistas".
Seia é o lugar onde se conheceram – a mãe de Ana é dali e os pais de Dan, nascidos na Roménia, tal como ele, fixaram-se no concelho. Com a mudança, o casal quis deixar para trás uma espécie de vazio. "Quando vínhamos cá, voltávamos (a Lisboa) sempre com a sensação de que faltava qualquer coisa". A rotina "de transportes públicos" acorrentada ao trabalho – ela numa consultora, ele numa empresa de serviços financeiros – e a pressão "do mercado imobiliário", com contratos sucessivos, e "cada vez mais longe de Lisboa", empurraram-nos para a Beira Alta, onde Dan obteve colocação numa fábrica de calçado.
Duas crianças iluminam o apartamento em Seia: Gustavo, com três anos, e Inês, de sete meses, que já nasceu na região. Para quem tem filhos, o quotidiano junto da Serra da Estrela "é muito bom", considera a técnica da ADIRAM, associação que reúne nove municípios para o desenvolvimento da rede Aldeias de Montanha. "A mobilidade é muito mais fácil" e existe uma "rede de suporte" mais próxima – a sogra de Ana vive no prédio do lado. Não menos importante: "consegue-se poupar mais" e todos os dias há oportunidade para "descobrir sítios novos", que "não aparecem na internet".