Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque

Carlos Farinha Rodrigues: Temos uma sociedade ainda muito tolerante à pobreza

Há décadas que Carlos Farinha Rodrigues estuda as questões da pobreza e das desigualdades sociais. Todos os anos, este economista analisa os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística, a partir do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, e atualiza o estudo Portugal Desigual, da Fundação Francisco Manuel dos Santos. Os números mais recentes revelam que, em 2023, viviam em Portugal 1,8 milhões de pessoas com menos de 632 euros por mês. O combate à pobreza deve ser um desígnio nacional, defende o professor do ISEG, porque os níveis de desigualdade e de pobreza são "um obstáculo ao crescimento e ao desenvolvimento sustentado" do país.
Filipa Lino e Bruno Colaço - Fotografia 17 de Janeiro de 2025 às 11:00

Há décadas que Carlos Farinha Rodrigues estuda as questões da pobreza e das desigualdades sociais. É, por isso, uma espécie de economista contracorrente. Foca-se nos excluídos, naqueles que estão à margem e que continuam a "não ter voz". Todos os anos, este especialista analisa os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a partir do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento (ICOR), e atualiza o estudo Portugal Desigual, da Fundação Francisco Manuel dos Santos. Os números mais recentes revelam que, em 2023, viviam em Portugal 1,8 milhões de pessoas com menos de 632 euros por mês. O combate à pobreza deve ser um desígnio nacional, defende o professor do ISEG, porque os níveis de desigualdade e de pobreza que temos acabam também por ser "um obstáculo ao crescimento e ao desenvolvimento sustentado" do país.


Enquanto académico, como é que começou a interessar-se pelas questões da pobreza e das desigualdades sociais?

Fui fortemente influenciado no início da minha carreira por uma pessoa que me marcou muito – a professora Manuela Silva –, que me deu aulas no mestrado. Foi ela que me despertou para este tipo de questões. Hoje, não consigo conceber uma visão da economia que não tenha as pessoas em primeiro lugar. Os números são importantes, mas para melhorarmos as condições de vida das pessoas. Sinto-me muito bem nesta pele de um economista que pretende ser o mais rigoroso possível, mas com preocupações sociais. Pugno por uma sociedade mais justa. Esse é o meu ponto de partida.

 

Por defender isso, põe-lhe um rótulo político?

Não. Mas sei que há quem considere que estas questões da pobreza não têm a ver com o discurso económico, são marginais à economia. Eu continuo a achar que o [David] Ricardo tinha razão – o principal problema da economia é a distribuição dos recursos. E, portanto, pugnar por uma sociedade mais justa não é só uma questão de equidade. É também uma questão de eficiência. Hoje estou convencido que uma sociedade com os níveis de desigualdade e de pobreza que temos, é também um obstáculo ao crescimento e ao desenvolvimento sustentado. Pugnar por uma sociedade mais justa, com a menos pobreza e menos desigualdade, é também pugnar por uma economia mais eficiente e mais ao serviço das pessoas. Mas sei que o discurso que acabei de fazer não é aceite por uma parte muito significativa dos economistas. E a verdade é que o problema das desigualdades e da pobreza tem estado muito afastado do discurso principal da economia nos últimos anos.

Ver comentários
Saber mais Carlos Farinha Rodrigues pobreza desigualdades sociais economia INE Fundação Francisco Manuel dos Santos Portugal Desigual ISEG Estratégia Nacional de Combate à Pobreza governo política RSI CSI
Outras Notícias
Mais notícias Negócios Premium
+ Negócios Premium
Capa do Jornal
Publicidade
C•Studio