No primeiro minuto da série documental "Fechado", que se estreou na RTP2 a 28 de setembro, a expressão que mais vezes encontramos é, sem dúvida, "não autorizado". Em jeito de aviso prévio, os autores deixam uma mensagem: "Durante as filmagens de ‘Fechado’ encontrámos inúmeras limitações, barreiras, muros e impossíveis." Os 12 episódios (o segundo foi emitido a 5 de outubro, o terceiro a 12) são, por isso, "resultado do que foi possível mostrar". E não é pouco, apesar de tudo. Porque no centro da história estão as pessoas, e os depoimentos recolhidos deixam-nos muito em que pensar.
Mas por que razão a equipa responsável pelo trabalho sentiu necessidade de avisar que muita coisa ficou por mostrar neste documentário rodado no Estabelecimento Prisional de Caxias? "Porque fomos ouvindo ‘não, não, não’… O documentário fez-se, mas com muitas limitações. Estávamos confinados a um espaço específico, foi muito difícil", descreve João Miller Guerra, realizador e um dos autores de "Fechado", em parceria com Filipa Reis.
Regressemos aos fotogramas iniciais do documentário. A listagem é extensa. "Filmagem no pátio – não autorizado"; "Filmagem de atendimento de uma técnica superior – não autorizado". Interno a pesar-se numa enfermaria, despedida de um colega de cela a sair em liberdade, internos a fazerem exercício ao ar livre, no pátio? "Não autorizado." Visita de um advogado, dinâmicas e rotinas de internos numa cela, aberturas de portas por guardas prisionais, zona de convívio de internos, guardas prisionais, cela disciplinar? Adivinhou: "Não autorizado."
"Talvez tenhamos conseguido fazer 20 a 30% do que tínhamos imaginado", reforça Pedro Cabeleira, também realizador da série. "Não ficou como tínhamos pensado…, foi-nos barrado o acesso a um conjunto de situações que queríamos retratar. Não consegui filmar uma cela, nem sequer o corredor… Visitei essas zonas, mas sem câmara. Só a imagem do corredor transportava-nos logo para o imaginário que temos das prisões sul-americanas. Nunca tivemos acesso aos ambientes, eram sempre controlados. No ginásio, por exemplo, só estavam as pessoas que obtivemos autorização para filmar. Mais ninguém."