Encontrar um parceiro, cuidar dos ovos, procurar comida, escapar de um predador – estas são funções para as quais a comunicação química é determinante. Mas um artigo científico, publicado no ano passado na revista Global Change Biology, veio mostrar que alterações no ecossistema, associadas à mudança climática, tais como aumento de temperatura, maiores concentrações de dióxido de carbono (CO2) e a redução do pH (e consequente acidificação do meio), estão a ter impacto na comunicação química de algumas espécies. É o caso de uma espécie de formigas que mostra mais dificuldades em seguir o carreiro já que a feromona usada para comunicar entra em declínio com o calor, ou de um caranguejo que habita na linha da maré, que viu afetada a capacidade de detetar moléculas químicas relacionadas com a alimentação e a ventilação dos ovos.
"Se olharmos para o processo de comunicação química de um modo sistemático – ou seja, desde a produção dos químicos, à excreção, passando pelo modo como são transmitidos, reconhecidos ou recebidos até à reação que provocam – percebemos que a mudança climática afeta todas as fases da comunicação", explica Christina Roggatz, investigadora da Universidade de Bremen e autora principal do artigo "Becoming nose-blind - Climate change impacts on chemical communication", em entrevista ao Negócios.
Christina Roggatz, ecóloga química marinha, e os restantes investigadores basearam a sua análise na compilação de estudos feitos ao longo das últimas quatro décadas sobre comunicação química nos sistemas terrestre, aquático e marinho. Os dados mostram que todos os sistemas são afetados, mas com níveis de impacto diferentes. "A comunicação química está envolvida em funções muito diversas por isso o impacto da mudança climática não é sempre o mesmo", explica a investigadora. O tipo de efeitos e a sua intensidade pode variar consoante o tipo de moléculas químicas e a função para que são usadas.
"O que vemos de uma forma universal é que todo o processo de comunicação química sofre impactos, sejam eles positivos ou negativos", diz Christina Roggatz.