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O regresso da cerâmica portuguesa

Uma distinção da UNESCO, o regresso de uma região e uma exposição de um mestre apontam para que uma arte adormecida receba de novo a atenção que merece, e o valor que sempre teve.

30 de Dezembro de 2017 às 15:00
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Nas últimas semanas, a cerâmica portuguesa aumentou de visibilidade. A contribuir para este estado feliz estão vários acontecimentos, onde se destaca, obviamente, o reconhecimento dado pela UNESCO à criação em barro popularmente conhecida como Bonecos de Estremoz. A distinção dada pela UNESCO é a de Património Cultural Imaterial da Humanidade e contempla, oficialmente, a "Produção de Figurado em Barro de Estremoz", à semelhança do que já tinha feito com o cante alentejano e com os chocalhos.

Em termos simples, a atribuição faz com que a produção referida deixe de ser apenas trabalho de barro, como era conhecido pela maioria das pessoas, para passar a ser o que já deveria ser há muito tempo, um património cultural com história e uma arte de enorme valor. Com efeito, a arte tem mais de 300 anos e assenta, fundamentalmente, na criação de figuras em barro, individuais ou em conjunto, segundo uma técnica ancestral. A catalogação das figuras mais padronizadas permitiu chegar, até agora, a mais de cem "bonecos", e no trabalho estão ainda envolvidos alguns artesãos de Estremoz, sendo as mais conhecidas as Irmãs Flores.

Os próximos tempos serão decisivos para dar sentido a esta distinção. Antes do mais, será necessário conseguir a certificação dos artesãos e das suas peças, porque não irá demorar muito até que surjam falsificações, concebidas em série de Espanha à China. Depois, será necessário conseguir que o património imaterial tenha um futuro, isto é, que surjam novos artesãos, o que não será nada fácil.

Ao mesmo tempo que Estremoz consegue um novo patamar, outras regiões fortes e tradicionais da arte do barro português, como São Pedro do Corval e Bisalhães, continuam ainda num patamar demasiado baixo. No entanto, para os lados de Bisalhães, o centro da carismática olaria preta portuguesa, surgiu recentemente uma boa notícia. Estamos a falar do projecto Bisarro, www.bisarro.pt, criado por uma equipa de jovens oleiros, que não só trabalha com este barro tradicional, como recupera objectos utilitários que há muito não se encontravam. É um projecto que merece toda a atenção e apoio.

Finalmente, em Lisboa, também se trabalha para a cerâmica portuguesa. O mais discreto, mas porventura um dos mais dinâmicos, museu dinamizado pela Câmara Municipal de Lisboa, o Bordalo Pinheiro, abriu agora a primeira grande antológica dedicada à cerâmica do mestre Rafael Bordalo Pinheiro. É uma mostra de luxo, estrutural, assente no notável espólio reunido pelos curadores, que assenta em 150 das mais icónicas peças de faiança de Bordalo Pinheiro, bem como num núcleo de azulejos. O que a mostra permite assimilar, entre outros traços, são os cruzamentos de referências de Bordalo Pinheiro, bem como o seu permanente jogo irónico com a sociedade portuguesa do seu tempo. No entanto, acima de tudo, a descoberta maior da exposição é como Bordalo Pinheiro vinca o material a uma ideia criativa desmesurada, conseguindo objectos e figuras que só ele conseguiu criar.


Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.


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