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Carlinda Leite: O Ministério da Educação deve evitar que se formem escolas de gueto

O plano de recuperação das aprendizagens, apresentado esta semana pelo ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, é “uma grande oportunidade” para corrigir as fragilidades na escola pública detetadas durante a pandemia, considera a especialista em avaliação de aprendizagens Carlinda Leite.
Filipa Lino e Paulo Duarte - fotografia 04 de Junho de 2021 às 11:00

As fragilidades das escolas públicas em Portugal ficaram mais visíveis com a pandemia. Esta crise pode ser uma oportunidade para resolver alguns desses problemas, ou vai agravar ainda mais o estado das coisas?

A pandemia, pelas situações que visibilizou, funcionou como um diagnóstico do sistema. Mostrou, por exemplo, que o acesso à internet e à utilização de tecnologias em educação tinha de ser contemplado, na educação escolar, para todos os alunos poderem usufruir deste recurso. Quem não dominar a literacia digital corre o risco de ficar infoexcluído. Portanto, é importantíssimo que a escola trabalhe estas competências, mas, para isso, tem de ter as condições necessárias. Este diagnóstico da situação terá de levar o Ministério da Educação a criar nas escolas condições que permitam a todos os alunos do ensino público acederem a tecnologias de informação. Por outro lado, serviu também para assinalar que é muito importante que os professores dominem as tecnologias, enquanto processo de apoio ao ensino, às aprendizagens e à própria avaliação dessas aprendizagens. É muito importante trabalhar esta dimensão na formação inicial e contínua de professores.

 

Que impacto tiveram estes dois anos letivos em pandemia na aprendizagem dos alunos portugueses?

Afetou sobretudo as crianças pertencentes a grupos sociais de maior vulnerabilidade. Afetou mesmo aqueles alunos que até tinham um computador em casa, mas que tinham de o partilhar com toda a família. A não existência de um espaço individual para cada membro da família também não ajudou. O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, referiu no Parlamento que os dados do primeiro trimestre de 2021 revelam que a taxa de abandono escolar precoce foi de 6,5%. Estes dados, muito positivos, demonstram que as escolas devem ter feito um esforço enorme para que os alunos não abandonassem os estudos. Conheço o enorme esforço de algumas escolas para que os alunos continuassem a acompanhar as aulas. A Escola Leonardo Coimbra Filho, no Porto, por exemplo, na fase de confinamento, tinha as aulas online e simultaneamente turmas a funcionar presencialmente. Conheço professores que fizeram contactos quase diários com as famílias, quando davam conta de que um aluno não aparecia. Por isso, considero completamente injusto comparar, num "ranking", o lugar de uma escola destas, que tem de dar atenção a todas estas dimensões, com uma escola onde os alunos têm um ponto de partida diferente.

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