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O testemunho de João Pina

O fotógrafo português João Pina revelou finalmente o seu novo projecto, centrado nas desigualdades e na violência urbana do Rio de Janeiro. As imagens, extremamente poderosas, estão disponíveis numa edição especial para coleccionadores.

João Pina
10 de Fevereiro de 2018 às 09:00
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João Pina, fotógrafo português expatriado, lançou um novo trabalho com o mesmo valor de testemunho de outros anteriores. Há menos de um ano, Pina internacionalizou o seu projecto "Condor" através de um livro de edição limitada e uma exposição itinerante que passou por Lisboa. O trabalho fez uma recuperação memorialística extraordinária da operação que uniu, nos anos 70 e 80 do século passado, alguns governos de direita sul-americanos na repressão violenta e cruel aos seus opositores de esquerda.

As fotografias de Pina deram rosto, por um lado, às vítimas da tortura e da repressão, e, por outro, aos mais variados locais, desde prisões a praças, onde a operação foi sendo executada. O grau de violência e de dor que as imagens transmitem marcou todos aqueles que têm uma cópia do livro, ou viram a exposição.

Há poucos dias, João Pina partilhou os primeiros resultados de um projecto em que continua a lidar com as suas coordenadas essenciais, a revelação da injustiça e da desigualdade, com todo o peso de violência, dor e crueldade que possuem. O cenário, desta vez, é contemporâneo, e brasileiro, mais exactamente os espaços vedados do Rio de Janeiro.

O fotógrafo leva já dez anos de trabalho no projecto, centrado na violência urbana e no confronto espacial entre o Rio turístico, burguês e "bonito", e a cidade da segregação, social económica, das favelas e dos locais abandonados ou de acesso negado.

O título do projecto é "46750" - o número de homicídios registados na cidade no período 2007-2016. No texto que apresenta o seu projecto, Pina diz que a cidade está todos os dias em "guerra civil", caminhando irremediavelmente, para tal, e as fotografias que tirou são as provas do seu olhar. As imagens, extremamente narrativas como sempre, mostram vastas zonas da cidade dominadas por um caos e por uma fealdade urbanística difíceis de imaginar para quem só conhece a habitual ordem estandardizada arquitectónica, de infra-estruturas e de regulação próprias daquilo a que chamamos cidades.

Mas o que as imagens também mostram, no mesmo espaço e com os mesmos personagens, é uma violência quase bárbara e sempre latente. Uma violência animalesca que pode atingir qualquer um. O "46750" está agora em venda limitada, em formato livro para coleccionadores, com versões em português, inglês, francês e espanhol, exclusivamente na morada digital http://46750book.joao-pina.com


Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.


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