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Francisco Javier de Olazabal: Se tivesse sido português, tenho impressão de que estaria na política

O trineto de Dona Antónia Ferreirinha nunca teve necessidade de se naturalizar português para fazer parte da história do Douro e da cidade do Porto. Herdou parte da Quinta do Vale Meão da sua trisavó, conhecida por Ferreirinha, teve de reconquistar o resto para a transformar numa marca de sucesso. Os 84 anos não lhe apoquentam a memória, o sentido de humor e a sedução que transmite nas suas narrativas.
Augusto Freitas de Sousa e Paulo Duarte - fotografia 23 de Setembro de 2022 às 11:00

Francisco Olazabal (em basco quer dizer forja grande) esteve sempre ligado à casa da família onde ao longo da carreira foi somando reconhecimento público e privado. O avô Ramon foi o primeiro a vir para Portugal e a tornar-se administrador da Casa Ferreirinha. Os descendentes trilharam um caminho muito próximo.

 

Começamos pela família do seu pai, que lhe trouxe o apelido. De onde é originário?

A minha família é 100% basca. Até ao meu avô só havia apelidos bascos. Era de uma família de Irun, junto à fronteira entre Espanha e França, onde o meu sétimo avô, Domingos de Olazabal, foi o primeiro alcaide. Irun era dinâmica com indústria e muito contrabando. A família e toda a população estavam fortemente envolvidas nessas atividades. Foi uma família com um certo relevo naquela zona. O meu bisavô, como conhecia muito bem as passagens nos Pirenéus, os portos e era carlista, foi nomeado para ser uma espécie de ajudante de campo do pretendente Carlos. Esta disputa começou em 1830 e arrastou-se até à última guerra (houve três) em 1876.

 

O seu avô Ramon de Olazabal y Mendoça foi quem fez a ligação à família de D. Antónia Ferreira, casando com a neta. Mas não vivia em Portugal.

Vivia em Saint-Jean-de-Luz e foi lá que conheceu a minha avó, que era neta da Ferreirinha e filha do conde da Azambuja, que era casado com Maria da Assunção, a única filha da Dona Antónia. Tinha algumas posses, nomeadamente o palácio da família (Arbelaiz), em Irun, que tinha sido queimado durante a guerra e foi depois recuperado pelo meu tio mais velho.

 

Um casamento que envolvia títulos?

A minha avó Maria Luísa Ferreira de Mendoça era filha do conde de Azambuja e neta de Ana de Jesus Maria, infanta de Portugal e do duque de Loulé. Daí as minhas pretensões ao trono de Portugal. [risos]

 

Porque veio o seu avô para Portugal?

Veio em 1920, por uma razão muito simples. Ele pertencia a uma família de doze irmãos. Casou com a minha avó, que tinha onze irmãos. E, para cumprir a tradição da família, teve doze filhos. Vivia dos seus rendimentos e dos da mulher. Mas os rendimentos da minha avó eram muito mais importantes que os dele, que tinha umas quintarolas no País Basco, umas coisas e talvez alguma fortuna. A certa altura percebeu que era preciso olhar mais de perto para os bens da mulher, que tinha uma participação importante na Casa Ferreirinha, na altura chamada Companhia Agrícola e Comercial dos Vinhos do Porto.

 

Também ficou com parte da Quinta do Vale Meão.

Nas partilhas da herança da minha trisavó, as 20 quintas que ela tinha foram distribuídas pelos dois filhos e, as duas maiores, Vesúvio e o Meão, foram, respetivamente, para o filho e filha.

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