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Os que não podem ficar em casa

“Fique em casa” tem sido a expressão que mais ouvi e li durante as últimas semanas. E que, também eu, repeti vezes sem conta. No entanto, quando tinha mesmo de ir à rua, comecei a olhar com outros olhos para os que continuavam a trabalhar.

Filipa Elvas, tripulante da TAP

Filipa Elvas, tripulante da TAP
"Neste momento, sinto que tenho uma missão: levar os passageiros para casa. Corro riscos? Corro. Tenho noção disso, tal como correm outras profissionais, que têm de estar na linha da frente. É um trabalho que tem de ser feito, razão pela qual me voluntariei para trabalhar nesta fase."

Cláudio Costa, enfermeiro do INEM

Cláudio Costa, enfermeiro do INEM
"Para termos sucesso nesta missão, precisamos mesmo da ajuda de todos. Protejam-se!"

José Manuel, taxista, no aeroporto de Lisboa

José Manuel, taxista, no aeroporto de Lisboa
"Não há é trabalho. Entramos aqui de manhã e só temos clientes à noite, os aviões chegam com poucas pessoas. Estamos dispostos a trabalhar, mas não está fácil."

Jorge Costa - Loja do Euro, Estrada de Benfica

Jorge Costa - Loja do Euro, Estrada de Benfica

 "Vejo gente na rua que nem devia andar aqui, toda a gente resolveu agora correr e passear o cão. Tiveram de tirar os bancos de jardim. Há muitas pessoas que ainda não perceberam a gravidade disto."

Ricardo - mini-mercado Girassol de Benfica, na Estrada de Benfica

Ricardo - mini-mercado Girassol de Benfica, na Estrada de Benfica

"Trabalho aqui há dez anos e é para continuar!"

Clara Infante - Farmácia Marques, na Estrada de Benfica.

Clara Infante - Farmácia Marques, na Estrada de Benfica.
"Estamos cá para isso. Esperemos não ter de fechar a porta, que nenhum de nós fique infectado."

Mariana, Eduardo, Luís e José

Mariana, Eduardo, Luís e José
José Teixeira, Loja de Animais, na Estrada de Benfica. "Até deixarem, é para continuar, cumprindo as regras. Até deixarem…"

Kewal Gohar, Mughal Shawarma House, na Estrada de Benfica

Kewal Gohar, Mughal Shawarma House, na Estrada de Benfica
"Continuo a trabalhar todo o dia, das 12h às 23h. Há pouca gente na rua, mas vendo para a Uber Eats, por exemplo."

José António, João Dias, Daniel Carvalho e Rodrigo - talho Super desconto gourmet, na Rua grão Vasco, Benfica.

José António, João Dias, Daniel Carvalho e Rodrigo - talho Super desconto gourmet, na Rua grão Vasco, Benfica.

 "Neste momento precisam de nós, temos de trabalhar."

Vítor Pinto, padaria Papo-seco, na Estrada de Benfica

Vítor Pinto, padaria Papo-seco, na Estrada de Benfica
"Há certas coisas imprescindíveis. Felizmente, trabalho neste ramo, digo felizmente porque a minha mulher trabalha num sítio que teve de fechar e sou eu que tenho de ganhar para tudo. Tenho um filho de 13 anos e temos as contas para pagar. De resto, seja o que Deus quiser."

Joyce Simplício, da Uber Eats

Joyce Simplício, da Uber Eats
"Mesmo que as coisas estejam um pouco fora do controlo, o mundo não pode parar, a gente continua precisando um dos outros para tudo dar certo."

Sérgio Soares, comissário da PSP

Sérgio Soares, comissário da PSP
"É a nossa função, como polícias, estarmos cá para servir o cidadão 24h por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano, com empenho, dedicação, altruísmo e abnegação, sempre em prol do cidadão."

Diogo Preto - funcionário de higiene pública da Junta de Freguesia de Benfica

Diogo Preto - funcionário de higiene pública da Junta de Freguesia de Benfica

 "Trabalhar nesta altura é poder ajudar o próximo e zelar pelos que estão em casa."

Telmo Fernandes e Ismael Correia, funcionários de higiene pública da Junta de Freguesia de Benfica.

Telmo Fernandes e Ismael Correia, funcionários de higiene pública da Junta de Freguesia de Benfica.
"Temos de manter a cidade limpa."

Sérgio Coelho e Emília Oliveira - agentes da Polícia Municipal

Sérgio Coelho e Emília Oliveira - agentes da Polícia Municipal

"Estamos na rua pela sua segurança e pela segurança de todos"

Tiago - guarda-freio da Carris

Tiago - guarda-freio da Carris

 "Temos de trabalhar para levar as pessoas que precisam de ir trabalhar para os hospitais e para os outros trabalhos que não podem parar."

