1. É difícil definir o que torna uma pessoa extraordinária: os seus feitos? A sua personalidade? O impacto que causa nos outros? Os acontecimentos invulgares que vive? A maneira como se confronta com momentos históricos ou faz parte deles? O legado especial que deixa?
Fernanda de Castro cumpria todos os requisitos.
Foi uma das primeiras mulheres a afirmar-se de forma fulgurante na cena literária portuguesa, muito jovem, sem usar um pseudónimo nem nenhum subterfúgio. Foi uma mulher que fez história, tendo sido, por exemplo, uma das primeiras a tirar a carta de condução em Portugal.
Era carismática. As pessoas gravitavam em torno dela mesmo que não percebessem porquê. No fim da vida, continuava a dar-se com pessoas mais novas e nunca parecia ter muita idade, mesmo quando já estava confinada a uma cama.
Era talentosa. Escrevia poesia, romances, livros infantojuvenis e, apesar de não saber música, inventava e trauteava canções, fados. Traduziu para português Katherine Mansfield, Rilke, Maeterlinck e muitos outros. Editou uma revista em que contava com a colaboração de amigas artistas, como Sarah Affonso ou Inês Guerreiro.
Era corajosa. Era única, no sentido em que não procurava seguir modas.