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O que escondemos atrás das grades

É o vislumbre possível do mundo que se esconde atrás das grades, das paredes e das deficiências do sistema prisional português. Um mundo habitado por gente que cometeu erros e está a pagar por eles, mas a quem não é proporcionada uma verdadeira oportunidade de emendar caminho, concluem os autores da série documental “Fechado”, que está em exibição na RTP2
Luís Francisco 14 de Outubro de 2023 às 11:00

No primeiro minuto da série documental "Fechado", que se estreou na RTP2 a 28 de setembro, a expressão que mais vezes encontramos é, sem dúvida, "não autorizado". Em jeito de aviso prévio, os autores deixam uma mensagem: "Durante as filmagens de ‘Fechado’ encontrámos inúmeras limitações, barreiras, muros e impossíveis." Os 12 episódios (o segundo foi emitido a 5 de outubro, o terceiro a 12) são, por isso, "resultado do que foi possível mostrar". E não é pouco, apesar de tudo. Porque no centro da história estão as pessoas, e os depoimentos recolhidos deixam-nos muito em que pensar.

 

Mas por que razão a equipa responsável pelo trabalho sentiu necessidade de avisar que muita coisa ficou por mostrar neste documentário rodado no Estabelecimento Prisional de Caxias? "Porque fomos ouvindo ‘não, não, não’… O documentário fez-se, mas com muitas limitações. Estávamos confinados a um espaço específico, foi muito difícil", descreve João Miller Guerra, realizador e um dos autores de "Fechado", em parceria com Filipa Reis.

 

Regressemos aos fotogramas iniciais do documentário. A listagem é extensa. "Filmagem no pátio – não autorizado"; "Filmagem de atendimento de uma técnica superior – não autorizado". Interno a pesar-se numa enfermaria, despedida de um colega de cela a sair em liberdade, internos a fazerem exercício ao ar livre, no pátio? "Não autorizado." Visita de um advogado, dinâmicas e rotinas de internos numa cela, aberturas de portas por guardas prisionais, zona de convívio de internos, guardas prisionais, cela disciplinar? Adivinhou: "Não autorizado."

 

"Talvez tenhamos conseguido fazer 20 a 30% do que tínhamos imaginado", reforça Pedro Cabeleira, também realizador da série. "Não ficou como tínhamos pensado…, foi-nos barrado o acesso a um conjunto de situações que queríamos retratar. Não consegui filmar uma cela, nem sequer o corredor… Visitei essas zonas, mas sem câmara. Só a imagem do corredor transportava-nos logo para o imaginário que temos das prisões sul-americanas. Nunca tivemos acesso aos ambientes, eram sempre controlados. No ginásio, por exemplo, só estavam as pessoas que obtivemos autorização para filmar. Mais ninguém."

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