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Comprar territórios continua na moda – no século XXI, as empresas substituíram os Estados

Adquirir territórios pela lei do dinheiro deixou de ser uma opção na era moderna. No entanto, as alterações climáticas e o poder económico das grandes multinacionais trazem de novo esse cenário para o palco da geopolítica mundial. E se Donald Trump insistir na ideia de comprar a Gronelândia?
Luís Francisco 13 de Julho de 2024 às 11:00

Em agosto de 2019, o então Presidente dos EUA, Donald Trump, cancelou uma visita de estado à Dinamarca, depois de algumas das mais altas figuras políticas deste país terem comentado com desagrado os rumores de que os americanos estavam a considerar fazer uma oferta para comprar a Gronelândia, a gigantesca ilha ártica situada no Atlântico Norte. "A Gronelândia não está à venda" e "Só pode ser uma piada" foram algumas das declarações públicas feitas por governantes dinamarqueses. Sim, mas a ideia continua viva.

 

Os EUA abriram um consulado na Gronelândia em 2020 e têm autonomia para agir naquele território sob administração dinamarquesa desde que invoquem questões de segurança nacional – uma prerrogativa que ficou plasmada no acordo assinado entre os dois países em 1917 para a compra, pelos EUA, das Índias Ocidentais Dinamarquesas, que passaram a chamar-se Ilhas Virgens dos EUA. A ideia da Administração norte-americana era, na altura, proteger o Canal do Panamá durante a I Guerra Mundial. Quando chegou o segundo grande conflito, a invasão da Dinamarca pela Alemanha levou os EUA, em 1940, a deslocarem tropas para a Gronelândia, evitando a sua anexação pelos nazis. Em 1946 houve mesmo uma oferta assumida, de 100 milhões de dólares, mas não foi aceite.

 

A Gronelândia é gigantesca (mais de dois milhões de quilómetros quadrados de superfície – quase o tamanho da Argentina e praticamente 23,5 vezes a de Portugal), rica em recursos (urânio, ouro, pedras preciosas, terras raras, petróleo e gás natural) e gelada (é, depois da Antártida, a segunda maior reserva de água doce do mundo, na forma de gelo). Mas esta última característica está a mudar, à medida que o Ártico vai perdendo a sua calota polar, abrindo acessos à região e proporcionando novas oportunidades de exploração dos seus recursos. Aguçando o apetite das superpotências.

 

Administrativamente, a Gronelândia é um território autónomo, sob administração dinamarquesa. As sondagens indicam que cerca de dois terços dos seus menos de 60.000 habitantes apoiam a ideia de independência, mas também dão voz à constatação de que a economia da região não será viável sem a subvenção anual que lhe é atribuída pela Dinamarca. Os recursos estão lá, mas não há investimentos que possibilitem explorá-los – do lado dinamarquês, o receio é que investir na ilha seja criar condições para a independência… 

 

Neste cenário, várias empresas dos EUA têm aumentado a sua presença na ilha. Não estão sós: a China, que não tem um papel ativo na borbulhante geopolítica do Ártico, já é o segundo maior parceiro comercial da Gronelândia, depois da Dinamarca. Para assegurar o controlo das matérias-primas e recursos naturais, as empresas dos EUA têm de se mostrar mais competitivas do que as chinesas nos concursos públicos. E se não o conseguirem?

 

"Não é imaginável que os EUA manobrem de forma coerciva sobre a Dinamarca, que é membro da União Europeia e da NATO. Achamos sempre que está fora de questão… Mas regras que achamos ser invioláveis estão a ser violadas, como se está a ver com a Rússia na Ucrânia", alerta Luís Tomé, diretor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Autónoma de Lisboa. 

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