Notícia
Os que não podem ficar em casa
“Fique em casa” tem sido a expressão que mais ouvi e li durante as últimas semanas. E que, também eu, repeti vezes sem conta. No entanto, quando tinha mesmo de ir à rua, comecei a olhar com outros olhos para os que continuavam a trabalhar.
Filipa Elvas, tripulante da TAP

Cláudio Costa, enfermeiro do INEM

José Manuel, taxista, no aeroporto de Lisboa

Jorge Costa - Loja do Euro, Estrada de Benfica

"Vejo gente na rua que nem devia andar aqui, toda a gente resolveu agora correr e passear o cão. Tiveram de tirar os bancos de jardim. Há muitas pessoas que ainda não perceberam a gravidade disto."
Ricardo - mini-mercado Girassol de Benfica, na Estrada de Benfica

"Trabalho aqui há dez anos e é para continuar!"
Clara Infante - Farmácia Marques, na Estrada de Benfica.

Mariana, Eduardo, Luís e José

Kewal Gohar, Mughal Shawarma House, na Estrada de Benfica

José António, João Dias, Daniel Carvalho e Rodrigo - talho Super desconto gourmet, na Rua grão Vasco, Benfica.

"Neste momento precisam de nós, temos de trabalhar."
Vítor Pinto, padaria Papo-seco, na Estrada de Benfica

Joyce Simplício, da Uber Eats

Sérgio Soares, comissário da PSP

Diogo Preto - funcionário de higiene pública da Junta de Freguesia de Benfica

"Trabalhar nesta altura é poder ajudar o próximo e zelar pelos que estão em casa."
Telmo Fernandes e Ismael Correia, funcionários de higiene pública da Junta de Freguesia de Benfica.

Sérgio Coelho e Emília Oliveira - agentes da Polícia Municipal

"Estamos na rua pela sua segurança e pela segurança de todos"
Tiago - guarda-freio da Carris

"Temos de trabalhar para levar as pessoas que precisam de ir trabalhar para os hospitais e para os outros trabalhos que não podem parar."
Júlio Roseta, bombeiro-sapador

Ricardo Sousa, motorista de matérias perigosas

Zélia Vila Flor - quiosque na Estrada de Benfica

Américo Reis, funcionário de limpeza, aeroporto de Lisboa

Maria de Lurdes Pestana - cozinheira no refeitório que a Junta de Freguesia tem para assegurar alimentação aos mais necessitados

Miguel, agricultor, hortas da cortesia, São João das Lampas

Carlos Andorinha e Jorge Santos - coveiros (fazem cremação mas têm nome de coveiro na mesma), Cemitério Alto de São João

"O nosso trabalho até agora tem sido mais ou menos o normal, é o nosso dia a dia e estamos cá para isso. Não podemos contar só com os enfermeiros porque se também paramos aqui a coisa não vai ficar muito bem. Já nos organizámos e se for preciso já temos 3 equipas - para se a coisa piorar - estamos disponíveis para fazer 24h, esperemos que não, mas se for preciso estamos cá para isso."
João Simões, coveiro, Cemitério Alto de São João

"Fique em casa" tem sido a expressão que mais ouvi e li durante as últimas semanas. E que, também eu, repeti vezes sem conta.
No entanto, quando tinha mesmo de ir à rua, comecei a olhar com outros olhos para os que continuavam a trabalhar.
Um sem-número de pessoas que não podiam "ficar em casa", que continuavam a fazer o seu trabalho. O trabalho de sempre. Um trabalho até aqui muitas vezes invisível e subestimado.
Apercebi-me de que, além da comida, dos medicamentos ou da segurança, há tantas coisas essenciais que dávamos como adquiridas no nosso dia a dia e que agora ganham outra visibilidade.
Desde os meus vizinhos, que mantêm vivo o comércio no bairro de Benfica, passando pelo enfermeiro Cláudio - que ajudou no processo de repatriamento de milhares de pessoas do navio cruzeiro MSC Fantasia que atracou na semana passada em Lisboa - e pela Filipa, tripulante da TAP que voou para o Rio de Janeiro com parte dessas pessoas que regressavam ao seu país natal, até ao José, taxista na praça do aeroporto e que mostra o desejo e a vontade de continuar a trabalhar, mas lamenta a falta de clientes.
E estes são só alguns exemplos que nos lembram de que estamos todos ligados. E que nos recordam, em cada uma das suas expressões, que a missão de cada um é essencial para o desfecho desta luta que todos travamos.
Nenhum de nós sabe quando esta luta vai terminar. Mas o que importa isso agora? Importa que estes rostos, rostos que ficam, representam os milhares de pessoas que estão na linha da frente, a lutar e de braço dado com os que têm de ficar em casa, para cuidar do nosso presente. O presente que quero aqui retratar e que vai garantir que "vai ficar tudo bem".