Júlio Roseta, bombeiro-sapador

Júlio Roseta, bombeiro-sapador
"Protejam-se, cuidem-se, fiquem em casa, nós estamos cá para vos apoiar."

Ricardo Sousa, motorista de matérias perigosas

Ricardo Sousa, motorista de matérias perigosas
"Nesta fase em que o país está parado, nós estamos de mãos dadas com a população, confiem em nós!"

Zélia Vila Flor - quiosque na Estrada de Benfica

Zélia Vila Flor - quiosque na Estrada de Benfica
"É a sobrevivência, para nós e para a nossa economia. Porque depois disto tudo vamos ter de renascer outra vez. É um risco vir trabalhar porque tenho dois meninos mas tem de ser."

Américo Reis, funcionário de limpeza, aeroporto de Lisboa

Américo Reis, funcionário de limpeza, aeroporto de Lisboa
"Eu não acho muito bem ter de trabalhar mas se não trabalhar não recebo…"

Maria de Lurdes Pestana - cozinheira no refeitório que a Junta de Freguesia tem para assegurar alimentação aos mais necessitados

Maria de Lurdes Pestana - cozinheira no refeitório que a Junta de Freguesia tem para assegurar alimentação aos mais necessitados
"Estamos a ajudar os outros que precisam de nós, todos juntos somos mais fortes e vamos superar tudo e temos fé que vamos conseguir."

Miguel, agricultor, hortas da cortesia, São João das Lampas

Miguel, agricultor, hortas da cortesia, São João das Lampas
"Eu estou em casa. O trabalho é o mesmo, mas a demanda é maior. As últimas duas semanas têm sido absurdas em termos de procura, o que acaba por ser bom para nós."

Carlos Andorinha e Jorge Santos - coveiros (fazem cremação mas têm nome de coveiro na mesma), Cemitério Alto de São João

Carlos Andorinha e Jorge Santos - coveiros (fazem cremação mas têm nome de coveiro na mesma), Cemitério Alto de São João

 "O nosso trabalho até agora tem sido mais ou menos o normal, é o nosso dia a dia e estamos cá para isso. Não podemos contar só com os enfermeiros porque se também paramos aqui a coisa não vai ficar muito bem. Já nos organizámos e se for preciso já temos 3 equipas - para se a coisa piorar - estamos disponíveis para fazer 24h, esperemos que não, mas se for preciso estamos cá para isso."

João Simões, coveiro, Cemitério Alto de São João

João Simões, coveiro, Cemitério Alto de São João
"Tenho noção dos perigos, custa-me chegar a casa onde tenho a minha família e saber que estive a enterrar pessoas possivelmente infetadas. Mas tem de ser, tanto eu como meu colegas estamos cá para isso."
04 de Abril de 2020 às 10:00
  • ...

"Fique em casa" tem sido a expressão que mais ouvi e li durante as últimas semanas. E que, também eu, repeti vezes sem conta.

No entanto, quando tinha mesmo de ir à rua, comecei a olhar com outros olhos para os que continuavam a trabalhar.

Um sem-número de pessoas que não podiam "ficar em casa", que continuavam a fazer o seu trabalho. O trabalho de sempre. Um trabalho até aqui muitas vezes invisível e subestimado.

Apercebi-me de que, além da comida, dos medicamentos ou da segurança, há tantas coisas essenciais que dávamos como adquiridas no nosso dia a dia e que agora ganham outra visibilidade.

Desde os meus vizinhos, que mantêm vivo o comércio no bairro de Benfica, passando pelo enfermeiro Cláudio - que ajudou no processo de repatriamento de milhares de pessoas do navio cruzeiro MSC Fantasia que atracou na semana passada em Lisboa - e pela Filipa, tripulante da TAP que voou para o Rio de Janeiro com parte dessas pessoas que regressavam ao seu país natal, até ao José, taxista na praça do aeroporto e que mostra o desejo e a vontade de continuar a trabalhar, mas lamenta a falta de clientes.

E estes são só alguns exemplos que nos lembram de que estamos todos ligados. E que nos recordam, em cada uma das suas expressões, que a missão de cada um é essencial para o desfecho desta luta que todos travamos.

Nenhum de nós sabe quando esta luta vai terminar. Mas o que importa isso agora? Importa que estes rostos, rostos que ficam, representam os milhares de pessoas que estão na linha da frente, a lutar e de braço dado com os que têm de ficar em casa, para cuidar do nosso presente. O presente que quero aqui retratar e que vai garantir que "vai ficar tudo bem".

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