Notícia
Operação Condor, um exercício continuado do mal
O trabalho singular do fotógrafo português João Pina, que consegue recuperar o território e as marcas nas vítimas da Operação Condor, pode finalmente ser visto em Portugal. Era tempo, sem dúvida.
14 de Abril de 2017 às 16:00
Para um ser humano comum, o mal, como definido por Arendt e outros, existe como entidade e condição abstracta, a que por vezes, por infelicidade, é submetido. Para o ser humano comum, mais abstracto ainda é o exercício deliberado e consciente do mal, isto é, o exercício do mal de livre vontade, sabendo que a prática viola os poucos valores universais maiores e causa um sofrimento extremo. Assim, mais inimaginável ainda é o exercício do mal como consequência de um plano estratégico concebido com frieza, e para um período de tempo longo. No entanto, apesar da incapacidade do homem comum em aceitar que tal possa acontecer, todos os dias indivíduos e entidades sentem-se legitimados, por construções mentais ou práticas em que se envolvem, para o exercício continuado do mal.
Neste território inconcebível, um dos exemplos maiores é o Plano Condor, ou a Operação Condor, os nomes mais conhecidos de uma estratégia concebida, entre 1968 e os anos 80 do século passado, por vários estados sul-americanos de governo de direita, entre os quais a Argentina, o Chile e o Brasil, para eliminar a oposição e a resistência armada aos seus regimes. A materialização do plano, e as suas consequências, têm ainda muito pouca investigação histórica, mas vários académicos apontam para dados assustadores, a começar pelo número de 60 mil executados clandestinamente.
Foi sobre este território que o fotógrafo português João Pina - vencedor do prémio Estação Imagem 2017 Viana do Castelo com o trabalho "Rio de Janeiro - Preço pelos eventos desportivos" -, estabelecido em Buenos Aires, trabalhou nos últimos anos, num singular esforço de investigação e de criação imagética. O desafio a que Pina se propôs foi o de identificar em imagens o mundo e as marcas do Condor. Teria sido um desafio impossível, pela falta de detalhes e pela extrema dificuldade de reproduzir o exercício do mal em imagens, mas, de modo assombroso, o fotógrafo atingiu o seu objectivo. O que torna o Condor presente para todos nós são duas características do trabalho de Pina. A primeira é a qualidade do reconhecimento no terreno, recuperando os locais, os objectos e alguns dos momentos onde o Condor actuou, ou as marcas que deixou nas pessoas, nas famílias e nas sociedades sul-americanas envolvidas. A segunda é o que mostram os corpos, os rostos e os olhos das vítimas do voo permanente do Condor, uma presença do efeito do mal que não se julgaria possível ser captado por uma máquina fotográfica. Depois de ter viajado por oitos países, e de ter sido alvo de um livro de luxo, o trabalho de Pina pode agora ser visto numa exposição no Torreão Poente da Praça do Comércio, em Lisboa, que inaugura no próximo dia 20, ao mesmo tempo que o livro tem uma nova edição. É um dos momentos do ano em Portugal.
Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.
Neste território inconcebível, um dos exemplos maiores é o Plano Condor, ou a Operação Condor, os nomes mais conhecidos de uma estratégia concebida, entre 1968 e os anos 80 do século passado, por vários estados sul-americanos de governo de direita, entre os quais a Argentina, o Chile e o Brasil, para eliminar a oposição e a resistência armada aos seus regimes. A materialização do plano, e as suas consequências, têm ainda muito pouca investigação histórica, mas vários académicos apontam para dados assustadores, a começar pelo número de 60 mil executados clandestinamente.
Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.