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O direito a não fazer nada

É quando não fazemos nada que temos espaço para pensar, sentir e criar. Parar será tão importante como respirar ou beber água, refere mesmo a psicóloga Susana Jones. Há toda uma vasta literatura sobre o tema. Das “Bucólicas”, de Vergílio, aos sonetos de Petrarca, passando por heróis de banda desenhada como Garfield, o repouso está presente em ficção e ensaio ao longo do tempo – mas continua a gozar de má fama.
Susana Torrão 11 de Agosto de 2023 às 14:45

O sol e o tempo quente convidam às sestas, ao repouso e à preguiça. No entanto, numa sociedade que valoriza a produtividade e o dinamismo, a preguiça goza de má fama. Mas psicólogos, investigadores e artistas são unânimes ao apontar as vantagens que o descanso, seja a dormir ou a aproveitar o tempo ao bel-prazer de cada um, tem para a saúde e bem-estar.

"Parar é tão importante como respirar ou beber água", aponta a psicóloga Susana Jones. E não é preciso esperar pelas férias ou pelo fim de semana para repousar um pouco. Estar deitado na cama a ouvir música, ficar a ver o pôr do sol ou caminhar, são atividades em que se pode exercitar "a arte do ‘dolce far niente’, em que os italianos são especialistas".

A preguiça, enquanto ato de não fazer nada, é essencial para o nosso bem-estar, garante a psicóloga. Sem isso, as pessoas sentem-se "cheias". "Estão preenchidas com medo, com ansiedade…, sem terem espaço para pensar ou sentir", diz Susana Jones, cujo trabalho clínico passa também por ajudar a descobrir esse espaço de liberdade. Mas a preguiça saudável não pode ser confundida com a "ausência de desejo e de vontade", associada a estados depressivos. Nesse caso, a falta de vontade para fazer o que quer que seja é um sintoma que deve ser combatido.

Hoje em dia, é a própria sociedade que nos rouba o espaço para a calma. "Exige que sejamos bons em tudo. Andamos a correr sem saber muito bem para onde". Outras vezes são as próprias pessoas que, numa tentativa de "não pensar e não sentir", querem manter-se ocupadas. "Pode ser com o trabalho, com um ‘hobby’ ou com a prática desportiva levada ao extremo", afirma.

Para Susana Jones, "a arte de não fazer nada" é mais fácil de concretizar quando as pessoas se sentem equilibradas. Sem esse equilíbrio, é ainda mais difícil "desligar". Isso explica a crescente procura por práticas como o yoga e o ‘mindfulness’ e até mesmo o recurso à psicoterapia. As pessoas recorrem a estas atividades por estarem mais informadas, mas também por sentirem uma maior necessidade de abrandar, refere a psicóloga.

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